Com a chegada da Páscoa, milhões de cristãos em todo o mundo voltam sua atenção para dois pilares centrais da sua fé: a morte e a ressurreição de Jesus.
Como observa o professor de Estudos Religiosos da Universidade da Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos, Aaron Gale, especialista em judaísmo antigo e cristianismo primitivo, “o que diferenciava Jesus era a crença de seus seguidores em sua ressurreição”.
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Para os fiéis, esse evento não foi apenas um milagre, mas a prova de que Jesus era o Messias, cumprindo as profecias presentes no Antigo Testamento bíblico.
A ressurreição antes do cristianismo
Contudo, a ideia da ressurreição não era uma exclusividade do cristianismo. A crença na vida após a morte já existia em outras culturas, como a egípcia, com o mito de Osíris, e em tradições judaicas anteriores ao nascimento de Jesus.
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"Uma das primeiras referências judaicas escritas à ressurreição na Bíblia encontra-se no Livro de Isaías , que discute uma era futura, talvez um tempo de julgamento final, em que os mortos ressuscitariam e estariam sujeitos à justiça suprema de Deus. 'Os teus mortos viverão; os seus cadáveres ressuscitarão', profetiza Isaías. 'Os que habitam no pó despertarão e gritarão de alegria'", explica Gale, em artigo publicado no The Conversation.
Textos posteriores, como o Livro de Daniel, reforçam essa ideia. Segundo o professor, essas passagens influenciaram profundamente a visão que os judeus e, mais tarde, os cristãos teriam sobre o destino da alma após a morte.
O pensamento dominante nos tempos de Jesus
Na época em que Jesus viveu, existiam várias correntes religiosas judaicas. A mais influente era a dos fariseus, que, segundo o historiador Josefo, do século I, acreditava que “a alma era imortal e podia ser reunida a um corpo ressuscitado”.
Nos séculos seguintes, os rabinos começaram a fundir as referências bíblicas anteriores à ressurreição corporal com as ideias posteriores dos fariseus. E passaram a discutir o conceito de ressurreição corporal em sua conexão com a era messiânica.
"Os judeus acreditavam que o Messias legítimo seria um descendente do rei bíblico Davi, que venceria seus inimigos e restauraria Israel à sua antiga glória. Nos séculos que se seguiram à morte de Jesus, os rabinos ensinavam que as almas dos mortos seriam ressuscitadas após o Messias aparecer na Terra", aponta Gale. No Talmude, é declarado que quem “não acredita na ressurreição não tem participação no ‘Olam Haba’”, o Mundo Vindouro.
Isso criou uma ponte teológica entre o judaísmo e o que viria a ser o cristianismo. “O conceito cristão da ressurreição de Jesus ajudou a moldar muitos dos principais ensinamentos da fé e, por fim, a separação da nova religião do judaísmo”, pontua o professor.
Da crucificação à ressurreição: a base da fé cristã
Conforme o Evangelho de Mateus, Jesus entrou em Jerusalém pouco antes da Páscoa. “Ele foi acusado de sedição contra as autoridades romanas – e provavelmente de outras acusações, como blasfêmia – principalmente por estar causando distúrbios entre os judeus que se preparavam para celebrar a festa.” Após ser traído por um de seus apóstolos, Judas, foi julgado e crucificado. O temor dos romanos era de que a celebração judaica, que reunia multidões, gerasse uma revolta.
Jesus foi morto na sexta-feira – a Sexta-feira Santa – e, segundo os Evangelhos, ressuscitou no terceiro dia, celebrado pelos seguidores da fé cristã como o Domingo de Páscoa. Os primeiros cristãos “acreditavam não apenas que ele havia ressuscitado, mas que ele era o tão esperado Messias”.
A natureza da ressurreição de Jesus continua sendo debatida do ponto de vista teológico. Porém, como destaca Gale, "o significado mais amplo da ressurreição, registrado em todos os quatro Evangelhos canônicos, permanece evidente para muitos dos cerca de 2 bilhões de cristãos ao redor do mundo: eles acreditam que Jesus triunfou sobre a morte, o que serve como fundamento fundamental da fé cristã".