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“Cinco não querem”: saiba quem são os generais do Alto Comando que foram contra o golpe

Documentos da Polícia Federal identificam os cinco generais que resistiram às articulações golpistas em 2022, mas questionam quem seriam os três apoiadores dentro do Alto Comando

Alto Comando do Exército.Créditos: Exército Brasileiro
Escrito en BRASIL el

As investigações conduzidas pela Polícia Federal sobre as tentativas de golpe após as eleições de 2022 continuam a trazer novas informações sobre as divisões no Alto Comando do Exército (ACE). Mensagens analisadas confirmaram os cinco generais que se opuseram diretamente às articulações, enquanto três apoiavam as iniciativas golpistas. Entre eles, segundo os documentos, está o General Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, cujo nome foi citado em uma mensagem compartilhada em grupos de militares articuladores.

“Cinco não querem, três querem muito”

A frase central “Cinco não querem, três querem muito”, atribuída ao coronel reformado Reginaldo Vieira de Abreu, sintetiza o cenário dividido dentro do ACE, composto por 16 generais de quatro estrelas. Entre os opositores firmes, os nomes já identificados incluem:

  • General Richard Nunes (Comando Militar do Nordeste),
  • General Stumpf (Comando Militar do Sul),
  • General André Luís Novais Miranda (Comando Militar do Leste),
  • General Guido Amin Naves (Departamento de Ciência e Tecnologia),
  • General Tomás Paiva (Comando Militar do Sudeste).

Além disso, os documentos indicam que, enquanto cinco resistiam, outros três apoiavam ativamente, com Theophilo sendo o único nome apontado, segundo as investigações da PF, até o momento. Outra mensagem interceptada destaca que, durante um almoço com Bolsonaro e general do ACE que teria ocorrido em 5 de novembro de 2023 em Brasília, três generais — Richard, Tomás e Soares — não compareceram, possivelmente marcando um ato simbólico de rejeição às articulações discutidas no evento.

O então comandante do Exército, General Marco Antônio Freire Gomes, não é mencionado entre os cinco opositores firmes às tentativas de golpe, embora relatos indiquem que ele teria ameaçado prender Bolsonaro caso os planos avançassem. Sua postura, no entanto, é vista como ambígua e menos enfática do que a de seus colegas identificados como contrários às articulações.

Theophilo e “Barata”: a mensagem que circulou em grupos golpistas

Em outra mensagem incluída nas investigações, compartilhada entre grupos de militares alinhados às articulações golpistas, o General Tomás Paiva teria criticado duramente o General Eduardo Villas Bôas e sua esposa, Cida, durante uma reunião. No texto, é relatado que Tomás abriu o jogo e “falou mal de todo o Alto Comando do Exército, principalmente de Theophilo e de Barata”.

Theophilo, que era Comandante de Operações Terrestres, foi reiteradamente citado nas investigações como apoiador das articulações golpistas. Contudo, a identidade de “Barata” permanece desconhecida, e seu papel nas discussões internas do Alto Comando ainda é objeto de investigação.

Repercussões e a resposta oficial do Exército

Diante da circulação das mensagens interceptadas e do impacto das postagens nas redes sociais, o Exército emitiu o Informex NR 041, em 16 de novembro de 2022. O documento, distribuído a todas as organizações militares, classificou as mensagens como uma “maliciosa e criminosa tentativa de atingir a honra pessoal de militares” e buscou reafirmar a coesão institucional.

O comunicado destacou a longa trajetória de serviços prestados pelos generais mencionados e denunciou as postagens como tentativas de “macular a coesão inabalável do Exército de Caxias”. Apesar do tom defensivo, a emissão do Informex revelou a preocupação do comando com os danos à imagem da instituição e as divisões internas que começavam a ganhar visibilidade.

Repercussões e questionamentos sobre conivência

Além dos cinco generais contrários e dos três apoiadores identificados até agora, os outros oito integrantes do Alto Comando foram descritos em mensagens como estando em uma “zona de conforto”. Essa postura pode ser interpretada como conivência ou até mesmo flerte com a prevaricação, caso soubessem das articulações e optassem por não agir.

As investigações seguem avançando, mas a revelação das mensagens e os desdobramentos no âmbito militar evidenciam as tensões internas do Exército durante o período. Os próximos passos da PF devem aprofundar a identificação dos dois outros generais apoiadores das articulações e o papel de figuras ainda desconhecidas, como “Barata”.

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