Para fugir de agenda com Lula, que esteve com moradores da Favela do Moinho, em São Paulo, na quinta-feira (26) ao anunciar um acordo de moradia para cerca de 900 famílias, o governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) convocou às pressas um ato político para inaugurar uma praça em Lagoinha, a 200 quilômetros da capital, e tirou as crianças da escola para tentar dar aparência que o evento estava lotado.
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"Estar na Favela do Moinho, em São Paulo, foi muito especial. Pude conhecer uma comunidade que representa a força do povo brasileiro, que persiste e luta diariamente por uma vida melhor. Enquanto presidente, tenho a honra e o dever moral de ajudar os moradores dessa comunidade. E é isso que vamos fazer", escreveu Lula sobre a agenda em São Paulo.
Já o flagrante do governador paulista foi feito pelo jornalista Bruno Ribeiro, da Folha de S.Paulo, que publicou o vídeo em suas redes sociais. "O evento político de Tarcísio em Lagoinha-SP, nesta quinta (26), enquanto Lula estava em SP, foi organizado às pressas. Para lotar o ato, a Prefeitura tirou as crianças da escola e levou para a plateia", escreveu o repórter em seu perfil no Instagram.
Em reportagem no diário paulistano, o jornalista afirma que o prefeito Zeca Correa (PL) confirmou que o evento - para inaugurar a obra que ficou pronta no fim do ano passado - foi organizado às pressas e confirmado apenas na véspera.
O prefeito bolsonarista ainda afirmou que convidou políticos da região e "determinou que as crianças da escola municipal da cidade estivessem presentes no ato político, de modo a lotar o ginásio municipal da cidade na hora do discurso de Tarcísio".
No vídeo - e em imagens feitas pelo fotógrafo Allison Sales - é possível ver um grande número de crianças com uniformes escolares no ato. Mesmo assim, grande parte das cadeiras ficou vazia no ato.
Tarcísio, que já participou de atos ao lado de Lula, fugiu nesta semana diante do avanço das negociatas entre Centrão e bolsonaristas para dar início ao "sangramento" de Lula com vistas às eleições de 2026.
Ex-ministro de Bolsonaro, o governador paulista é cortejado pela chamada terceira via, que alia mídia liberal e Faria Lima ao Centrão, como candidato anti-Lula e já teria negociado indulto dar indulto a Bolsonaro em troca dos votos de extremistas que ainda apoiam o ex-presidente - que está inelegível até 2030 e deve ser preso por tentativa de golpe até o fim do ano.
Na inauguração da praça, Tarcísio plantou duas mudas de árvore para pregar a "sustentabilidade" do governo, e em seguida partiu para o ato político no Ginásio Poliesportivo com uma comitiva de cerca de 20 aliados e assessores.
Logo atrás das cadeiras reservadas ao grupo politico, segundo o repórter da Folha, estavam as crianças com os uniformes escolares e as famílias de oito alunos, que conseguiram se organizar para participar da convocação feita às pressas pelo prefeito.
Cassado por abuso de poder econômico
Prefeito da cidade de pouco mais de 5 mil habitantes, localizada no Vale do Paraíba, o bolsonarista Zeca Correia teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral em março deste ano por abuso de poder político e econômico.
Na ação, o Ministério Público cita o uso da tradicional feira agropecuária da cidade, a Expolag, que consumiu mais de R$ 860.368,00 na edição de agosto do ano passado, contra R$ 249.853,00, em 2023.
O Ministério Público Eleitoral também acusou os políticos de distribuição de cestas básicas em período eleitoral, o que é proibido por lei.
Na sentença, a juíza da 128ª Zona Eleitoral, Ana Letícia Oliveira dos Santos, afirma que “analisando as provas, mostra-se patente que as condutas abusivas e vedadas praticadas foram aptas a desequilibrar o resultado das eleições, uma vez que a candidatura dos investigados foi beneficiada, restando violado o princípio da isonomia entre os candidatos”.
O prefeito e o vice, Ivan Carlos Correa, o Ivan do Tonho Branco (União Brasil), que também foi condenado, recorreram da decisão e permanecem nos cargos.
Zeca Correa é apadrinhado pelo presidente da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), André do Prado (PL), que é ligado a Tarcísio e tenta substituir Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como candidato bolsonarista ao Senado em 2026.