Segundo um conhecido jargão, é bastante complexo (e às vezes controverso) analisar um determinado acontecimento histórico no chamado “calor dos fatos”, isto é, enquanto está em pleno desenvolvimento. No entanto, em se tratando do conflito Israel-Palestina (ou melhor, do genocídio do povo palestino por parte do Estado de Israel) tal análise é urgente e necessária. Este é o objetivo do livro “Contra o Sionismo: Breve história de uma doutrina colonial e racista”, de Breno Altman, jornalista e fundador do site Opera Mundi.
Conforme aponta o autor, logo na primeira frase de sua obra, trata-se de um livro de combate, cujo objetivo, já indicado no título, é demonstrar o caráter colonial e racista do movimento sionista, doutrina que está por trás da formação do Estado de Israel, em 1948, em um território há séculos ocupado, majoritariamente, por árabes palestinos.
Te podría interesar
Desse modo, podemos considerar o sionismo como uma doutrina colonial, pois seu projeto maior nunca foi dividir a região da Palestina com os palestinos (com a criação de dois estados, conforme proposta da ONU), mas ocupar toda a região que considera a “Israel histórica”, expulsando de lá sua população autóctone (ou mesmo eliminando estes indivíduos, por meio de um processo de limpeza étnica). Praticamente o mesmo modus operandi dos britânicos nos Estados Unidos e na Austrália, por exemplo. Não por acaso, a premissa sionista “um povo sem terra para uma terra sem povo” já demonstrava o total desprezo pelos árabes palestinos.
Os fatos corroboram o que foi dito no parágrafo anterior. Desde que surgiu, Israel expandiu seu território, de 53% para 100% da Palestina; inclusive ocupando, após a “Guerra dos Seis Dias”, em 1967, áreas da Síria – Colinas de Golã – e do Egito – Península do Sinai (devolvida no início da década de 1980).
Te podría interesar
De acordo com Altman, Israel não é um projeto de “libertação nacional dos judeus”, conforme capciosamente apregoa o discurso sionista, mas a concretização de um “Estado racial”, baseado na supremacia dos judeus sobre os demais povos que habitam seu território (especialmente os árabes palestinos, que constituem 15% da população). Para corroborar seu argumento, o autor cita os múltiplos mecanismos segregacionistas existentes em Israel: Lei de cidadania e entrada em Israel, Lei do retorno, Lei de Terras, Lei da Nakba e Leis de Emergência.
Em 2018, Israel foi definido como “estado-nação do povo Judeu”, decretando, assim, que apenas os judeus têm direito à autodeterminação, cabendo as minorias nacionais aceitarem um papel subalterno. Nem os nazistas forma tão ousados, pois a Alemanha, na época de Hitler, não foi declarada um “estado ariano”.
No último capítulo do livro, Breno Altman descontrói o maior argumento utilizado pelo sionismo contra seus opositores: a acusação de antissemitismo (ou seja, o preconceito ou ódio aos judeus, cuja principal manifestação foi o Holocausto).
Segundo Altman (que, diga-se de passagem, é judeu), o antissemitismo surgiu na Europa Antiga (portanto, muito antes da criação do Estado de Israel) pelo fato de os judeus constituírem um “povo-classe” de mercadores e usuários, que não vivia do trabalho produtivo, enriquecia com a renda alheia e asfixiava com a cobrança de juros as frações rurais em dificuldades (o que hoje conhecemos como “banqueiros”). Por outro lado, ser antissionista é simplesmente se opor ao racista e colonialista Estado de Israel.
Isso posto, Altman conclui que o único caminho possível para construir um futuro democrático, soberano e laico para toda a região da Palestina, tanto para árabes, quanto para judeus, está na luta implacável contra as ideias e as instituições do apartheid sionista. Só assim haverá uma paz justa e duradoura!