Discurso de Bolsonaro na Paulista comprova que ele "arregou" diante de Moraes no STF – Por Ivan Longo
Para radicais tresloucados, ex-presidente culpa a esquerda pelo 8 de janeiro; para o ministro do Supremo, culpa os próprios apoiadores
Além de escancarar o enfraquecimento do bolsonarismo, o ato esvaziado de Jair Bolsonaro na avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (29), comprovou que o ex-presidente “arregou” diante do ministro Alexandre de Moraes, no interrogatório ao qual foi submetido recentemente no Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado.
Acovardado, Bolsonaro, no interrogatório em questão, não apenas pediu “desculpas” a Moraes, como também transferiu a responsabilidade pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 aos seus próprios apoiadores. Para piorar, ainda zombou dos radicais bolsonaristas, referindo-se a eles como “malucos”.
“Eu não torci para o pior, se eu tivesse torcido para o pior, não teria desmobilizado os caminhoneiros lá atrás. E, talvez, pela minha figura, o pessoal não fez absurdo. Agora, tem sempre os malucos ali que ficam com aquela ideia de AI-5, intervenção militar, que as Forças Armadas... Os chefes militares jamais iam embarcar nessa porque o pessoal estava pedindo ali, até porque não cabia isso aí, e nós tocamos o barco”, declarou Bolsonaro na ocasião.
Já no ato fracassado da Paulista deste domingo, longe de Moraes e rodeado por radicais tresloucados, Bolsonaro mudou o discurso e passou a culpar a esquerda pelo 8 de janeiro.
“Chegou o fatídico 8 de janeiro. Um movimento mais do que claro, orquestrado pela esquerda. Lula não estava em Brasília. No dia anterior, ele foi para Araraquara, pois sabia o que ia acontecer. Tanto é que as imagens, de mais de duzentas câmeras, sumiram. Tudo foi quebrado antes de aquelas pessoas que, em parte, estavam no acampamento, chegarem”, afirmou, dirigindo-se a uma plateia esvaziada de saudosistas da ditadura e teóricos da conspiração.
O tom do discurso de Bolsonaro na avenida Paulista apenas reforça algo já cristalino: além de covarde, Bolsonaro é um traidor. Diante de Moraes, pede desculpas, “arrega” e chama os próprios apoiadores de “malucos”. Mas, na frente desses mesmos “malucos” – como ele mesmo os rotula – inverte a narrativa e culpa a esquerda por seu golpismo, deixando evidente que certas coisas ele só tem coragem de dizer em ambientes controlados, para o público que o sustenta.
O fato é que, às vésperas de ser julgado e possivelmente preso por tentativa de golpe de Estado, um dos últimos atos públicos de Bolsonaro antes da prisão teve contornos melancólicos e um prenúncio de que quem debocha e trai será, inevitavelmente, alvo de deboche e traição. No fim, restará a Bolsonaro encerrar sua trajetória política sozinho, testemunhando, pouco a pouco, o bolsonarismo se esvaziar para abrir espaço a uma direita que já ensaia existir sem ele.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum