FORÇAS ARMADAS

19 militares envolvidos com carta golpista seguem na ativa no Exército

Força revela que integrantes ainda na ativa participaram da elaboração da "Carta ao Comandante", pressionando corporação durante transição presidencial de 2022

Créditos: Antonio Cruz/Agência Brasil
Escrito en POLÍTICA el

O Exercito mantém na ativa 19 militares envolvidos no caso da "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro", um documento golpista que buscava pressionar o comando militar a impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. A confirmação, feita por meio de um pedido de acesso à informação, reforça a gravidade do episódio, enquanto o Exército mantém sob sigilo informações detalhadas sobre os envolvidos.

A carta foi escrita por quatro oficiais superiores, incluindo dois coronéis da ativa, e assinada por outros 33 militares, totalizando 37 envolvidos e divulgada em um momento crítico, quando apoiadores de Jair Bolsonaro acampavam em frente a quartéis exigindo intervenção militar. O documento apócrifo, publicado em 29 de novembro de 2022, fazia apelos explícitos por uma ruptura democrática e atacava diretamente instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Abertura de inquérito formal

O Exército chegou a instaurar, no final de agosto, um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar formalmente quatro coronéis apontados como autores da redação e publicação da carta. Entre os investigados estão Alexandre Castilho Bitencourt da Silva e Anderson Lima de Moura, da ativa, e Carlos Giovani Delevati Pasini e José Otávio Machado Rezo Cardoso, da reserva.

Segundo a sindicância prévia, esses quatro militares teriam cometido possíveis crimes militares relacionados à elaboração e divulgação do texto. Os outros 33 signatários são acusados de transgressões disciplinares e são alvos de punições administrativas que variaram de advertências a detenções, dependendo da gravidade da infração e do julgamento de seus comandantes.

Entre os punidos, há 12 coronéis, nove tenentes-coronéis, um major, três tenentes e um sargento. No entanto, mesmo com as punições, 19 desses militares permanecem na ativa, fato que tem gerado críticas de especialistas e levantado dúvidas sobre a efetividade das ações do Exército para preservar a hierarquia e a disciplina.

Impacto político e institucional

A "Carta ao Comandante" foi escrita em um contexto de escalada das tensões políticas, quando bolsonaristas radicais pressionavam as Forças Armadas a intervir contra o resultado eleitoral. Investigação da Polícia Federal revelou que o texto foi enviado ao tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, antes de ser divulgado publicamente, indicando um possível alinhamento entre militares e lideranças civis em um plano para desestabilizar a democracia.

O conteúdo da carta fazia referência à suposta responsabilidade das Forças Armadas como "reais guardiões da Constituição" e apelava para o "restabelecimento imediato da lei e da ordem", justificando a insatisfação popular com as instituições democráticas. Apesar do tom golpista, o Exército afirma que apenas os quatro autores do texto são formalmente investigados por possíveis crimes, enquanto os demais signatários foram tratados como transgressores disciplinares.

Crise de imagem e desafios para as Forças Armadas

A permanência de 19 militares da ativa envolvidos no caso expõe um dilema para o comando militar. Enquanto o general Tomás Paiva, comandante do Exército, enfatiza a necessidade de preservar a credibilidade e os valores constitucionais da instituição, a falta de medidas mais firmes contra os envolvidos gera desconfiança pública.

Além disso, a decisão do Exército de manter sigilo sobre os nomes e funções dos militares da ativa ligados ao episódio levanta questionamentos sobre transparência e a verdadeira disposição da instituição em lidar com atos que desafiam diretamente a ordem constitucional.

O que está em jogo

Os desdobramentos das investigações terão impacto direto na relação entre as Forças Armadas, o governo e a sociedade. A expectativa é que o Exército demonstre compromisso com a hierarquia, a disciplina e os valores democráticos, punindo de forma exemplar os responsáveis e garantindo que episódios semelhantes não voltem a ocorrer.

A crise de imagem que envolve o caso da "Carta ao Comandante" sublinha a urgência de um reposicionamento estratégico das Forças Armadas, tanto em sua governança interna quanto em sua atuação pública. Mais do que nunca, a resposta do Exército será crucial para reforçar a confiança da sociedade em sua neutralidade e compromisso com a Constituição.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar