OPINIÃO

Pesquisa revela que maioria dos brasileiros tem visões negativas sobre Israel e Netanyahu

A partir dos assuntos e pesquisas relacionados à Israel, há a impressão que, no “conflito” com os palestinos, o Estado Sionista é “vítima”.

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Doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Especialista em Jornalismo pela Faculdade Iguaçu (FI). Autor de quinze livros, entre eles "A ideologia dos noticiários internacionais" (Editora CRV).
Pesquisa revela que maioria dos brasileiros tem visões negativas sobre Israel e Netanyahu
Hitler se transformando em Netanyahu em cartaz levado a protesto contra o genocídio em Gaza em Paris. Sami KARAALI / AFP

Em novembro de 2023, um mês após a Operação Dilúvio de Al-Aqsa, quando o Hamas e outros grupos da resistência palestina, a partir da Faixa de Gaza, romperam o cerco colonial, e protagonizaram uma contraofensiva sem precedentes no sul do Estado de Israel, fiz um procedimento de pesquisa no “Google Trends”, sobre as buscas no Google por internautas brasileiros relacionadas à geopolítica palestina. A ferramenta em questão é utilizada para medir o “interesse de pesquisa” por um determinado termo, tendo como início o ano de 2004.

Constatei que, antes do dia 7 de outubro de 2023, de maneira geral, a geopolítica palestina despertava pouco interesse dos internautas. Também me chamou a atenção o fato de que os assuntos relacionados às buscas pelo termo “Hamas” possuíam forte carga semântica negativa, incluindo a fake news sobre “decapitação de bebês”. Reforçando o estereótipo difundido sobre os árabes no contexto pós-11 de setembro, o termo “Faixa de Gaza” teve, entre os assuntos relacionados, a busca por “terrorismo”.

Por outro lado, a partir dos assuntos e pesquisas relacionados à Israel, há a impressão que, no “conflito” com os palestinos, o Estado Sionista é “vítima”, haja vista a procura pelas palavras “búnquer” (abrigo protegido debaixo da terra feito para resistir a projéteis de guerra) e “rave” (lembrando que, nas manipulações/narrativas midiáticas, o ataque do Hamas às pessoas que estavam numa rave em Israel é considerado como “início” do confronto entre palestinos e israelenses).

Desse modo, foi possível inferir que, na época, as pesquisas online sobre os acontecimentos na Palestina refletiam as tendências dos discursos dos noticiários internacionais da grande mídia. Palestinos foram percebidos como “agressores” e israelenses como “agredidos”.

Ainda em novembro de 2023, um levantamento do instituto Atlas Intel apontou que 58% dos entrevistados acreditavam que o Hamas “tem culpa maior” pela “guerra” contra Israel. Quase 20% afirmaram que ambos os lados são tão culpados. Para 12,5%, a maior responsabilidade foi de Israel. Já 10% dos participantes não souberam responder. Vinte e cinco por cento dos respondentes afirmaram que o sionismo representa uma aspiração legítima do povo judeu; 21,5% não concordaram com a afirmação. A maioria (53,6%) não soube responder.

Os dados apresentados acima não se tratam, necessariamente, de uma surpresa. Um mês após a Operação Dilúvio de Al-Aqsa praticamente todas as informações que a maioria do público brasileiro recebia sobre os acontecimentos na Palestina vinham do Grupo Globo, Folha de São Paulo, Revista Veja e congêneres. Logo, as pessoas, de certa forma, foram induzidas a perceber a geopolítica palestina não a partir de sua historicidade. Mas a partir de sua representação midiática: simplificada, fragmentada e tendenciosa.

No entanto, à medida que as imagens sobre a destruição na Faixa de Gaza realizada pelo Estado de Israel chegaram a um número cada vez maior de pessoas, tornou-se muito complexo para os grandes veículos de comunicação do Ocidente sustentarem suas linhas editoriais favoráveis a Tel Aviv.

Além disso, devido aos esforços de intelectuais e imprensa progressista, entre outros setores, o mundo pôde compreender que os acontecimentos atuais na Palestina não se tratam de uma “política de governo” de Benjamin Netanyahu. O genocídio do povo palestino é um “projeto de Estado”, condição sine qua non do sionismo.

Mesmo na GloboNews, canal oficial da propaganda israelense no Brasil, articulistas historicamente comprometidos com a agenda geopolítica imperialista, como Guga Chacra e Eliane Cantanhêde, já começam a questionar as ações sionistas. Algo impensável em outros contextos informacionais.

Diante desse quadro, não por acaso, pesquisa realizada pelo Pew Research Center, divulgada no início desse mês, revelou que a maioria da população brasileira tem visões negativas sobre Israel e seu primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

De acordo com o estudo, sobre Israel, os índices são 44% com visão “um pouco desfavorável” e 14% com uma visão “muito desfavorável”. Já os brasileiros com uma visão “um pouco favorável” representam 28% dos consultados e os que expressam uma visão “muito favorável” são 4%. Em relação à pergunta “Qual sua confiança em Netanyahu para fazer o que é correto em relação a questões internacionais”, 46% dos participantes responderam “absolutamente nenhuma”, 17% “não muito”, 18% “alguma” e 9% “bastante”.

A partir das reflexões aqui apresentadas, podemos identificar o grau de influência dos discursos da grande mídia nos posicionamentos geopolíticos dos brasileiros. A partir do momento em que a narrativa pró-sionista começou a ser descontruída, também caiu o apoio ao Estado de Israel. Mesmo diante de todas as informações que nos chegam do Oriente Médio, quem ainda apoia a genocídio do povo palestino, não é por falta de conhecimento, mas mau-caratismo mesmo. Não há outra definição.

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