No discurso histórico proferido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da 78ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (19), para além do conteúdo merece destaque o visual escolhido pelo brasileiro, que optou por usar a sua "gravata da sorte".
Lula abordou os principais temas globais, como desigualdade, guerras, mudança climática e uma reforma na governança global. Enquanto a "gravata da sorte", listrada com as cores nacionais do Brasil - verde, amarelo, azul e branco - é repleta de simbologia.
Te podría interesar
Pelas redes sociais, a primeira-dama, Janja Lula da Silva deu spoiler do look de Lula pelas e o fotografou enquanto se arrumava para cumprir a agenda em Nova Iorque (EUA).
— Janja Lula Silva (@JanjaLula) September 19, 2023Te podría interesar
A peça estampada com as cores da bandeira nacional já faz parte do acervo imagético da população brasileira. Lula costuma usar essa gravata em eventos internacionais e nacionais importantes.
A primeira vez que o presidente brasileiro vestiu a gravata foi na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, durante seu segundo mandato presidencial.
Neste ano, no terceiro mandato à frente da Presidência da República, Lula usou a peça durante encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, em abril.
Ele também a usou para apresentar a candidatura do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, em cerimônia realizada em outubro de 2009, em Copenhague, na Dinamarca. A capital fluminense acabou sendo a escolhida para sediar a competição.
A "gravata da sorte" também foi usada por Lula quando enfrentou, cara a cara, o ex-juiz da Operação Lava Jato, atualmente senador Sergio Moro (União Brasil-PR). O depoimento, em maio de 2017, durou mais de cinco horas. Durante todo esse tempo, o petista se mostrou seguro e respondeu a todas as perguntas relacionadas ao processo no qual era réu pelo que ficou conhecido como o "caso do triplex".
Nesse evento específico, a peça com as cores nacionais não deu muita sorte a Lula. Ele acabou sendo preso em decorrência de um processo marcado por law fare por 580 dias na carceragem da Polícia Federal (PF), em Curitiba (PR). Lula foi detido no dia 7 de abril de 2018 e só foi libertado no dia 8 de novembro de 2019.
Os estragos da Operação Lava Jato à democracia brasileira já estavam feitos. Quando Lula foi finalmente posto em liberdade, depois de ter sido impedido de participar das Eleições presidenciais de 2018, Jair Bolsonaro estava eleito presidente. Já Moro, o algoz que colocou ex-presidente na cadeia sem provas, virou ministro da Justiça do mandatário de extrema direita.
Mas a justiça acabou sendo feita com uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em março de 2021, que anulou todas as provas fajutas contra Lula. Reabilitado, ele concorreu à Presidência em 2022 e foi eleito para o seu terceiro mandato como mandatário brasileiro.
Durante o primeiro debate presidencial do segundo turno do ano passado, dia 17 de outubro, Lula usou novamente o seu amuleto da sorte. Deu certo.
O 'verde-bélico' de Zelensky
Em contraponto à elegância de Lula durante seu discurso na ONU e aos trajes usualmente usados por chefes de Estado durante o evento, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, optou pelo traje de cunho militar que usa em todas as suas aparições públicas desde o início do conflito contra a Rússia, em fevereiro de 2022.
O ex-ator ucraniano, curiosamente considerado a 'estrela do evento' pela mídia comercial brasileira, usa variações do mesmo look em que predomina o verde-oliva, cor adotada por militares mundo afora por facilitar a camuflagem das tropas.
Nas vestes desta terça-feira, na sede da ONU, o "verde-bélico' de Zelensky predominou: camisa de malha com manga comprida, calça cargo e botas de trabalho. O mesmo visual foi o escolhido pelos outros integrantes da comitiva ucraniana.
Em janeiro deste ano, durante a primeira visita oficial fora da Ucrânia desde o início da guerra, ao Congresso dos EUA, na capital Washington, Zelensky fez uma declaração com sua aparência. Ao invés do tradicional terno e gravata, ele usou o que passou a ser seu estilo característico.
O registro da escolha das roupas do líder ucraniano foi feita pelo jornal The Washington Post, que enfatizou que ele "parecia mais um soldado fazendo uma pausa rápida do campo de batalha do que um chefe de estado em uma missão diplomática".
Moda, uma ferramenta política
Tanto a escolha de Lula quanto de Zelensky são intencionais. As cores nacionais brasileiras na gravata simbolizam, nesse discurso, o retorno do Brasil a um posto de relevância no cenário internacional e a reconstrução da democracia brasileira devastada pelo mandatário anterior.
Já as roupas que remetem ao campo de batalha do ucraniano têm desempenhado um papel crucial na maneira como Zelensky constrói sua imagem. Essas peças em 'verde-bélico' passam a mensagem de autoridade, sinalizam patriotismo, demonstram determinação e expressam poder tipicamente masculino.
A moda muitas vezes é performática, o que a torna uma valiosa ferramenta política.