ACHAQUES NO CONGRESSO

Em dobradinha com Motta, Alcolumbre derruba mudanças no IOF e ataca governo Lula: "rechaçado"

Parte da estratégia do Centrão e da bancada bolsonarista de "sangrar" Lula para favorecer Tarcísio, Alcolumbre e Motta promoveram sessões simultâneas no Senado e Câmara para aprovar projetos contra o governo

Hugo Motta e Davi Alcolumbre.Créditos: Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados
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Em dobradinha com Hugo Motta (Republicanos-PB), que comandou a votação a jato do projeto que aumenta o número de deputados, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), enterrou definitivamente a proposta do governo sobre as mudanças da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) ao avalizar a derrubada do decreto presidencial, o que também havia sido feito minutos antes na Câmara.

ENTENDA:
Motta e Alcolumbre pautam Congresso para dar início ao "sangramento" de Lula em prol de Tarcísio
"Provocação infantil": Lindbergh reage ao conchavo de Motta e bolsonaristas sobre IOF; veja vídeo

Parte da estratégia do Centrão e da bancada bolsonarista de "sangrar" Lula (PT), antecipando a disputa presidencial de 2026, Motta e Alcolumbre promoveram as sessões de forma simultânea na noite desta quarta-feira (25).

A estratégia, definida no dia anterior em negociata com Ciro Nogueira, presidente do PP, e Antonio Rueda, que comanda o União, fez com que a Câmara convocasse uma sessão semipresencial para votar a derrubada do decreto do IOF.

Já o Senado incluiu o decreto de Lula – que buscava ajustar as contas públicas – como item extra na pauta assim que Alcolumbre recebeu o projeto de decreto legislativo (PDL) que suspendia o aumento do IOF, relatado pelo bolsonarista Coronel Chrisóstomo (PL-RO) e aprovado pela Câmara pouco antes naquela noite.

O presidente do Senado ainda atacou o governo Lula para comemorar com os bolsonaristas e o Centrão a aprovação da derrubada do decreto.

"Esse decreto começou mal. O governo editou um decreto que foi rapidamente rechaçado pela sociedade brasileira. E reconheço que, muitas das vezes, sem entender o que é o decreto do IOF, muitos daqueles que foram colocados contrários ao decreto nem tinham conhecimento do que estava escrito nele", afirmou.

Alcolumbre, no entanto, esconde que o governo negociou com o Congresso e editou um novo decreto, com cobrança de 3,5% de IOF em cartões internacionais – alíquota que era de 6,38% no governo Bolsonaro. Mas a proposta virou álibi para Ciro Nogueira e Rueda cooptarem o Centrão e os bolsonaristas, antecipando o debate presidencial em prol de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), o preferido da terceira via anti-Lula.

Presente na sessão ao lado de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL) deu o tom para os ataques ao governo, fazendo eco à Faria Lima sobre o "aumento de impostos".

"Nós temos uma carga tributária de país de primeiro mundo com serviços de segundo e terceiro mundo. Não é possível que, num orçamento de mais de R$1 trilhão, não se encontre o que cortar. O povo não aguenta mais pagar imposto", disse Nogueira, que faz coro com os neoliberais e o lobby para cortes de recursos de programas sociais e dos aumentos reais do salário mínimo e da aposentadoria.

"Sangrar Lula"

A proposta que descumpriu o acordo e derrubou o decreto de Lula sobre o IOF foi aprovada em sessão semipresencial na Câmara dos Deputados por 383 votos a 98, evidenciando uma base totalmente fragilizada.

No fim da noite de terça-feira (24), Motta e Alcolumbre deram início ao projeto do Centrão, aliado à chamada terceira via – que une ainda Faria Lima e mídia liberal –, para iniciar o "sangramento" de Lula e favorecer Tarcísio de Freitas na disputa presidencial em 2026.

A antecipação da disputa presidencial com pautas-bomba no Congresso é articulada pelo ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL), o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, e por Antônio Rueda, que comanda o União Brasil.

As duas siglas se uniram em abril em uma federação, que hoje conta com a maior bancada na Câmara, com 104 deputados, além de 14 senadores.

Nogueira e Rueda iniciaram um levante para cooptar quadros do Centrão e da direita para antecipar as eleições e implodir a base do governo, que conta com partidos de centro, a partir do segundo semestre de 2025, mais de um ano antes da disputa eleitoral.

Na segunda-feira, os dois se reuniram com os presidentes do Republicanos, Marcos Pereira, e do MDB, Baleia Rossi, para articular a adesão das duas siglas, que têm cargos no governo Lula – o PP também comanda uma pasta, a do Esportes, com André Fufuca (PP-MA).

“Em primeiro lugar, queremos alinhar os palanques estaduais para as eleições do próximo ano; em segundo, ter uma atuação conjunta no Congresso. Isso é importante para fazer uma frente desses quatro partidos", disse Nogueira à jornalista Vera Rosa, do Estadão, confirmando a articulação com o Congresso.

“O governador Tarcísio só vai ser candidato à sucessão de Lula se tiver o apoio do presidente Bolsonaro lá na frente. Agora, eu defendo que os nossos partidos escolham o mesmo nome para podermos estar juntos na campanha”, emendou Nogueira, ciente que Bolsonaro já desistiu da disputa em razão da inelegibilidade e iminente prisão.

Bolsonaro já tem procurado postulantes da direita, como o próprio Tarcísio e Ronaldo Caiado (União-GO), para trocar o apoio da bancada e de sua base de votos por indulto a quem vença Lula e chegue ao Planalto. O ex-presidente também tem interesse em montar uma base forte no Senado para levar adiante o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) considerados inimigos pelo clã, como Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Gilmar Mendes.

Pautas-bomba

Após a reunião, já no fim da noite de terça, às 23h35, Hugo Motta foi às redes anunciar a pauta-bomba da sessão da Câmara nesta quarta-feira (25) que daria início ao "sangramento" de Lula.

Motta surpreendeu até deputados oposicionistas ao pautar, entre outros, o PDL que enterrou definitivamente a proposta do governo de elevar o Imposto de Operações Financeiras, o IOF, para fazer o ajuste das contas públicas – como ele próprio e a terceira via cobram na frente das câmeras.

O início da pressão sobre o governo Lula foi comemorado pelo líder do PP na Câmara, sinalizando o conchavo do Centrão. "O Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, tem a prerrogativa de estabelecer a pauta da Câmara e o Plenário soberano e democrático de votar as matérias conforme o sentimento da população Brasileira. Vamos ao voto", publicou no X já na madrugada desta quarta-feira, à 1h05.

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