PLANO DE SAÚDE

Planos de Saúde: um paciente que perdeu a paciência

Ter um plano de saúde no Brasil é um exercício de paciência que faria qualquer monge tibetano arrancar os cabelos

Plano de Saúde.Créditos: Grok
Escrito en OPINIÃO el

Ter um plano de saúde no Brasil é um exercício de paciência que faria qualquer monge tibetano arrancar os cabelos. É um processo burocrático tão tortuoso que deixaria Kafka de joelhos, aplaudindo de pé com lágrimas de emoção.

Você pede o reembolso de uma consulta, e o plano de saúde responde como um funcionário público pós-almoço: exigente e com um leve toque de sadismo.

A primeira etapa do processo é até um pedido razoável — a nota fiscal da consulta. Até aí, tudo bem. Eles só querem saber se fui mesmo ao médico ou se estou tentando transformar uma ida ao boteco em tratamento de saúde. Mas isso é apenas a isca. Quando você entrega a nota, eles pedem um relatório médico detalhado, descrevendo não apenas o motivo da consulta, mas também uma tese de mestrado sobre a evolução da sua doença desde o século XIX até hoje.

“Não basta dizer que o paciente foi porque estava com dor de cabeça”, explica o atendimento. “Precisamos saber se essa dor de cabeça começou durante um episódio de calor, ou se há um histórico familiar de enxaqueca que possa ser comprovado em cartório.”

Você entrega o relatório médico, achando que finalmente vai receber o reembolso. Agora, eles querem uma declaração de que a consulta foi presencial ou online. Aqui, você começa a perceber que algo está muito errado. Porque, aparentemente, o plano de saúde acredita que médicos são entidades místicas capazes de se manifestar por telepatia.

Mas você é paciente, não desiste. Redige a declaração, carimba, reconhece firma, leva para o Vaticano para uma benção papal e devolve. Agora vai! - você pensa. Errado de novo. Porque, claro, falta a CID: Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde.

Como pude esquecer disso? É um código secreto da medicina, um número cabalístico que transforma suas hemorróidas em uma sequência alfanumérica digna de um enigma maçônico. Você não está enfermo — você é a enfermidade Z45.9, subcategoria B.

Então, você volta ao médico, que, a essa altura, já está preparando um atestado para interná-lo em um sanatório. Com todos os documentos em mãos, envia o pedido de reembolso. Pausa teatral digna de thriller. Após semanas de espera, resolve ligar para a central de atendimento e ouve a seguinte frase:

“Senhor, está faltando o aceite de sua requisição pela Agência Nacional de Saúde Suplementar. A solicitação foi negada.”

Moral da história: sai mais barato não ser reembolsado.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar