A relação entre o governo Lula e as Forças Armadas sempre foi marcada por um misto de tensões pontuais e permissividade. Desde seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstra um padrão de anuência com atitudes controversas de militares, reforçando uma postura leniente frente à indisciplina. A recente polêmica envolvendo o vídeo da Marinha, onde civis foram retratados de forma pejorativa, reacende esse debate e evidencia a continuidade desse comportamento.
O vídeo, divulgado no último domingo (30), apresenta a Marinha do Brasil classificando a instituição como composta por "trabalhadores" em oposição a civis retratados como "preguiçosos" e "desocupados". A repercussão negativa foi imediata, gerando críticas em diversas esferas. No entanto, até o momento, não há indícios de que os responsáveis pela publicação enfrentem qualquer tipo de punição ou sanção. Esse episódio não ocorre em um vácuo, mas se soma a uma sequência de casos que ilustram a indulgência do governo Lula com a indisciplina militar.
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Casos emblemáticos: Viegas e Gonçalves Dias, o "general bolo"
Em 2004, o então ministro da Defesa, José Viegas, pediu demissão após o Exército publicar uma nota defendendo o golpe militar de 1964. A nota, divulgada sem consulta ao governo, utilizava um tom elogioso aos métodos do regime ditatorial. Viegas, em sua carta de renúncia, criticou duramente a postura do Exército e afirmou: “É também inaceitável, a meu ver, que se apresente o Exército como uma instituição que não precise efetuar qualquer mudança de posicionamento e de convicções em relação ao que aconteceu naquele período histórico.” Apesar do caráter emblemático da crítica, o governo Lula não tomou medidas contra os responsáveis pela nota, ilustrando a resistência em confrontar as Forças Armadas.
Outro episódio emblemático ocorreu em 2012, durante a greve de policiais militares na Bahia. O general Marco Edson Gonçalves Dias, então comandante da 6ª Região Militar, recebeu um bolo de aniversário dos grevistas, emocionando-se publicamente com o gesto. A atitude foi vista como uma quebra da hierarquia e um gesto de condescendência com um movimento que desafiava a ordem pública. O episódio lhe rendeu o apelido de "General Bolo" e resultou em seu afastamento das funções de comando. Apesar disso, Lula o trouxe de volta ao governo em 2023, nomeando-o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), mesmo com o histórico problemático.
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Em janeiro de 2023, Gonçalves Dias foi novamente alvo de críticas, desta vez por sua atuação durante os atos golpistas de 8 de janeiro. Imagens mostraram o general circulando entre os invasores do Palácio do Planalto, reforçando a percepção de permissividade e inação. Mais uma vez, apesar da gravidade, não houve sanções formais além de sua saída do cargo.
Padrões históricos e expectativas
Esses episódios demonstram um padrão recorrente de leniência do governo Lula frente à indisciplina militar. Em vez de enfrentar os problemas com assertividade, o governo frequentemente opta por respostas discretas ou inócuas, evitando o enfrentamento direto com as Forças Armadas. Esse comportamento envia um sinal perigoso: a transgressão de normas democráticas ou disciplinares raramente terá consequências reais.
O caso recente da Marinha, aliado aos episódios de José Viegas e Gonçalves Dias, reforça essa percepção. A ausência de respostas contundentes enfraquece a disciplina interna e corrompe a confiança da sociedade nas instituições. Lula precisa reconhecer que, sem mudanças estruturais na relação com os militares, sua leniência histórica pode continuar a minar a credibilidade e a estabilidade democrática do Brasil.