Palestina: régua moral de nosso tempo - Por Francisco Fernandes Ladeira
Quando se aborda a geopolítica palestina, não estamos falando sobre posicionamento ideológico: esquerda, direita ou centro. É sobre nossa própria humanidade. Quem defende Israel, já perdeu essa humanidade.
No dia 7 de outubro de 2023, quando ocorreu a Operação Dilúvio de Al-Aqsa, protagonizada pelo Hamas e outros grupos da resistência palestina, no sul do Estado de Israel, houve quem ficasse do lado do colonizador sionista. Inclusive na esquerda.
Embora equivocada, na época, esse tipo de posicionamento poderia até ser compreensível. Oito décadas de genocídio ocultadas pelos grandes veículos de comunicação ocidentais levaram a uma distorção que induziu muitos a enxergarem uma outra realidade geopolítica na Palestina. Lembrando Malcolm X, o público foi incentivado a amar os opressores e a odiar os oprimidos.
Hoje, mais de um ano e meio depois, não há como defender Israel e justificar as atrocidades sionistas. O mundo assiste a um genocídio transmitido ao vivo, televisionado e fartamente registrado na internet. Mais explícito, impossível.
Mesmo assim, outro dia, uma defensora de Israel – que se intitula “inteligente” e “cristã” – me convidou a fazer um “exercício honesto de reflexão intelectual” sobre os “atos torpes” do lado que defendo (palestino) e considerar os “argumentos” a favor de Israel.
Diante de minha (óbvia) recusa em pensar sobre os “argumentos” de Israel, ela prontamente respondeu: “nenhum argumento seria capaz de convencer quem já decidiu no que quer acreditar”.
Não se trata de “acreditar” no lado palestino, como se houvesse um conflito entre duas forças equivalentes. Não existe relativação de genocídio. Nessa mesma linha, em outros debates, eu também teria que levar em consideração os “argumentos” dos senhores de escravos, os “motivos” do apartheid e os “propósitos” de Hitler. Seria algo tipo “esse pessoal matou milhões, outros milhões foram escravizados, negros foram segregados, mas, num exercício honesto de reflexão intelectual, temos que ouvir o outro lado”. Patético!
Quando se aborda a geopolítica palestina, não estamos falando sobre posicionamento ideológico: esquerda, direita ou centro. É sobre nossa própria humanidade. Quem defende Israel, já perdeu essa humanidade.
Remetendo a uma fala de Breno Altman, que intitula este texto, a Palestina é a régua moral de nosso tempo. Nunca foi tão fácil saber quem está do lado certo da história. Diante do genocídio, ser pró-sionismo não é ser “inteligente”; tampouco “cristão” – a não ser que se distorça a mensagem de Jesus.
Aliás, sionismo não é motivo de debates, com dois lados expondo seus argumentos. Não é questão de crença ou opinião. Sionismo não se discute; sionismo se combate.