O momento mais emocionante do casamento foi quando a noiva e o pai entraram, desvestidos, ao som de Nu com minha música. O arranjo, entoado por um coral de 12 jovens em trajes de Eva, foi de arrepiar.
Encerrada a cerimônia, os convivas saíram lentamente da catedral. Completamente nus, inclusive os noivos e padrinhos, foram pegando seus carros com os valets desnudos e indo na direção do bufê. Lá, 40 garçons, completamente ao natural, esperavam os comensais com repastos e bebidas de primeiríssima linha. A orquestra Naked City ensaiava os últimos acordes de Underneath Your Clothes, de Shakira, que seria tocada à entrada dos noivos. A vocalista, de corpo escultural, atacava o refrão:
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And all the things I deserve
For being such a good girl, honey
Enquanto aguardava seu veículo, um padrinho disse a um valet:
"Não acha que está um pouquinho frio hoje?"
“Pois é, patrãozinho, o complicado de trabalhar ao ar livre é isso: a friagem nos documentos”, respondeu o rapagão, com um sorriso.
Um coroinha, pelado, saiu correndo da igreja para pegar a van, dirigida por uma motorista em pelo, que o conduziria à escola. Chegou a tempo de ainda ser recebido pela professora que, despida, o aguardava na porta da classe. Antes que o garoto entrasse, a mestra o advertiu:
“Corre que já começamos a aula de desenho de nu. A modelo hoje é a tia Celina.”
Não muito longe dali, numa manifestação em que se protestava pelo alto preço das folhas de parreira no país, cerca de dois mil peladões berravam palavras de ordem e batiam bumbos.
Os populares pareciam ignorar os reclamos e seguiam caminhando, igualmente sem roupa, pelas calçadas. Office-boys, vendedores de jogo do bicho, homens-sanduíche, pregadores, todos como vieram ao mundo, davam andamento à faina diária.
Era mais um dia rotineiro numa grande cidade. Feito de alegrias, tristezas, angústias, alívios, e gente sem nada por cima.
Para encerrar, no início da noite aconteceu a tão esperada partida da seleção brasileira de futebol. Em meio à empolgação da massa e dos jogadores, um homem audacioso decidiu pular o alambrado do estádio e entrar vestido no gramado. Foi um choque ver aquele cidadão, trajando terno e gravata, sair driblando um destacamento policial inteiro.
"O que esse maluco pensa que está fazendo?", gritavam as pessoas, incrédulas. Após minutos de constrangimento, transmitidos ao vivo para todo o mundo pela TV, dois policiais conseguiram despi-lo, algemá-lo e prendê-lo por atentado ao pudor.
Tudo terminou bem. Era um dia como outro qualquer numa grande cidade.