CARLOS CASTELO

Conheça o Hino do Golpista e outras odes de Carlos Castelo

Letrista da lendária banda Língua de Trapo mostra esta e outras obras que comentam com sarcasmo as mazelas de nosso tempo

Poesia na Pedra.Créditos: Rawpixel
Escrito en OPINIÃO el

HINO DO GOLPISTA

 

Pai, fazei-me um instrumento do vosso caos
Onde houver amor, que eu leve o ódio.
Onde houver perdão, que eu leve a ofensa
Onde houver união, que eu leve a discórdia
Onde houver fé, que eu leve a dúvida
Onde houver verdade, que eu leve o erro
Onde houver esperança, que eu leve o desespero

Onde houver alegria, que eu leve a tristeza
E onde houver luz, que eu leve meu grupo do zap

 

MINHA CANTIGA

 

A cantiga

Tão maldosa

De estrofes

Tinha seis

O Face cortou a glosa

Postarei somente três

 

O Twitter

Sacanagem!

Vira e mexe

Faz das suas

Deletou minha postagem

Postarei somente duas

 

Linkedin

Bom de empresa

Não gostou

E a verruma

Passou logo, que lindeza,

Postarei somente uma

 

Instagram

Autocrático

Decidiu

Entrar numa

Capou logo, no automático,

Postarei coisa nenhuma

 

 

O RICO DO PRÉDIO

 

Você se achegando

Com a sua SUV

Na garage entrando

É como um flash mob

 

“Lá vem o bacana!

Ói lá, o batuta!

O rico do prédio

Soem as trombetas!”

 

A tua faccia

De sofisticado

Nunca harmonizou

Com teu proceder

 

A tua antiética

Porqueiras que fazes

Contigo, com outros

São a ordem do dia

 

Para se mostrar

Deves ter comprado

A tal viatura

Em 100 prestações

 

Os ares de nobre

Caranga importada

Enganam ninguém:

És um fracassado

 

 

 NEM

 

Nem toda emergência

É urgência médica

Nem toda massagem

É ayurvédica

 

Nem todo roqueiro

É da anfetamina

Nem toda infusão

Contém cafeína

 

Nem todo magrelo

Deve ser canalha

Nem toda madeira

Presta pra cangalha

 

Nem todo erudito

Deve ser prolífico

Nem todo cachorro

Deve ser político

 

Nem todo canhestro

Tem que ser canhoto

Nem todo meganha

É um grande escroto

 

E nem toda feia

É uma Raimunda

E nem todo assento

É, de fato, bunda

 

Nem todo humorista

É bobo da corte

Nem toda moléstia

É sinal de morte

 

Nem toda garota

É mesmo menina

Nem todo polvilho

É de cocaína

 

Nem todo vermelho

É um subversivo

Nem todo poema

É repetitivo

ALGORITMO, NÃO

Não me amarra algoritmo não!

Mas criatura

Algoritmo não!

Baita frescura

Algoritmo não!

Ninguém atura

Algoritmo não!

Não me amarra algoritmo não!

Tenha critério

Não me amarra algoritmo não!

Que coisa burra

Algoritmo não!

Algoritmo, yeah!

Que coisa burra