OPINIÃO

Estadão recorre à falsificações geopolíticas para defender Israel - Por Francisco Fernandes Ladeira

Estadão lançou o editorial intitulado "Israel exerce o direito de se defender". Trata-se de uma propaganda de guerra sionista travestida de jornalismo.

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Doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Especialista em Jornalismo pela Faculdade Iguaçu (FI). Autor de quinze livros, entre eles "A ideologia dos noticiários internacionais" (Editora CRV).
Estadão recorre à falsificações geopolíticas para defender Israel - Por Francisco Fernandes Ladeira
Editorial do Estadão e o premiê sionista Benjamin Netanyahu. Reprodução / Rede X Netanyahu

Semana passada, escrevi um texto aqui na Fórum, sobre um abjeto artigo de Mário Sabino, que se referiu à Flotilha da Liberdade, responsável por chamar a atenção do mundo sobre os crimes de Israel em Gaza, como "cruzeiro marítimo dos garotos-propaganda do Hamas". 

Como, na imprensa neoliberal brasileira, nada é tão ruim que não possa piorar, eis que, no domingo (15/6), o Estadão lançou o editorial intitulado "Israel exerce o direito de se defender". Trata-se de uma propaganda de guerra sionista travestida de jornalismo. E, seguindo a tradição do periódico da família Mesquita, é uma propaganda repleta de desinformação. A começar pelo título. 

O editorial se refere ao conflito Israel-Irã, que teve início com ataques que partiram de Tel Aviv. Se há um país que exerce o direito de se defender, portanto, é o Irã. Israel é o agressor. 

Em sequência, no lead, há um grotesco exemplo de  negacionismo geopolítico: "o programa nuclear iraniano é uma ameaça existencial a Israel e, por isso, é um alvo legítimo. Ademais, interromper a escalada nuclear do Irã será um alívio para o mundo".

Sobre as frases acima, basta uma breve análise sobre o histórico de Israel para perceber como a entidade sionista é que representa uma ameaça para o mundo. Em seu "currículo geopolítico", além do genocídio do povo palestino, 
há apoio a golpes de Estado (inclusive no Irã), desestabilização de vizinhos, conluio com ditaduras militares e exportação de técnicas de torturas e de armas ("testadas em combate", tendo a população palestina como "ratos de laboratório"). O Irã, por sua vez, jamais invadiu um território vizinho. 

Já a premissa de o programa nuclear iraniano ser uma ameaça a Israel, consiste numa fake news similar às "armas de destruição em massa de Saddam Hussein", "argumento" utilizado pelos Estados Unidos para a invasão do Iraque em 2003.

Além disso, o editorial do Estadão omite que Israel não é signatário do  Tratado de não proliferação de armas nucleares (TNP). Invertendo a situação,  acusa o Irã (país signatário) de não respeitar o TNP. Se formos lembrar o final da Segunda Guerra, percebemos que, se há um programa nuclear que, de fato, trouxe efeitos negativos para a humanidade, foi o dos
Estados Unidos, principal parceiro sionista.

Outras fake news também estão presentes no editorial, como o chavão de que Israel ataca com "precisão cirúrgica" (Gaza que o diga!), o Irã "pode praticar atentados terroristas" (diga-se de pasagem, uma especialidade sionista, mesmo antes da criação de Israel) e o "regime dos aiatolás prometeu aniquilar Israel". Na verdade, o objetivo é acabar com o sionismo, da mesma forma que, quem visava o fim do nazismo e do apartheid, não desejava o extermínio de alemães e sul-africanos.

Segundo o Estadão, "o histórico do regime iraniano justifica o ceticismo em relação às vias diplomáticas". Mais uma inversão da realidade, pois o país que, historicamente, não respeita qualquer tipo de acordo diplomático é, justamente, Israel.

Diante desse quadro, ainda há quem acredite que Estadão e similares fazem um jornalismo minimamente imparcial e objetivo, capaz de nos oferecer uma luz em meio à desinformação presente na internet. O que a realidade nos mostra é o contrário: a imprensa hegemônica brasileira, sobretudo em relação à geopolítica do Oriente Médio, é a principal reprodutora de fake news.

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