NOVOS BAIANOS E BEATLES

Galvão, os Novos Baianos, Beatles e a eterna fonte da juventude

O letrista dos Novos Baianos se foi no mesmo mês em que o lançamento de “Love me Do” completou 60 anos, dois ícones, cada um em seu tempo e espaço

Capas dos Novos Baianos e The Beatles.Créditos: Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

No início deste mês de outubro completou exatos 60 anos que os Beatles lançaram o seu primeiro “single” – carinhosamente chamado no Brasil de “compacto simples” – com a canção “Love me Do” no lado A e “P.S. I Love You” no lado B.

Nem o mais otimista dos produtores e críticos poderia imaginar o que aconteceria a partir daí na indústria fonográfica. Os Beatles se tornaram a banda mais famosa e bem sucedida do planeta de todos os tempos, com uma obra renovada a cada álbum.

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É difícil acreditar, por exemplo, que aqueles ingênuos lançamentos do início, da época da Beatlemania, tenham sido gravados pela mesma banda que fez, poucos anos depois, álbuns como o “Sgt. Peppers” ou o Álbum Branco.

Galvão

Um pouco mais à frente, no dia 22 do mesmo mês, o poeta, letrista e escritor Luiz Galvão, fundador dos Novos Baianos, nos deixou, aos 87 anos. Ele foi o fundador e principal letrista da banda que talvez esteja para a nossa música como os Beatles para os ingleses e, é claro, o mundo.

Assim como os talentosos garotos de Liverpool, os nossos Novos Baianos foram os responsáveis por fundir as tradições musicais de seu país com o rock and roll e o R&B americanos. Se os baianos, por aqui, beberam do choro, do frevo e do samba, os Beatles usaram e abusaram das canções folclóricas irlandesas, da música medieval entre outras.

Galvão, por sua vez, assim como Lennon, marcou suas canções com engenhosas letras que falavam diretamente às pessoas. Bastava os versos e “A menina dança” para entrar na história da nossa música:

Quando cheguei tudo, tudo
Tudo estava virado
Apenas viro, me viro
Mas eu mesma viro os olhinhos

...

No canto do cisco, no canto do olho
A menina dança
Dentro da menina
A menina dança

Mas ele fez muito mais como, por exemplo, a bela e engenhosa “O mistério do planeta”:

Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso
Jogando meu corpo no mundo
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto
E passo aos olhos nus
Ou vestidos de lunetas
Passado, presente
Participo sendo o mistério do planeta

Os exemplos são inúmeros e seguem na mesma toada, ou seja, muito suingue, criatividade e um eterno signo jovem que persiste, por mais que envelheçam ou morram os artistas. Quando o mundo ficou pop, colorido e muito mais libertário, no exato momento da explosão dos grandes meios de comunicação de massa, vários interlocutores, entre eles os Novos Baianos e os Beatles estavam de plantão para produzir a trilha que os novos tempos exigiam.

O sucesso e a repercussão de uns e outros foram amplificados de maneiras diferentes por uma simples questão de tempo e espaço. O que é bom de tudo mesmo é que tanto aos dois artistas referidos quanto a muitos outros, ficará sempre reservada a eterna fonte da juventude.

Um prêmio ao talento e à capacidade única de terem traduzido com maestria seu tempo.