Divisão do Império Romano: por que houve a separação entre ocidente e oriente?
Entenda como o império mais famoso da história se dividiu em dois, e como isso moldou a Europa hoje em dia
O Império Romano, um dos mais influentes da história da humanidade, passou por diversas fases até alcançar sua máxima expansão e posterior declínio. Antes de se tornar um império, Roma foi inicialmente uma monarquia, e depois uma república.
Durante séculos, o Estado romano enfrentou transformações territoriais significativas, conflitos internos, guerras civis, invasões estrangeiras e mudanças profundas em sua estrutura política e administrativa. Essas transições moldaram o curso da civilização ocidental e deixaram um legado duradouro na cultura, na política e no direito.
Da República ao Império
A transição da República Romana para o Império ocorreu oficialmente em 27 a.C., quando Otaviano, sobrinho-neto e herdeiro político de Júlio César, recebeu o título de “Augusto” e tornou-se o primeiro imperador romano. Esse momento marcou o fim das instituições republicanas e o início de uma nova era, caracterizada por uma liderança centralizada, com o imperador detendo amplos poderes militares, administrativos e religiosos.
A partir daí, Roma entrou em um longo período de expansão e estabilidade conhecido como Pax Romana, durante o qual consolidou seu domínio sobre vastos territórios da Europa, norte da África e parte da Ásia.
No entanto, com o tempo, o crescimento territorial e a complexidade da administração imperial tornaram o império difícil de governar de maneira eficiente, sobretudo diante de ameaças internas e externas cada vez mais intensas.
A Divisão do Império: Oriente e Ocidente
Diante dessas dificuldades, o imperador Diocleciano decidiu, no ano de 285 d.C., realizar uma profunda reforma administrativa. Com o objetivo de tornar o governo mais eficiente e reforçar a defesa das fronteiras, ele dividiu o império em duas partes: o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente.
Essa divisão não foi inicialmente uma separação total, mas sim parte de um sistema chamado Tetrarquia, no qual quatro governantes — dois Augustos e dois Césares — administravam diferentes regiões do império de forma coordenada.
Apesar das boas intenções, a Tetrarquia revelou-se instável a longo prazo, e as disputas pelo poder continuaram. A divisão tornou-se definitiva após a morte do imperador Teodósio I, em 395 d.C., quando o império foi oficialmente repartido entre seus dois filhos: Honório passou a governar o Império Romano do Ocidente, enquanto Arcádio ficou responsável pelo Império Romano do Oriente.

(Foto: domínio público)
As Duas Metades do Império
O Império Romano do Ocidente enfrentou inúmeros desafios desde o início. Sua capital foi transferida de Roma para Milão, e depois para Ravena, em busca de maior segurança. A região ocidental era mais vulnerável às invasões de povos germânicos, como visigodos, vândalos e ostrogodos. Além disso, sofria com instabilidade política, crises econômicas e dificuldades para manter um exército bem estruturado. Esses fatores culminaram no colapso da parte ocidental em 476 d.C., quando o último imperador romano do Ocidente, Rômulo Augústulo, foi deposto pelo chefe germânico Odoacro. Esse evento é tradicionalmente considerado o marco do fim da Antiguidade e o início da Idade Média na Europa.
Por outro lado, o Império Romano do Oriente conseguiu manter maior estabilidade política e prosperidade econômica. Com capital em Constantinopla — cidade fundada por Constantino em 330 d.C., sobre a antiga Bizâncio —, o Oriente passou a se desenvolver como uma nova civilização: o Império Bizantino. Influenciado pela cultura grega e pela religião cristã, o império oriental preservou e transformou muitas das instituições romanas, tornando-se um centro de arte, saber e comércio por quase mil anos. Esse império resistiu até 1453, quando Constantinopla foi conquistada pelos turcos otomanos.

(Foto: domínio público)
Importância Histórica da Divisão
A divisão do Império Romano foi um marco profundo na história antiga. Ela refletiu as dificuldades crescentes de manter um território tão vasto sob um controle centralizado e antecipou as grandes transformações que se seguiriam na Europa.
No Ocidente, a queda do império levou à fragmentação do poder, ao surgimento de reinos bárbaros e ao fortalecimento da Igreja Católica como instituição central.
No Oriente, a continuidade do Império Bizantino preservou elementos da cultura clássica greco-romana, influenciando o desenvolvimento do cristianismo ortodoxo.
A divisão não foi apenas geográfica ou administrativa; ela também marcou o início de duas trajetórias históricas distintas: enquanto o Ocidente mergulhava em um longo período de descentralização e ruralização, o Oriente florescia como herdeiro direto da tradição romana, mantendo viva a herança do Império muito depois de sua fragmentação original.