Heliogábalo: quem foi o imperador "esquecido" de Roma, polêmico até os dias de hoje
Conheça o imperador controverso, sua breve vida e seus supostos escândalos sexuais
Poucos nomes da história antiga provocam tanta curiosidade, controvérsia e fascínio quanto Heliogábalo. Quando se fala em imperadores romanos excêntricos, escandalosos ou à frente de seu tempo, seu nome surge como um dos mais enigmáticos. Mas quem foi Heliogábalo, e por que sua figura ainda desperta debates acalorados séculos depois? Seria ele um mártir da liberdade de expressão e identidade, ou apenas uma vítima da propaganda política de seus inimigos?
Neste artigo, mergulhamos nos mitos, relatos e escândalos que cercam esse personagem singular da Roma Antiga. Mais do que recontar sua vida, queremos explorar por que Heliogábalo continua a intrigar estudiosos, artistas e leitores. Prepare-se para conhecer uma figura que rompeu com as normas de seu tempo — e que talvez diga muito sobre os dilemas do nosso. Descubra quem foi Heliogábalo e por que ele ainda incomoda tanto.
Quem foi Heliógabalo
Como muitos imperadores romanos, Heliogábalo — nome póstumo de Sextus Varius Avitus Bassianus — teve um reinado curto e envolto em escândalos.

Carole Raddato/Creative Commons)
Subiu ao trono com apenas 14 anos, em 218 d.C., após uma conspiração liderada por sua avó, Júlia Mesa. Ela era irmã de Júlia Domna, esposa do imperador Sétimo Severo e mãe de Caracala, assassinado um ano antes.
Para vingar a morte do sobrinho e restaurar a dinastia, Júlia Mesa promoveu o neto como filho ilegítimo de Caracala, conquistando o apoio das legiões da Síria e derrubando o então imperador Macrino.
Originário de Emesa, na Síria, Heliogábalo era sacerdote do deus solar Elagabal, de onde vem seu nome histórico. Uma vez no trono, tentou impor o culto oriental ao deus sírio acima dos deuses tradicionais romanos, chocando o Senado e a população. Mandou construir um templo monumental para a pedra negra sagrada que representava Elagabal, o que foi visto como uma afronta religiosa à Roma tradicional.
Além das controvérsias religiosas, seu comportamento pessoal causou escândalo generalizado. Fontes antigas como Cassius Dio e a História Augusta — embora muitas vezes sensacionalistas e enviesadas — relatam que Heliogábalo ignorava normas de gênero, referia-se a si mesmo como mulher, casava-se com homens e mulheres, e queria passar por uma cirurgia de mudança de sexo.
Também teria promovido festas extravagantes, vendido cargos públicos e exibido comportamento considerado ultrajante até pelos padrões da elite romana.
Em pouco tempo, perdeu o apoio político e militar. Júlia Mesa, percebendo o desgaste do neto, passou a favorecer seu primo Alexandre Severo. Em 222, aos 18 anos, Heliogábalo foi assassinado pelos guardas pretorianos, junto com sua mãe, e seus corpos foram jogados no rio Tibre. O Senado ordenou a destruição de sua memória — a chamada damnatio memoriae — apagando imagens, moedas e registros oficiais.
Apesar da tentativa de apagá-lo da história, Heliogábalo permanece como um dos imperadores mais lembrados da Antiguidade.
Sua figura foi posteriormente resgatada por escritores e artistas como símbolo de transgressão, excesso e liberdade sexual. Entre o mito e a realidade, sua breve vida continua fascinando historiadores e inquietando leitores.
Vale ressaltar que Heliogábalo sofre do mesmo problema que todos os outros imperadores romanos: não se sabe ao certo se todos seus comportamentos sexuais ou imorais ocorreram de fato, ou foram apenas propagandas para destruir sua imagem.