O professor chinês Jiang Xueqin, que mantém um canal no YouTube dedicado a explorar a psico-história (conceito da série Fundação, de Isaac Asimov), alertou há um ano sobre o mundo estar à beira de um desastre geopolítico protagonizado pelos Estados Unidos. Ele destacou principalmente as forças internas que empurram os EUA para um possível confronto militar com o Irã — uma previsão que se confirmou após a entrada do país no conflito no Oriente Médio, no último sábado (21), e o cessar-fogo de 12 horas anunciado nesta segunda-feira (23).
Segundo Xueqin, três grupos com grande poder de lobby nos EUA têm interesse direto em uma guerra: o Lobby de Israel (formado por organizações como o AIPAC e grupos cristãos sionistas), os interesses financeiros de Wall Street (que se beneficiam do controle global sobre transações financeiras) e a Arábia Saudita, que vê o Irã como uma ameaça existencial.
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Xueqin argumenta que, além desses interesses políticos, há um fator psicológico perigoso: o que ele chama de "hubris militar". Desde a Guerra do Iraque, os EUA têm apostado na doutrina do "choque e pavor" ("shock and awe"), baseada em superioridade aérea, tecnologia e forças especiais, mas sem considerar princípios clássicos de guerra, como proteção de suprimentos e apoio da opinião pública.
Lições históricas: Vietnã, Atenas e a Ucrânia como alertas
Para Xueqin, o maior risco é que os Estados Unidos repitam os erros de conflitos como o Vietnã, onde, mesmo sabendo que a guerra era impossível de vencer, os EUA continuaram envolvidos devido à lógica do “sunk cost” — ou seja, não abandonar uma guerra por já ter investido muito nela.
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Ele também compara o cenário a dois outros momentos históricos: a derrota de Atenas na Sicília, no século V a.C., e o atual conflito entre Rússia e Ucrânia, onde decisões estratégicas foram tomadas mais por vaidade política e imagem pública do que por cálculos militares sólidos.
“Quando você tem poder nuclear, quando você tem o maior orçamento militar do mundo, é fácil cair na ilusão de que é invencível”, afirmou Xueqin.
Para ele, a combinação de interesses privados, pressão midiática, estratégia militar ultrapassada e ego político pode levar os EUA a um confronto de grandes proporções, sem um plano claro de saída.
O papel de Trump e os riscos de uma segunda presidência
Jiang Xueqin também apontou que uma eventual vitória de Donald Trump nas eleições poderia acelerar esse processo. Segundo o professor, figuras como Jared Kushner (genro de Trump, com forte ligação com Israel e Arábia Saudita) e a ex-governadora Nikki Haley — cotada para ser vice — já demonstraram, durante o primeiro governo Trump, forte apoio a ações militares contra o Irã.
Além disso, a retórica de “defesa da democracia” e o argumento da ameaça nuclear iraniana seriam usados como justificativa pública para uma invasão — outra afirmação que também se concretizou.
Consequências globais: risco de colapso militar e econômico
Xueqin conclui que, em um cenário de guerra, os EUA enfrentariam imensas dificuldades logísticas: tropas encurraladas, linhas de suprimento frágeis e uma incapacidade industrial para sustentar um conflito prolongado, devido à desindustrialização americana.
Para ele, a única saída para os EUA, caso presos em um impasse militar, seria recorrer a uma escalada nuclear — o que poderia colocar o mundo inteiro em risco.
“O Irã, por sua geografia, história e resistência, pode transformar qualquer invasão em um pesadelo logístico e político para os Estados Unidos”, alerta.