O analista político Hugo Albuquerque esteve no Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (23) para comentar sobre a guerra entre Israel e Irã, que envolve também os Estados Unidos e deve ser intensificada com a participação de outros países como Rússia. Após reunião entre o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, e o presidente Vladimir Putin, a Rússia declarou que a parceria com o país do Oriente Médio é "inquebrável".
Hugo explicou que a Rússia já ajuda o Irã e que a questão agora é o quanto o país russo vai poder entrar na guerra. "Tudo leva a crer que o que aconteceu ultimamente foi uma unificação dos confrontos na Ucrânia e agora no Oriente Médio, o que envolve a Rússia também", disse o analista. Ele afirmou que a ajuda da Rússia ao Irã não se dá somente por parceria econômica devido ao BRICS, mas também porque a queda do Irã poderia significar a queda do país russo também. No entanto, a grande dificuldade que a Rússia pode enfrentar é como ela ajudaria o Irã sem provocar uma Terceira Guerra Mundial, segundo Albuquerque.
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O analista também citou a influência chinesa na guerra, e afirmou que "dificilmente a Rússia e a China vão deixar o Irã cair com uma invasão"."No mínimo, eles vão prover armamento, algum tipo de ajuda", disse. A questão que fica evidente, de acordo com Albuquerque, é que a situação no Oriente Médio vai ter de ser resolvida de alguma maneira, se não haverá uma grande guerra.
"Não é uma guerra qualquer. Não é a guerra do Iraque de 20 anos, é uma guerra muito maior, porque o Irã é um país maior, é um país antigo, uma nação milenar que já enfrentou guerras tremendas, já foi dominado, já se reconstruiu enquanto país ao longo desses 2.500 anos que o Irã existe", explicou Albuquerque. Ele acrescentou que o próprio Donald Trump sabe que esses fatores significam um grande problema para ele.
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"O Trump não queria essa guerra, não nesse momento, embora ele seja mais hostil ao Irã do que os democratas. Mas ele já tinha sido taxativo de que não entraria nessa aventura agora, porque essa guerra tem um peso para a economia americana muito grande", afirmou Hugo. No entanto, o analista explicou que os EUA tiveram que entrar na guerra devido ao papel do lobby sinonista dentro do governo americano. "Isso fez com que o Trump perdesse a briga e antecipasse uma guerra que, talvez, ele projetasse para o futuro, mas que ele não poderia tocar agora por razões eminentemente econômicas", destacou.
"Então, não é uma coisa tranquila lá dentro [do governo americano]. Não é nada tranquilo, e para a Rússia também não é", disse Albuquerque. Ele afirmou que a Rússia sabe que o ataque aos aeródromos russos, há duas semanas, não foi uma coincidência e não foi tocado pela Ucrânia. "A Ucrânia sozinha não conseguiria agir dentro do território russo daquela maneira. Então, de fato, o Putin já colocou a possibilidade de que possa estourar uma Terceira Guerra Mundial. Não é brincadeira, ele não ia falar isso à toa. Acho que a questão da Terceira Guerra está colocada há 3 anos pelo menos. E só tem piorado de lá para cá", afirmou Hugo.
Por que Israel atacou o Irã agora
Ele também analisou por que Israel atacou o Irã neste momento, e afirmou que o país iniciou a guerra "porque Netanyahu é uma figura que precisa sobreviver politicamente". "Então, ele precisa da guerra", resumiu.
"Minha teoria sempre foi de que a guerra ia ser mantida de maneira permanente pelo Netanyahu, mas o Estado maior, o estado profundo israelense, precisa usar do Netanyahu disfuncional, disposto a fazer tudo para se manter no poder, para executar seus objetivos estratégicos", acrescentou o analista.
Albuquerque explicou que Israel entende que é um problema muito grande o Irã se tornar um hub de comércio via BRICS naquela região
"O grande problema é, uma vez que o Irã se desenvolva, se integre via esse sistema global paralelo que é o BRICS, e você tem um país que concorre com a influência israelense na região. Essa influência israelense se dá de modo indireto. Ela se dá com Israel tendo uma relação por dentro dos Estados Unidos e do Ocidente, negociando com lideranças", esclareceu Hugo.
"Se o Irã está forte, é uma ameaça a isso. E isso não é uma questão de Netanyahu, isso é uma questão do Estado israelense que utiliza uma figura política, que é um sujeito que está desesperado, sim, mas essa disfuncionalidade dele é usada. Mais ou menos como o Bolsonaro aqui no Brasil", complementou o analista.
"É óbvio que houve uma concordância, um uso instrumental do Netanyahu numa disputa que é estratégica que visa derrubar um país que é importante e alternativa ao papel de Israel", ressaltou Hugo. Ele acrescentou que o papel do Estado israelense é "ser representante físico desse capitalismo financeiro que é tramado nas grandes capitais europeias e nos Estados Unidos".
Apoio da Arábia Saudita ao Irã
Hugo também falou sobre o apoio da Arábita Saudita ao Irã. Ele esclareceu que o país "não é um Estado real", e que foi construído artificialmente pelos ingleses. "Tem o nome de uma família e essa família chefia outras famílias que governam o país autocraticamente. O bin Salman tem uma política um pouco diferente dos ancestrais dele. Ele tenta fazer um jogo duplo com o Ocidente e o Oriente, ao contrário de ficar só na mão de ingleses e americanos", explicou Albuquerque.
"Ele é uma figura altamente ambígua, uma figura perigosa", acrescentou o analista. Ele destacou que é preciso entender que não só o governante, o regime, como o próprio país é uma criação anglo-americana que depois os americanos mantiveram. "Então, muito provavelmente, o bin Salman está de alguma maneira tentando falar algo que agrade a essas famílias que ele governa e à própria massa saudita, e dar uma satisfação para os árabes e muçulmanos do mundo inteiro, afinal de contas Meca fica ali dentro. Mas muito provavelmente ele não tá falando tão sério", avaliou Albuquerque.
O analista afirmou que "o que vai se resolver no campo de batalha é a capacidade do Trump de botar tropas de solo". "Porque não é só bombardeio que vai resolver a questão do Irã, o que vai derrubar o Irã seria um ataque com armas de destruição em massa por parte dos Estados Unidos ou uma invasão americana por terra", destacou Hugo.
O apoio que o Irã teria, segundo Albuquerque, seria da Rússia, mas que o movimento sionista dentro do país russo também tem forte influência. "Não são poucos os oligarcas dentro da Rússia que operam, às vezes por dentro do Estado, e o Putin sabe muito bem disso", disse o analista.
Hugo ainda acrescentou que, diante de questões políticas e econômicas tão complexas, a diplomacia "é bobagem", e quem vai decidir o futuro da guerra é "quem tem possibilidades econômicas e políticas de botar ou não botar tropas e armas. "Porque o que evitaria um conflito iraniano seria o contrário da acusação que fazem contra o Irã. Se o Irã tivesse de fato armas nucleares, ninguém estaria discutindo de invadir uma potência nuclear. Infelizmente, é essa dura realidade do mundo", finalizou.
Confira a entrevista completa de Hugo Albuquerque ao Fórum Onze e Meia
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