§ Após os indiciamentos, começaram as orações. Os adoradores de pneus ficarão, a partir de agora, em vigília total. Façamos todos a prece que o Messias nos ensinou:
"Pneu nosso que estais no chão,
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Santificado seja o asfalto.
Venha a nós o teu rodar,
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Seja feita a tua frenagem,
Assim na terra como na estrada.
A borracha nossa de cada dia nos dai hoje,
Perdoai as nossas derrapadas,
Assim como perdoamos quem fura os bloqueios.
E não nos deixei cair em falta de tração
Mas livrai-nos dos furos.
Amém."
§ Há alguns anos, uma amiga decidiu viajar para Israel. Jovem, mas com uma situação financeira confortável, pagou as passagens e a estadia do próprio bolso. Ao desembarcar no aeroporto de Tel Aviv, foi submetida a uma revista minuciosa. Em seguida, uma militar a interrogou, começando por perguntar quem havia financiado a viagem. A amiga afirmou que os recursos eram dela. Não acreditaram. Por fim, a tenente perguntou por que ela não estava no serviço militar brasileiro. Aparentemente, a resposta não foi compreendida, já que a colocaram no primeiro voo de volta para o Rio de Janeiro. Nem deu tempo de usar o adaptador de tomada.
§ Quando eu era adolescente, ficava contando os minutos para ir ao cinema. Meu pai tinha um empregado que fazia bico como porteiro noturno no Cine Gazeta. Um dia, ele me botou para dentro na fita (era assim que chamavam longa-metragem na época) "A Piscina", com Romy Schneider (em pelo). O fato mudou minha vida. O cinema, para mim, passou a ser apreciar beldades nuas. De uns tempos para cá, as pessoas preferem assistir violência na telona: tiro de 12, granada, enforcamento, decapitação. E, quanto mais realista, e em close, melhor. Não sou antropólogo para saber o que houve com a sociedade para querer trocar a libidinosidade pela crueldade. O real, por seu lado, está aí para todos presenciarem: num mundo cada vez mais moralista, a nudez ofende. Mas as serras elétricas, e a polícia do Tarcísio, são aplaudidas de pé.
§ A Seleção brasileira virou a pátria de Crocs. Fico imaginando como seriam, em 2024, os artigos de fundo do Nelson Rodrigues sobre o pífio desempenho dos canarinhos. Dizem os influencers que o problema é a panela entre os brasileiros europeizados. Mandariam mais do que o próprio Dorival. Não posso assinar embaixo, meu negócio nunca foi crônica esportiva. No entanto, faz um certo sentido. Que venham então treinadores que não precisem bater continência à CBF. Abel Ferreira e Artur Jorge teriam tudo para voltar a colocar chuteiras em um escrete que agora joga de chinelos de gosto duvidoso.
