A investigação da Polícia Federal (PF) revelou, em 2024, que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para investigar tanto aliados quanto opositores. O escândalo ficou conhecido como "Abin paralela".
Além da vigilância sobre aliados e opositores, a "Abin paralela" também foi usada para coletar informações que pudessem beneficiar os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro: Flávio (01), Eduardo (02), Carlos (03) e Renan (04).
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O caso de Jair Renan
Jair Renan, atualmente vereador por Balneário Camboriú (SC), teve seu ex-sócio Allan Lucena espionado.
Segundo a PF, a Abin paralela, sob o comando de Alexandre Ramagem, realizou serviços de espionagem e "contrainteligência" para construir provas em favor de Jair Renan, em um processo sobre tráfico de influência investigado pela própria corporação em 2021.
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O inquérito apurava o recebimento de um carro elétrico por Jair Renan, filho "04" de Bolsonaro, com o objetivo de atuar como lobista dentro do governo para empresários do setor de exploração minerária.
Um dos presos nesta quinta-feira, o agente Marcelo de Araújo Bormevet, teria atuado diretamente no monitoramento de Allan Lucena, ex-sócio de Jair Renan.
Bormevet deu ordens a Giancarlo Gomes Rodrigues, também preso, para usar o sistema de inteligência First Mile para monitorar Lucena.
"Viado. Iludindo"
Em diálogo revelado pela investigação da PF, Marcelo Bormevet diz que é preciso "explodir Allan Lucena", em mensagem enviada para Giancarlo Gomes.
Giancarlo Gomes questiona se o alvo "estaria detonando o PR (Jair Bolsonaro)".
Bormevet responde: "Negativo. Tá iludindo o 04 do PR. Mas o cara é viado, drogado e rubroneca [flamenguista gay]".
Abin Paralela: Carlos, Flávio e Renan Bolsonaro foram beneficiados por espionagem ilegal
Relatório da Polícia Federal (PF) enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) para desencadear a ação nesta quinta-feira (11) revela que a organização criminosa montada em uma estrutura paralela à Agência Brasileira de Informação - que ficou conhecida como Abin Paralela - atuou diretamente para beneficiar Flávio, Carlos e Jair Renan, filhos de Jair Bolsonaro (PL), em processos na Justiça contra eles.
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"A autoridade policial descortinou a existência de uma organização criminosa, responsável por utilizar, dentre outros, do sistema de inteligência First Mile da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) para monitorar ilegalmente pessoas e autoridades
públicas, que poderiam, em tese, ser opositores aos interesses do "NÚCLEO POLÍTICO" (núcleo que seria o destinatário e o beneficiário do produto ilícito materializado na desinformação produzida pelo "NÚCLEO ESTRUTURA PARALELA", inclusive por meio de difusões em redes sociais), bem como monitorar pessoas em procedimentos investigatórios instaurados contra membros da família do então Presidente da República JAIR MESSIAS BOLSONARO", diz a PF.
A investigação cita, então, que para essas ocasiões foram criados os dossiês "ação clandestina – investigação Renan Bolsonaro", "ação clandestina – investigação Flávio Bolsonaro" e "Senador Alessandro Vieira", referente ao requerimento feito pelo senador do MDB para convocar Carlos a prestar esclarecimentos na CPI da Covid.
Além disso, o próprio Bolsonaro teria sido beneficiado diretamente nos dossiês "investigação caso Adélio" e "ações clandestinas contra Exmo. Ministro Alexandre de Moraes".
Jair Renan
Segundo a PF, a Abin paralela, sob o comando de Alexandre Ramagem, realizou serviço de espionagem e "contrainteligência" para construir provas em favor de Jair Renan em processo sobre tráfico de influência investigado pela própria corporação em 2021.
O inquérito apurava o recebimento de um carro elétrico pelo filho "04" de Bolsonaro para atuar como lobista dentro do governo para empresários de exploração minerária.
Um dos presos nesta quinta-feira, o agente Marcelo de Araújo Bormevet teria atuado diretamente no monitoramento de Allan Lucena, ex-sócio de Jair Renan.
Bormevet deu ordens a Giancarlo Gomes Rodrigues, também preso, para usar o sistema de inteligência First Mile para monitorar Lucena.
Flávio Bolsonaro
Em relação a Flávio Bolsonaro, filho "01" do ex-presidente, a PF afirma que a Abin paralela teria realizado "monitoramento dos auditores da Receita Federal do Brasil, responsáveis pelo RIF – relatório de inteligência fiscal – que deu origem à investigação que apurava o desvio de parte dos salários dos funcionários da ALERJ (“caso da rachadinha”), com o objetivo, inclusive, de "encontrar podres" sobre os mencionados auditores".
A PF cita uma conversa gravada por Ramagem em que Bolsonaro, Augusto Heleno e Flávio falam sobre a ação contra os servidores da Receita.
"A premissa investigativa ainda é corroborada pelo áudio de 01:08 (uma hora e oito minutos) possivelmente gravado pelo Del. ALEXANDRE RAMAGEM no qual o então PRESIDENTE DA REPÚBLICA JAIR BOLSONARO, GSI
GENERAL HELENO e possivelmente advogada do Senador FLAVIO BOLSONARO tratam sobre as supostas irregularidades cometidas pelos auditores da receita federal na confecção do Relatório de Inteligência Fiscal que deu causa à investigação".
Carlos Bolsonaro
Na ação em benefício de Carlos Bolsonaro, a PF mostra a relação explícita entre a Abin Paralela e o Gabinete do Ódio, que teria atuado após Alessandro Vieira pedir a convocação do vereador na CPI da Covid e a quebra de sigilo telefônico, telemático, bancário e fiscal dele.
Após levantar informações sobre o senador, Giancarlo e Bormevet trocam mensagens: "Vamos difundir isto. Pede pra marcar o
CB", diz o policial federal lotado na Abin, com a sigla de Carlos Bolsonaro.
"O militar cedido à ABIN GIANCARLO por meio de seu perfil fake "Verdades Marcelo Augusto" executa uma de suas tarefas na ORCRIM e difundi o material com a devida precaução de registrar o destinatário final beneficiário do produto ilícito da ORCRIM", diz o relatório. "Acho que merece uma Thread marcando o Carlos Bolsonaro...", diz Giancarlo.
Leia a íntegra do relatório da PF enviado a Moraes
Com informações do Metrópoles