CARLOS CASTELO

A incrível história de Adverson, o rei do gol contra, por Carlos Castelo

Com classe, a conduziu com o pé direito. Passou por um zagueiro, driblou um lateral, ludibriou o goleiro e armou uma bomba indefensável no ângulo esquerdo. Golaço! Contra!

O centroavante.Créditos: Pixabay
Escrito en OPINIÃO el

"Centroavantes, toureadores velhos e mercenários, você os conhece de longe. São sobreviventes de profissão. Estiveram com a morte e voltaram, e têm as cicatrizes para provar. Restam poucos centroavantes no mundo. O jeito desconfiado, os gestos tensos, o cigarro nos dedos nervosos, os olhos cansados, você os conhece."

Foi assim que o escritor Luis Fernando Verissimo definiu essa singular posição futebolística em sua crônica Centroavantes. Sim, são incomuns os dianteiros. E sempre nos surpreendem com novos tons e maneiras de atuar.

Não foi diferente com Adverson. Ele veio das categorias de base de um time carioca e, por causa da contusão do ponta-de-lança titular, acabou entrando num derby do Brasileirão.

Seu time perdia por um a zero. Aos 37 minutos do segundo tempo, Adverson dominou a bola na intermediária. Com classe, a conduziu com o pé direito. Passou por um zagueiro, driblou um lateral, ludibriou o goleiro e armou uma bomba indefensável no ângulo esquerdo. Golaço! Contra!

Baixou silêncio de mais de um minuto no Maracanã. A torcida não sabia como reagir. Por que aquele reserva havia feito um golaço assim... no próprio time?

Não é preciso dizer que o tento do novato foi o assunto principal dos programas esportivos de todos os segmentos da comunicação.

Dias depois, a equipe de Adverson voltou ao gramado. No início do primeiro tempo, já estava levando de dois a zero. As arquibancadas, em revolta pela performance de seu esquadrão, começaram a gritar e exigir:

“Adverson! Adverson! Adverson!”

Minutos depois, para regozijo da geral, entrou o camisa 666. Na primeira vez que a bola chegou a seus pés, driblou dois colegas de time e disparou, de sem-pulo, para a própria meta: gol contra!".

Uma pintura, aliás. Só que uma obra-prima, nem concebida pelo rei Pelé, ainda estava por vir. Faltando três minutos para o fim da peleja, Adverson roubou uma bola no centro do campo, se virou para trás e, de chapa, a enviou direto para a meta do seu goleiro. A redonda promoveu um longo e demorado arco até mergulhar mortalmente no filó. Quatro a zero, com dois golaços contra do novo nome do Brasileirão.

Agora, Adverson está na boca dos jornalistas esportivos do planeta. É o centro das atenções e, cada vez que entra em campo, a expectativa é enorme para ver se conseguirá anotar mais um sensacional gol contra. Grandes empresas já sondaram o jogador para estrelar suas campanhas publicitárias.

E não para por aí. Adverson está sendo cobiçado pelos maiores clubes da Europa. PSG, Real Madrid e Manchester United já teriam manifestado interesse em contratá-lo.

Após o "fenômeno Adverson", até a FIFA se manifestou, prometendo mudar as regras do esporte bretão para que novos "craques ao contrário" tenham seu espaço garantido nos campeonatos mundo afora.

E assim, Adverson segue escrevendo seu nome na história do desporto. Uma página de cada vez, um gol contra de cada vez. A lenda continua.