Diz o ditado popular que "você é o que você come". Depois do histórico voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no julgamento do primeiro golpista de 8 de janeiro nesta quarta-feira (13), é possível afirmar também que "você é o que você veste".
Moraes, relator da Ação Penal 1060 que julga o bolsonarista Aécio Lúcio Costa Pereira pelos atos golpistas de 8 de janeiro, evocou um conceito inusitado como prova do crime praticado pelo réu: confissão de vestimenta.
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O magistrado explicou que, além da coleção de fotos e vídeos nos quais o réu se auto-incrimina, a camiseta usada por ele durante invasão ao Senado Federal é mais uma prova do envolvimento com turba ensandecida que depredou as sede dos Três Poderes, em Brasília, no fatídico 8 de janeiro.
O ministro da Suprema Corte, em seu voto, destacou:
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Os extremistas, entre eles o réu, que se auto-intitulam 'Os Patriotas', usava uma camisa 'Intervenção Militar. Aqui não é uma confissão oral pelos vídeos, é uma confissão de vestimenta. Configura um crime.
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Moda bolsonarista: como a camiseta do primeiro golpista julgado pelo STF se tornou uma confissão
— Revista Fórum (@revistaforum) September 13, 2023
Ministro Alexandre de Moraes, relator da Ação Penal que julga bolsonaristas envolvidos no quebra-quebra de 8 de janeiro, em Brasília, classifica a peça de roupa do réu como… pic.twitter.com/yiQHbtSlsF
Embrião do pesadelo
Remonta às Jornadas de Julho de 2013 o embrião da 'moda bolsonarista', que sequestrou as cores nacionais e adotou a camiseta da Seleção Brasileira de Futebol, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), como uniforme.
Naqueles atos, há mais de uma década, já pairava no ar o cheiro do fascismo. Parte dos manifestantes bradavam gritos como 'Vem pra rua', mais similar a um slogan de propaganda de carro do que pauta popular; e "Sem partido", num anúncio assustador de vetar visões diferentes de mundo e a pluralidade do povo brasileiro. Nem as cores escaparam, vermelho virou sinônimo do inimigo a ser combatido, a imaginária 'ameaça comunista'.
Estética bolsonarista
Com a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência da República a estética bolsonarista, de extrema direita, se consolidou. Além do verde e amarelo, os apoiadores do ex-capitão do Exército desfilavam com camisetas em homenagem a torturadores da Ditadura Militar, como o horrendo coronel Brilhante Ustra.
Outro personagem que incorporou os horrores da estética bolsonarista foi o então ministro da Economia, Paulo Guedes. Em agosto de 2020, durante desabafo sobre a debandada na pasta comandada por ele, o 'Posto Ipiranga' mostrou que, além do pouco caso com a dignidade da classe trabalhadora, também não dá muita bola para higiene pessoal.
Naquela ocasião, Guedes foi flagrado com caspas sobre os ombros do terno cinza-chumbo, em padronagem risca de giz. Para arrematar o visual, uma gravata insípida que remetia à necropolítica então em voga no país.
A dermatite seborreica no couro cabeludo do líder da desastrosa política econômica do governo Bolsonaro é uma inflamação que pode causar muita coceira, manchas vermelhas, irritação e feridas, mas tem tratamentos simples além de xampus especializados: vinagre de maçã, gel de babosa, suco de limão… Já para a sanha privatista “família vende tudo” do ultraliberal não tem tratamento.
Reacionário e desleixado
A cafonice e o desleixo foram marcas da era Bolsonaro. O ex-mandatário, hoje inelegível e atolado em denúncias de crimes na Justiça, deu o tom do que seria o pior governo da história do Brasil logo no início do mandato.
Em fevereiro de 2019, de chinelos, camiseta falsificada, calça de moletom e um blazer mal cortado, o derrotado nas urnas em 2022 posou para foto depois de discutir a reforma da Previdência no Palácio da Alvorada. Era o traje ideal para destruir a Previdência de trabalhadoras e trabalhadores brasileiros.
Ao longo da pior crise sanitária da nossa geração, o ex-presidente insistiu em não usar o item do vestuário mais importante e simbólico dos tempos de pandemia e distanciamento social: a máscara facial. Nem mesmo quando esteve infectado pela Covid-19, em julho de 2020, ex-inquilino do Palácio do Planalto usou a proteção.
