O juiz federal Eduardo Appio esteve no Fórum Onze e Meia desta quarta-feira (25) para comentar sobre o caso do advogado Rodrigo Tacla Duran, que atuou para a Odebrecht durante as investigações da Operação Lava Jato, e que acusou o ex-juiz e senador Sergio Moro e o ex-coordenador da Operação e ex-deputado Deltan Dallagnol. Para Appio, que também atuou na 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos processos da Lava Jato em 2023, Tacla Duran é um "cabra marcado para não falar".
Nesta terça-feira (23), a 13ª Vara Federal de Curitiba decidiu trancar as investigações e ações penais contra Tacla Duran com base na decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, de considerar as denúncias e investigações contra o advogado "imprestáveis". No entanto, o advogado continua alvo de processos movidos por Moro na Espanha.
Te podría interesar
Appio relembrou que, em 2023, foi feita uma força-tarefa para trazer Duran ao Brasil para que ele pudesse depor como testemunha. Houve convocatória da Procuradoria-Geral da República (PGR), que movimentou a máquina do Ministério Público para ouvir Duran. O ministro Flávio Dino, na época no Ministério da Justiça, mobilizou a Polícia Federal para dar condição de segurança ao advogado. Ele iria comparecer a uma audiência em São Paulo. No entanto, na véspera da viagem, foi decretada sua prisão, caso embarcasse em solo basileiro.
O juiz também lembrou de um discurso que considerou "hostil" e "ofensivo" da procuradora Maria Inês, do Ministério Público, que cuidava dos processos na Espanha. Ela declarou, na época, para Appio, que "mudam os governos, mudam os juízes". Appio afirmou que considerou a postura de Inês "totalmente ofensiva" e que resolveu pesquisar no Google o que ela teria contra Duran. "Vi que ela estava em todos aqueles diálogos da Vaza Jato, conversando com os procuradores da República aqui de Curitiba. Então, há uma cooperação de telegrama, uma cooperação não oficial, entre essa doutora Maria Inês Dias e os procuradores da República da Lava Jato, ou havia, pelo menos, não sei se isso existe no dia de hoje", afirmou Appio.
Te podría interesar
"Os diálogos me deixaram muito claro de que ela estava funcionando como uma espécie de longa manus (executor de ordens) da Lava Jato aqui de Curitiba", acrescentou o juiz.
Até hoje, Duran "continua de alguma forma um pouco refém", disse Appio, porque apesar de o STF, a 13ª Vara Federal de Curitiba e o Tribunal Regional Federal da 4ª Região terem concedido ao advogado decisões favoráveis, ele ainda não consegue vir ao Brasil para ser ouvido na Câmara dos Deputados.
"É um nome que virou uma espécie de grande fantasma para a extrema direita, para essa turma da República de Curitiba. Ele tem alguns extratos bancários que são, de alguma forma, comprometedores e que merecem investigação, juntamente como merece investigação aquele desvio dos R$ 5 bilhões nos cofres públicos feitos aqui, por essa República de Curitiba, na 13ª Vara, e que eu reportei ao CNJ, e uma semana depois fui afastado da minha função", declarou Appio.
O juiz destacou que suas investigações culminaram no relatório feito pelo CNJ que contém "diversos crimes gravíssimos" cometidos por Moro e Dallagnol no "sistema de cashback", como nominou o Conselho.
"Por que cashback? Porque eles mandavam o dinheiro para os Estados Unidos, via Petrobrás, e recebiam de volta a metade desse valor, para montar a fundação Dallgnol", afirmou Appio. Como a finalidade, segundo se anunciava na época, seria uma finalidade com viés político, - coisa que Moro e Dallagnol sempre tiveram - a atuação deles foi política. Eu acho muito claro que a República de Curitiba atuou politicamente", acrescentou o juiz.
Appio ainda declarou que, quando atuou na Vara, por somente quatro meses, o que fez foi "desagradar forças ocultas e poderosas" com suas investigações, e por isso foi logo afastado.
Alexandre de Moraes: a "assombração dos golpistas"
Ao relembrar a atuação da Lava Jato, que considera "perversa" e "totalitarista", Appio elogio a postura do ministro Alexandre de Moraes, que vem liderando o julgamento histórico dos golpistas de 8 de Janeiro, dentre eles autoridades políticas, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e militares. O juiz afirma que Moraes é um "gigante" por resistir a todos os ataques que recebe, inclusive ter sido alvo do plano de morte elaborado na trama do golpe. Por essa sua atuação, o ministro virou uma "assombração" da extrema direita e dos golpistas.
"Ele é a assombração dos golpistas militares, da extrema direita, dos empresários que são golpistas, dessas pessoas todas que não representam a maioria do povo brasileiro, com certeza absoluta", disse Appio.
O juiz acrescentou que Moraes é "um orgulho para o país" e um "personagem histórico". "Mas a história, quando ela está sendo vivenciada, as pessoas não têm uma dimensão muito clara do que está ocorrendo. Então, se passarem mais 10 anos e houver essa reflexão, nós veremos a importância do ministro Alexandre de Moraes, da fortitude dele, tanto também do ministro Toffoli, tanto do ministro Gilmar, quando reviu todas as questões da Lava Jato, como isso fez uma diferença enorme para a democracia", declarou Appio.
Confira a entrevista completa do juiz Eduardo Appio ao Fórum Onze e Meia
Siga o perfil da Revista Fórum e da jornalista Júlia Motta no Bluesky