Graduado em Geografia e especializado em Gestão de Cidades pela USP. Foi coordenador de Mobilidade Urbana do Idec, e já atuou com mobilidade pela Cidadeapé e Ciclocidade. Foi membro do Fórum Consultivo de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades.
Orçamento e Metas de Nunes para SP precisam sair do século passado
A Câmara vota hoje regras do orçamento com obras que vão piorar a qualidade de vida e o trânsito em vários bairros da capital.
O trânsito é um problema que irrita boa parte dos paulistanos e paulistanas, mas se depender do prefeito Ricardo Nunes, a situação pode ficar muito pior! O prefeito não dá nenhuma sinalização de que irá mudar seu projeto de incentivar ainda mais o uso do carro na cidade e prejudicar o transporte coletivo, reduzindo a frota, as viagens e atrasando obras de corredores de ônibus.
O programa de Metas, apresentado à população em abril, representa claramente esse projeto. São 14 propostas de obras rodoviaristas, entre ponte e viadutos, e apenas 4 propostas de corredores de ônibus, das quais 3 estão atrasadas e em elaboração há cerca de 10 anos!
Entre as obras estão projetos ultrapassados como uma nova avenida paralela à Marginal Tietê, outro túnel na Avenida Juscelino Kubitschek e até a duplicação de rua no meio da Vila Olímpia, a Rua Ribeirão Claro. A gestão demonstra acreditar em ideias que vigoravam na década de 1950, que mais vias para carro melhoram o trânsito, contrariando todas as evidências e estudos que mostram o contrário, e ignorando completamente a crise climática.
Estas propostas do Ricardo Nunes são alvos de reclamações e críticas desde antes de o Programa de Metas ser publicado. Isso porque estão elencadas obras como o Túnel da Sena Madureira, que é alvo de uma mobilização contrária surpreendente de moradores no bairro, e foi palco da principal derrota judicial de Nunes neste ano, pois a contratação do túnel foi derrubada pelo Ministério Público por denúncias de corrupção e favorecimento de empresas.
Organizações da sociedade civil que acompanham o tema da mobilidade chamaram de “sombria” a proposta da prefeitura. Apontaram que as obras seriam “obras faraônicas para “melhorar a fluidez”, enquanto a segurança viária e a mobilidade ativa ficam a ver navios”.
Outra evidência que o Programa da gestão do Nunes está desalinhado das demandas da população são as propostas populares mais votadas no site participativo do Programa de Metas. Entre as 10 ideias mais votadas estão: ampliação do programa de calçadas, corredor de ônibus substituindo o túnel da Sena Madureira, ampliação da rede cicloviária e expansão da superfície permeável da cidade. Todas propostas coerentes com uma mobilidade mais sustentável e com a superação da atual cidade pautada pelo uso do carro. Ou seja, a sociedade civil está muito mais atualizada com o Século XXI que o prefeito.
Agora, a Câmara tem a possibilidade de começar a corrigir esses erros da atual gestão. A Lei de Diretrizes Orçamentárias está em pauta, com algumas destas propostas da prefeitura representadas nela. Alguns vereadores, como Nabil Bonduki (PT), Renata Falzoni (PSB) e até Janaína Paschoal (PP), já apresentaram emendas contra projetos rodoviaristas, que foram rejeitados pela população. Os vereadores precisam retirar estas obras ultrapassadas do projeto e destinar o orçamento público aos investimentos que a cidade precisa nesta área: investimento em transporte público, mobilidade ativa e meio ambiente.
