Cultuar ladrão rico é apologia ao crime?
Jordan Belford, o “Lobo de Wall Street", é cultuado pelos ricos, enquanto MCS brasileiros são criminalizados pelo sistema
Idolatrar um condenado por crimes do mercado financeiro não pode ser considerado apologia ao crime? Essa foi a pergunta que veio à minha cabeça, quando ao caminhar pelo Centro do Rio me deparei com uma vitrine de um sebo de livros, notando uma capa que estampava um livro dos maiores ladrões do mercado financeiro, Jordan Belford.
Então fiz uma relação com o atual contexto, em que dois artistas brasileiros, MC Poze do Rodo e Oruam são acusados de praticarem apologia ao crime organizado e de terem associação com facções criminosas. Poze do Rodo e Oruam sofrem com a criminalização direcionada aos que vêm da favela, sendo perseguidos pelo mesmo sistema que os alçou ao estrelato e fama, sistema esse que ganha muito dinheiro com seus respectivos trabalhos. Eles são da favela, pretos e filhos de traficantes.
Já Jordan Belfort é um estadunidense branco, que nos anos 1990, como corretor de bolsa de valores, em seu país, foi responsável por inúmeras fraudes financeiras. Foi acusado de manipulação no mercado financeiro dos EUA, causando prejuízo de mais de US$ 200 milhões, hoje, cerca de R$ 1,1 bilhão. Belford foi preso, julgado, cumpriu pena de dois anos e virou informante do FBI.
Sua história virou filme em 2013, sendo ele representado na telona por Leonardo Di Caprio, que conquistou o Oscar de melhor ator por interpretar o golpista.
Jordan Belford seguiu sua vida como palestrante, aqui no Brasil já se tornou arroz de festa nas palestras voltadas para traders e alpinistas da Faria Lima. Ele cobra para contar sobre seus golpes entre US$ 100 mil e 200 mil.
Em São Paulo, foi realizado no Anhembi, no final de janeiro de 2025, o evento Ebulição, com objetivo de promover o empreendedorismo. Jordan foi um dos palestrantes, junto com o economista Paulo Guedes, sim, ele mesmo.
Um sujeito que roubou pessoas e segue ganhando grana e contando como enganou suas vítimas é adorado pela elite branca do Brasil. Enquanto isso, Poze e Oruam são alçados como a personificação do crime, de tudo que é ruim, apesar de serem também empreendedores culturais. Já Jordan Belford é herói para a Faria Lima.