Depois de ser desalojado do poder por Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro começou a pagar pelos desmandos e absurdos. Em julho deste ano, a Justiça de São Paulo fez o pedido de bloqueio de mais de R$ 500 mil das contas do ex-presidente. O pedido ocorreu após o não pagamento de multas referentes ao descumprimento do uso de máscaras, quando a medida era obrigatória durante a pandemia da Covid-19. Ao todo, o inelegível acumula uma dívida de mais de um milhão de reais ao estado.
Entre agosto de 2021 e junho de 2022 a Secretaria da Saúde de São Paulo registrou sete ocorrências envolvendo o ex- chefe de Estado, como é possível constatar no portal da Dívida Ativa. Nas ocasiões, a proteção facial era obrigatória em espaços de acesso aberto ao público e vias públicas, como forma de conter a propagação do coronavírus. Os débitos relativos às multas somam exatamente R$ 1.062.416,65.
Atos golpistas de 8 de janeiro
Durante a tentativa de golpe de 8 de janeiro, a Praça dos Três Poderes foi tingida de verde e amarelo dos pseudo patriotas que queriam derrubar um governo eleito pelo povo brasileiro.
Um dos ícones da moda bolsonarista do dia de terror na Capital Federal foi o da extremista Fátima de Tubarão. Ela se enrolou em uma bandeira nacional para vandalizar o prédio do STF.
Fátima de Tubarão Santa Catarina ,67 anos quebrando tudo ???? pic.twitter.com/Z6U6QHcmFP — Senhora RIVOTRIL???? (@SRivoltril) January 8, 2023
Bolsonaristas no Congresso
No Congresso Nacional, em especial na Câmara Federal, a tropa de choque bolsonarista não permite que o povo brasileiro esqueça o que é falta de noção no enfrentamento aos interesses populares e no trajar.
Em dia de folga na Câmara, no dia 17 de março deste ano, a bolsonarista radical Julia Zanata (PL-SC) causou polêmica ao usar uma camiseta que pregava violência contra o presidente Lula.
Pelas redes sociais, ela publicou a foto com a carabina – arma de fogo mais curta que um fuzil. “Com Lula no poder, deixamos um sonho de liberdade para passar para uma defesa única e exclusiva dos empregos, do pessoal que investiu no setor de armas”, escreveu Zanatta.
A camisa que vestia na imagem contava com a frase “come and get it” (“venha e pegue”, em tradução para o português) e uma mão com 4 dedos, assim como a de Lula, com marcas de bala.
Como de praxe, bolsonaristas não aguentam o tranco e sempre recuam dos próprios atos. Com a deputada que adora usar uma coroa de flores na cabeça, não foi diferente. Ela negou que tenha incitado violência e voltou a defender o armamentismo.
Peruca da transfobia
Outro bolsonarista que não foge à regra do mal gosto e da falta de civilidade é Nikolas Ferreira (PL-MG). No Dia Internacional da Mulher deste ano, celebrado em 8 de março, o parlamentar decidiu atacar e debochar das mulheres na tribunal do plenário da Câmara.
Ferreira, também conhecido como chupetinha, colocou uma peruca e fez discurso transfóbico, o que é considerado crime punível com até 3 anos de prisão, de acordo com entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas até o momento nada aconteceu com ele. Pelo andar da carruagem, sairá impune.
A Transfobia de Nikolas Ferreira
Numa “performance” patética o Deputado Federal Nikolas Ferreira (PL-MG) atacou mulheres trans em pronunciamento na Câmara. pic.twitter.com/7rwgy9bMqo — Central da Política (@centralpolitcs) March 8, 2023
Aerolook
Durante a primeira sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas, no dia 25 de maio deste ano, o figurino informal do deputado bolsonarista Abilio Brunini (PL-MT) chamou a atenção e gerou críticas de parlamentares. Ele vestia calça jeans e camiseta.
Para além do traje inadequado, ao longo desses quatro meses de trabalhos do colegiado, Brunini gosta de causar, insultar e tumultuar o andamento das sessões.
Esses são apenas alguns exemplos que sintetizam a 'confissão de vestimenta' da extrema direita. Definitivamente, "você é o que você veste".