CARLOS CASTELO

A necessidade de dicionários numa sociedade que não lê e não escreve, por Carlos Castelo

Escrevo dicionários. Sou como aquele DJ da festa que ninguém apareceu; veja alguns verbetes aqui

O dicionário que ninguém lê de A a Z.Créditos: Rawpixel
Escrito en OPINIÃO el

Qual a necessidade de dicionários numa sociedade que não lê, não escreve, e tem preguiça de interpretar textos? A mesma que óculos de sol para os peixes. Vivemos em um mundo onde as pessoas não se esforçam para compreender nada que não seja emojis ou abreviações feitas de consoantes. Para que elaborar frases quando podemos apenas reagir com um "kkk”? 

Os dicionários, hoje, só se prestam à decoração, exibidos em estantes empoeiradas, entre o vaso de plantas secas e a pilha de contas a pagar. Escrevo dicionários. Sou como aquele DJ da festa que ninguém apareceu.

APOSENTADORIA. Mais feliz do que a aposentadoria do Galvão Bueno.

BOMBEIRO. Filho, agora desliga o videogame que o bombeiro precisa remover o corpo do seu avô da sala. 

CELEBRIDADE. Hoje em dia, é aquela pessoa conhecida por ser desconhecida.

DEVER. Escritório, 18 horas em ponto: aquela insatisfação do dever cumprido.

ESCRITOR. Querer ser escritor, hoje em dia, é igual a querer ser amolador de facas.

FALTA. O Penhor é meu pastor, nada me faltará" - disse o ex-presidente.

GOVERNO. No governo passado, o bobo da corte pediu demissão por não conseguir competir com as piadas do presidente.

HISTÓRIA. Grandes personagens da nossa História: Frederik, o Wassefálo.

IDADE. Depois dos 80, passamos a esquecer tudo de cabeça.

JUSTIÇA. Quem contrata hacker não pode se queixar de ações maliciosas da Justiça.

KITSCH. Mais kitsch do que sopa no pão italiano.

LEI. As leis do mercado não fazem parte da lei dos homens.

MENINO. Eu sou do tempo em que menino pobre mascava Ping Pong e menino rico, Bazooka.

NEYMAR. Aquele que sempre é o que não deveria ser.

OBTUSIDADE. Destrói mais Estados do que a guerra.

PROFISSÃO. Novas profissões: advogado de porta de joalheria.

QUILO. Depois que inventaram o quilo de 900 gramas, o consumidor começou a gramar.

RALO. Com a Pia, a seleção feminina foi pelo ralo.

SELEÇÃO. Era uma seleção tão cocô que todos os jogadores usavam a camisa número dois.

TEMPO. Bons tempos aqueles em que havia bons.

UNIVERSO. Deus não joga SportingBet com o universo.

VIDA. “Vida que cegue” - disse o Oppenheimer.

XUXA. Marlene Mattos, quando não está no palco.

ZEMA. Diminutivo de Zé Mané.