CARLOS CASTELO

Hoje, o humor virou uma piada, por Carlos Castelo

E, de decadência em decadência, nós sabemos: o pano cai e não sobe mais. Ai, ai, meu Deus. O que foi que aconteceu com o teatro brasileiro?

O Pastelão.Créditos: dvidshub/net
Escrito en OPINIÃO el

§ O humor era usado como uma ferramenta de crítica social e política. Por meio de piadas, sátiras e comédias, seus autores expunham injustiças, hipocrisias e absurdos da sociedade de uma maneira mais facilmente compreendida e aceita pelo público. Isso desempenhava um papel importante na conscientização e na incitação à mudança. O humor era uma linguagem universal, que unia pessoas de diferentes culturas, idades e origens. Ele criava um senso de pertencimento, promovendo a coesão social. O humor envolvia a quebra de expectativas, pois requeria pensamento flexível e criativo. Isso incentivava as pessoas a verem as coisas de uma nova perspectiva. O humor também era uma maneira de expressar identidade cultural. As piadas e histórias que as pessoas contavam refletiam suas experiências de vida, valores culturais e perspectivas únicas. O humor era uma parte essencial da sociedade, desafiava o status quo e ajudava a enfrentar situações difíceis. Como dissemos: era. Hoje, o humor virou uma piada.

§ A impressão que me dá ao ver o Vision Pro, aqueles óculos virtuais da Apple, é que lançaram o produto correndo, para tentar passar a perna na concorrência. Acontece, às vezes, nas melhores empresas do Vale do Silício. E os resultados, como podemos notar, é um vale de memes, gif's e outras manifestações de mofa. Vamos combinar que o Vision Pro não é assim um portento do design. Começa daí. Não considero maldade as redes sociais compararem seus usuários ao Lequetreque, da Sadia. Fora aquele fiozão atrás, na era do wireless. Mais um indício de que queimaram a largada e botaram nas prateleiras um mico de 35 mil reais (por aí, no Bananão). O pior, pelo menos para mim, é o Vision Pro ser mais um produto que bloqueia o diálogo (já rarefeito) entre humanos. Estar com aquilo enfiado no meio dos olhos transforma qualquer indivíduo num ermitão, quiçá antissocial, se não violento. Jeová queira o contrário. O Vision Pro, afinal, como diz o próprio nome, é pro vision, mas não tão pro assim à comunicação interpessoal. Meus dólares pelo produto, assevero, a Apple não verá.

§ Ai, ai, meu Deus. O que foi que aconteceu com o teatro brasileiro? Nos tempos idos, você abria o jornal (de papel) e lá estavam espetáculos de Tchekhov, Shakespeare, Beckett, Pinter. Hoje, não se abre mais o jornal, se vai ao Sympla. E o que se encontra? Peças com aquele humor caça-níqueis, do tipo Gargalhada Selvagem, Show de Hipnose Cômica e por aí la nave va. Sem mencionar a preponderância, quase absoluta, de stand ups infames. A segunda linha é a metafísica barata: Allan Kardec, excertos de textos de Chico Xavier transpostos para o palco etc, etc. Até autoajuda dramaturgizaram, como é o caso de Nunca desista de seus sonhos, para ficar apenas num exemplo. Enfim, mais uma atividade artística que entrou em declínio. E, de decadência em decadência, nós sabemos: o pano cai e não sobe mais. Ai, ai, meu Deus. O que foi que aconteceu com o teatro brasileiro?

§ A patrulha ideológica atacou a patrulha moral no Facebook. Ao saber do fato, a patrulha identitária culpou a patrulha midiática. Os patrulheiros televisivos postaram nas redes sociais que não tinham nada a ver com aquela ingerência. Logo, a patrulha antihumoristas afirmou que a declaração era uma piada. Revoltados com a intromissão, a patrulha pela liberdade propôs uma intervenção federal na internet. Foi quando a patrulha dos patrulheiros se meteu no Twitter. Pediam o fim dos patrulhamentos em todos os setores e segmentos. Horas depois, foram todos levados à uma delegacia por uma radiopatrulha.