Odoacro: o desconhecido que sepultou o Império Romano ocidental e se tornou primeiro rei da Itália
Conheça a história do primeiro rei da Itália, no início do que viria ser a idade média
A queda do Império Romano do Ocidente é um dos eventos mais marcantes da história europeia, frequentemente associada ao ano de 476 d.C., quando o último imperador romano ocidental foi deposto.
No centro desse momento histórico estava Odoacro, um líder militar de origem bárbara que viria a se tornar o primeiro rei da Itália pós-romana. Sua ascensão ao poder marcou o fim oficial do império no Ocidente e o início de uma nova era política, social e cultural na Europa.
Sua vida
Odoacro nasceu por volta do ano 433 d.C., possivelmente na região da Panônia (atual Hungria), em uma família de origem germânica — provavelmente pertencente ao povo dos hérulos ou esciros, ambos grupos bárbaros aliados e, às vezes, inimigos do Império Romano.

Seu pai, Edeco, teria sido um oficial a serviço de Átila, rei dos hunos, o que indica que Odoacro cresceu em um ambiente marcado pela constante convivência (e conflito) entre romanos e povos bárbaros.
Na juventude, Odoacro entrou para o exército romano como mercenário — uma prática comum na época, já que o império dependia fortemente de soldados bárbaros para defender suas fronteiras. Ele rapidamente ascendeu nas fileiras militares e, por volta de 470 d.C., liderava uma grande força composta principalmente por germanos integrados ao exército romano.
A Queda de Rômulo Augusto e a tomada do poder
Em 476 d.C., o império romano ocidental já estava profundamente enfraquecido. O imperador Rômulo Augusto, um jovem colocado no trono por seu pai, o general romano Orestes, era pouco mais do que uma figura simbólica.
Quando Orestes se recusou a conceder terras aos soldados bárbaros que exigiam se estabelecer na Itália, Odoacro liderou uma revolta. Derrotou e executou Orestes e depôs Rômulo Augústulo, que foi poupado e exilado, provavelmente em Nápoles.
Esse ato é tradicionalmente considerado o fim do Império Romano do Ocidente. No entanto, Odoacro não se proclamou imperador de Roma.
Em vez disso, enviou as insígnias imperiais a Constantinopla, ao imperador do Oriente, Zenão, reconhecendo simbolicamente sua autoridade, mas deixando claro que a Itália passaria a ser governada por ele, com o título de rei dos hérulos e, mais amplamente, rei da Itália.

(foto: domínio público)
Reinado e Administração
Odoacro governou a Itália de 476 a 493 d.C. Durante seu reinado, procurou manter certa continuidade com as estruturas romanas. Respeitou as instituições existentes, manteve o Senado romano ativo e promoveu relativa estabilidade na península Itálica. Embora fosse bárbaro, sua política foi de conciliação com os romanos e com a Igreja. Ele também redistribuiu terras entre seus soldados, o que ajudou a consolidar seu poder.
No entanto, Odoacro enfrentava oposição tanto interna quanto externa. Sua relação com o Império Romano do Oriente foi sempre tensa. O imperador Zenão via seu governo com desconfiança e acabou apoiando um rival para tirá-lo do poder: Teodorico, o Grande, rei dos ostrogodos.
Queda e morte de Odoacro
Em 488 d.C., Zenão autorizou Teodorico a invadir a Itália. Ostrogodos e hérulos entraram em conflito em uma guerra longa e devastadora. Após várias batalhas sangrentas, Teodorico derrotou Odoacro e cercou Ravena, capital do reino. Em 493 d.C., após quase três anos de cerco, Odoacro se rendeu. Em um gesto que parecia marcar a reconciliação, os dois líderes combinaram de governar juntos.
No entanto, poucos dias após esse acordo, Teodorico traiu Odoacro. Convidou-o para um banquete e o assassinou com as próprias mãos, segundo relatos da época. Sua morte marcou o fim definitivo do seu breve reinado e o início do Reino Ostrogodo da Itália, sob comando de Teodorico, que governaria com habilidade e manteria parte da herança romana por algumas décadas.
Legado
Odoacro é uma figura complexa: bárbaro e romano ao mesmo tempo, responsável tanto pelo fim simbólico do Império Romano do Ocidente quanto por preservar, por algum tempo, suas instituições. Seu governo representou uma transição importante entre a Antiguidade e a Idade Média. Ele não destruiu Roma, mas a transformou, liderando a península Itálica em um momento de profundas mudanças políticas e culturais.
Embora seu nome não tenha o mesmo peso que outros grandes conquistadores, como Átila ou Carlos Magno, Odoacro ocupa um lugar único na história: o homem que fechou um capítulo de mil anos da história romana e abriu as portas para a formação da Europa medieval.