Alegoria ou realidade?

Atlântida: a lenda da cidade perdida que intriga cientistas até hoje

Talvez um dos maiores mistérios da humanidade seja o paradeiro da cidade perdida de Atlântida. Entenda mais sobre esse mito:

Escrito em História el
Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Atlântida: a lenda da cidade perdida que intriga cientistas até hoje
Atlântida seria um reino de dimensões continentais. wikipédia

Um dos maiores mistérios da história da humanidade é a lenda da cidade perdida de Atlântida. Descrita com detalhes fascinantes pelo filósofo grego Platão há mais de dois mil anos, essa civilização teria sido avançada, poderosa e riquíssima — até ser destruída de forma súbita, submersa no oceano por castigo divino. A história de Atlântida desperta a imaginação de cientistas, arqueólogos, escritores e cineastas até hoje. Mas afinal: Atlântida existiu mesmo ou foi apenas uma metáfora?

A história de Atlântida aparece nos diálogos de Platão chamados Timeu e Crítias, escritos por volta de 360 a.C. Segundo Platão, Atlântida teria existido cerca de 9.000 anos antes de seu tempo e ficava "além das Colunas de Hércules", hoje identificadas com o estreito de Gibraltar. Ele descreve a ilha como um império de dimensões impressionantes, com um povo altamente desenvolvido em arquitetura, agricultura e navegação. No entanto, ao longo do tempo, os atlantes tornaram-se arrogantes e corruptos, abandonando a virtude e provocando a ira dos deuses. Como punição, foram destruídos por terremotos e inundações, e a ilha afundou no mar em um único dia e noite de desgraça.

Alegoria ou realidade?

Muitos historiadores e filósofos acreditam que Platão usou Atlântida como uma alegoria moral e política. Para esses estudiosos, a ilha perdida não seria um local real, mas uma metáfora criada para ilustrar a decadência de sociedades que se afastam da virtude, se entregam ao orgulho e desafiam os limites impostos pelos deuses. Nesse contexto, Atlântida simbolizaria os perigos do poder desenfreado e da arrogância humana. Por outro lado, há quem acredite que Platão pode ter se baseado em fatos históricos distorcidos ou em tradições orais de eventos antigos, como a destruição de cidades costeiras por desastres naturais. Alguns pesquisadores associam a lenda a catástrofes reais, como a erupção vulcânica da ilha de Santorini, que devastou a civilização minoica no Mar Egeu por volta de 1600 a.C.

Busto de Platão
(foto: wikipédia)

Desde a Antiguidade, diversas hipóteses foram propostas sobre onde estaria — ou teria estado — Atlântida. Algumas sugerem que ela se localizava no Mar Mediterrâneo, sendo associada à civilização minoica, enquanto outras apontam para o Oceano Atlântico, entre a Europa e as Américas. Há teorias que consideram regiões como o Caribe, o deserto do Saara, a Antártida e até áreas submersas perto da costa espanhola como possíveis locais da antiga cidade. No entanto, nenhuma dessas hipóteses foi confirmada por evidências arqueológicas sólidas, e a localização de Atlântida continua envolta em especulação e mistério.

Por que os cientistas se dividem

A divisão entre os estudiosos sobre a existência de Atlântida se deve, em grande parte, à falta de provas materiais. Até hoje, não foram encontrados vestígios arqueológicos que confirmem a existência de uma civilização com as características descritas por Platão. Além disso, sua narrativa é a única fonte antiga que menciona Atlântida de forma detalhada, o que levanta dúvidas sobre sua veracidade. O estilo dos diálogos, com forte carga simbólica e filosófica, também reforça a ideia de que Platão pretendia construir uma parábola moral, não um relato histórico. Por outro lado, a existência de cidades antigas destruídas por catástrofes naturais, hoje submersas ou cobertas por sedimentos, alimenta a possibilidade de que uma memória coletiva de tais eventos tenha influenciado o filósofo grego.

Suposta localização de Atlântida
(foto: wikipédia)

Atlântida na cultura popular

A partir do século XIX, a lenda de Atlântida passou a ocupar um lugar de destaque na cultura ocidental. Escritores como Ignatius Donnelly popularizaram a ideia de que Atlântida teria sido uma civilização-mãe, berço de todas as outras. A partir de então, a cidade perdida passou a ser tema recorrente em livros, filmes, jogos e documentários. Na ficção, é retratada tanto como um paraíso afundado quanto como uma civilização altamente tecnológica, muitas vezes ligada a teorias alternativas ou esotéricas. Mesmo sem evidência científica, Atlântida se tornou um símbolo da busca humana por conhecimento perdido, pela origem das civilizações e pela conexão com o desconhecido.

A história de Atlântida continua a fascinar e dividir a opinião de estudiosos e curiosos em todo o mundo. Para alguns, ela é apenas uma alegoria criada por Platão para transmitir ensinamentos morais. Para outros, representa uma civilização real, cuja memória se perdeu com o tempo, mas que deixou vestígios na imaginação coletiva da humanidade. Independentemente de sua existência concreta, Atlântida permanece viva como um dos grandes símbolos do mistério, da soberba humana e do desejo de reencontrar um mundo perdido entre as ondas do tempo.

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