OPINIÃO

A política externa de Lula na grande mídia – Por Francisco Fernandes Ladeira

É fato: Lula, hoje, é o maior nome da geopolítica mundial. No entanto, a grande mídia brasileira apresenta outra realidade.

Escrito en OPINIÃO el

Em recente editorial da Fórum, Renato Rovai afirmou que, se tal cargo existisse, Lula seria "presidente do mundo". Não é exagero. Os (globalmente aclamados) discursos do mandatário brasileiro, favorável às históricas demandas dos países pobres, pelo fim da guerra na Ucrânia, em defesa da criação do Estado Palestino e pela liberdade de Julian Assange sinalizam um novo tempo nas relações internacionais. É fato: Lula, hoje, é o maior nome da geopolítica mundial. No entanto, a grande mídia brasileira apresenta outra realidade.

Aliás, se dependesse dos articulistas de nossos principais veículos de imprensa, o Brasil nem seria um ator expressivo no cenário internacional, ficaríamos limitados à nossa mera insignificância. Foi o que escreveu há alguns meses um colunista da Folha de S. Paulo, para quem o Brasil (potência regional) deveria se abster de ser protagonista na geopolítica global, se voltando apenas para questões internas. Típico exemplo do clássico complexo de vira-lata. Mas as idiossincrasias não param por aí.

Assim como em seus dois primeiros mandatos, atualmente, Lula tem privilegiado as alianças Sul-Sul (entre países periféricos). Nesse sentido, ele convocou uma cúpula de presidentes sul-americanos, realizada no último mês de maio, em Brasília. Como era de se esperar, a despeito da necessidade histórica e estratégica de o Brasil se aproximar de seus vizinhos, foram inúmeros ataques ao evento, principalmente em relação ao encontro entre Lula e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (equivocadamente rotulado como "ditador" na imprensa hegemônica).

Nesse caso, não se trata apenas de um posicionamento sobre as relações internacionais, mas de um verdadeiro "terraplanismo geopolítico", o que significa tentar adaptar a realidade a uma determinada ideologia.

Podemos concordar ou discordar sobre a forma como Maduro conduz seu país.

Porém a Venezuela não é uma "ditadura"; tampouco seu presidente é "ditador". Conforme já apontei no livro A ideologia dos noticiários internacionais, após procedimento de análise do discurso midiático, a denominação de um país como "ditadura" ou "democracia", na grande imprensa brasileira, não obedece a critérios técnicos ou científicos. Varia de acordo com a posição no xadrez geopolítico global. Estados que não se curvam aos interesses estadunidenses e europeus são "ditaduras". Em contrapartida, aliados do Tio Sam e companhia, são "democracias".

Essa armadilha discursiva permite, por exemplo, que o genocídio do povo palestino por parte de Israel seja minimizado na imprensa hegemônica, afinal de contas, Israel seria "a única democracia do Oriente Médio". Nessa linha de raciocínio, um palestino, com um coquetel molotov, enfrentando o exército israelense, é "terrorista". Já um ucraniano, na mesma situação, ao desafiar o exército russo, é "herói". Dois pesos, duas medidas.

Em relação à Guerra entre Ucrânia e Rússia, Lula, que tem demonstrado uma pragmática neutralidade, chegou a apontar que ambos os países são culpados pelo conflito.

Nessa oportunidade, novamente, os veículos de imprensa se posicionaram contrários ao presidente. Nas simplificações midiáticas, todo conflito deve ser entendido de forma maniqueísta, como um embate entre o bem (no caso, Ucrânia) e o mal (Rússia).

Outra fala de Lula, sobre União Europeia e Estados Unidos terem interesses financeiros pela continuidade do conflito no Leste Europeu, também repercutiu negativamente na mídia. Para quem está acostumado com a subserviência geopolítica, pensar que os "civilizados" e "pacíficos" europeus e estadunidenses se aproveitam da desgraça alheia para obter dividendos econômicos é inconcebível.

Fato é que Lula tem sido ovacionado por onde passa, seja no Sul ou no Norte global. Recuperou o prestígio do Brasil, perdido nos sombrios anos de Bolsonaro no poder.

É o "presidente do mundo", lembrando as palavras de Rovai. No entanto, nos noticiários internacionais da imprensa hegemônica, Lula é apenas taxado como "amigo de ditador".

Diante dessa realidade, é necessário (e urgente) a democratização dos meios de comunicação de massa no Brasil, para que o grande público tenha acesso a pluralidade de posições políticas e não fique refém de um enquadramento midiático único. Assim, poderão constatar que a geopolítica global é muito complexa do que as matérias de um minuto de duração no Jornal Nacional e das análises tendenciosas de articulistas da Folha de S. Paulo, do Estadão e de O Globo.

Temas