O dilema dos palestinos: morrer de fome ou assassinados por Israel para tentar conseguir comida
Desde 27 de maio, milhares de palestinos estão sendo bombardeados ou alvo de disparos em filas de ajuda humanitária por militares israelenses que prosseguem o genocídio, seja bloqueando acesso a alimentos ou fuzilando quem busca ajuda em filas
Segundo informa a ONU, são relatos de mais de 410 palestinos que foram assassinados enquanto tentavam obter comida. E pelo menos outros 93 também teriam sido mortos pelo exército israelense enquanto tentavam se aproximar dos poucos comboios de ajuda humanitária da ONU e de outras organizações humanitárias. Pelo menos 3.000 palestinos ficaram feridos nesses incidentes.
Desde que a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), entidade escolhida pelos governos de Israel e EUA, para operar ajuda humanitária aos palestinos, começou a operar em 27 de maio, o exército israelense bombardeou e atirou contra quem tentava chegar aos pontos de distribuição, resultando em muitas mortes.
Para a ONU, “cada um desses assassinatos deve ser investigado de forma rápida e imparcial, e os responsáveis ??devem ser responsabilizados. Matar e ferir civis em decorrência do uso ilegal de armas de fogo constitui uma grave violação do direito internacional e um crime de guerra”, diz uma nota da Organização das Nações Unidas divulgada na segunda-feira (24/06).
O documento da ONU, produzido pelo porta-voz do Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Thameen Al-Kheetan afirma que palestinos em Gaza sofrem com a fome e a falta de outras necessidades vitais. A Faixa de Gaza permanece à beira da fome devido ao fechamento e bloqueio de Israel, bem como às contínuas restrições ilegais à entrada e distribuição de ajuda humanitária. Isso se soma à destruição sistemática da produção local de alimentos e da economia por Israel, bem como aos repetidos deslocamentos forçados em massa nos últimos 20 meses.
Israel impede trabalho de ajuda humanitária da ONU em Gaza
Israel segue impondo restrições ao trabalho da ONU e de outras organizações humanitárias, proibindo-as de levar e distribuir alimentos, combustível e assistência básica vital para Gaza. Poucos caminhões foram autorizados a entrar desde 2 de março de 2025.
“Estamos presenciando cenas de caos em torno dos pontos de distribuição de alimentos da "Fundação Humanitária de Gaza" e dos poucos comboios humanitários da ONU. Mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência, em particular, enfrentam múltiplos desafios nesses pontos e correm o risco de formas agravadas de exploração e abuso”, afirma a ONU.
O relatório aponta que o mecanismo militarizado de assistência humanitária de Israel contradiz os padrões internacionais de distribuição de ajuda, colocando civis em perigo e contribui para a catastrófica situação humanitária em Gaza. A militarização de alimentos para civis, além de restringir ou impedir seu acesso a serviços essenciais, constitui um crime de guerra e, em determinadas circunstâncias, pode ser considerado crime previsto no direito internacional.
“O exército israelense deve parar de atirar em pessoas que tentam obter alimentos. Israel também deve permitir a entrada de alimentos e outros tipos de assistência humanitária necessária para sustentar a vida dos palestinos em Gaza, em conformidade com o direito internacional e os princípios humanitários. Deve suspender imediatamente suas restrições ilegais ao trabalho da ONU e de outros atores humanitários. Terceiros Estados têm a obrigação de tomar medidas concretas para garantir que Israel, a potência ocupante em Gaza, cumpra seu dever de garantir que alimentos e itens essenciais suficientes sejam fornecidos à população”, cobra de forma contundente.
Trump escolheu líder evangélico para dirigir fundação que deveria ajudar
Segundo o jornal The Guardian, da Inglaterra, o presidente dos EUA, Donald Trump, nomeou um ex-conselheiro, em questões inter-religiosas, Johnnie Moore, como chefe da Fundação Humanitária de Gaza (GHF).
Johnnie Moore, membro da Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional e fundador da empresa de consultoria Kairos Company, foi nomeado o novo chefe do GHF depois que Jake Wood, um ex-fuzileiro naval, renunciou, dizendo que não podia garantir a independência do GHF dos interesses israelenses.
Moore é um defensor ferrenho do GHF não suportando críticas públicas à implementação, dizendo ao chefe da ONU, António Guterres, na plataforma “X” que os relatos de palestinos mortos e feridos, enquanto buscavam ajuda em Gaza eram "uma mentira espalhada por terroristas".
Ainda segundo o Guardian, uma biografia no site do Kairos descreve Moore como um "notável amigo evangélico do Estado de Israel”, afirmando que ele desempenhou um papel importante na aproximação dos EUA com governos do Oriente Médio, incluindo a conclusão dos acordos de Abraão para normalizar as relações entre Israel e os Estados árabes.
Ajuda humanitária para Gaza foi privatizada por Israel e Trump
O GHF é uma organização estadunidense, sediada em Delaware, criada em fevereiro de 2025 para distribuir ajuda humanitária durante a atual crise humanitária em Gaza.
A implementação das operações do GHF nas últimas três semanas, após um bloqueio de dois meses à maior parte da ajuda que entra em Gaza, que levou os 2,1 milhões de habitantes do território à fome se mostra mortal, com os postos de entrega se transformando em verdadeiras arapucas para uma matança de palestinos que procuram por comida e água.
Raji Sourani, diretor do Centro Palestino para os Direitos Humanos, disse que é "imoral e desumano quando aqueles que cometem o genocídio assumem a responsabilidade de alimentar aqueles que eles mataram de fome. Eles estão usando a GHF para humilhar, degradar e matar diariamente dezenas de pessoas famintas”, afirma, em reportagem publicada pelo The Guardian.
O jornal inglês informa que grupos humanitários e de direitos humanos em todo o mundo denunciam a substituição de operações de ajuda humanitária independentes e estabelecidas há muito tempo por grupos privados e militarizados e pediram que os esforços de ajuda operados pela ONU fossem permitidos na faixa novamente.
A senadora americana Elizabeth Warren questionou a proposta do governo Trump de redirecionar US$ 500 milhões da USAID, que o governo eliminou, para a GHF, que está registrado nos EUA e também na Suíça.