Catolicismo

Santo Onofre: a biografia curiosa do santo ermitão com uma história de arrepiar

Ele foi um dos mais misteriosos e enigmáticos santos do catolicismo; conheça sua história

Escrito em História el
Jornalista formado pela Escola de Jornalismo da Énois e cientista social pela USP. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, Hypeness, UOL e Carta.
Santo Onofre: a biografia curiosa do santo ermitão com uma história de arrepiar
Pintura de Santo Onofre. Maestro de Perea

No deserto do Alto Egito, no século IV ou V, um homem coberto apenas por seus próprios cabelos e uma tanga de folhas vivia entre pedras e animais selvagens.

Seu nome era Onuphrius — ou Santo Onofre, como ficou conhecido no Ocidente —, e sua vida de eremita radical, repleta de visões e milagres, tornou-se uma das histórias mais fascinantes do cristianismo primitivo.

Tudo o que se sabe sobre ele vem do relato de Pafnúcio, um monge que, em peregrinação pelo deserto, deparou-se com uma figura assustadora: um homem selvagem, de barba e cabelos longos, que gritou: "Desça até mim, homem de Deus, pois eu também sou um homem, que vive no deserto por amor a Deus". Era Onofre, que revelou ter vivido 70 anos na solidão, sustentado apenas por pão e água trazidos por um anjo.

Segundo a lenda, Onofre havia sido um monge no mosteiro de Tebas antes de se isolar no deserto. Lá, enfrentou sede, fome e perigos — de escorpiões a ladrões —, mas afirmava que um anjo o visitava toda semana para lhe dar a Eucaristia. Quando Pafnúcio o encontrou, o eremita estava à beira da morte. Antes de morrer, pediu que seu corpo fosse deixado em uma fenda de rochas, pois a terra era tão dura que não poderia ser cavada. Assim que expirou, sua cabana desmoronou, como um sinal de que ninguém mais deveria habitar ali.

A devoção a Onofre espalhou-se rapidamente. No Oriente, ele é venerado como um modelo de ascetismo; no Ocidente, ganhou igrejas e representações artísticas que o mostram como um "homem selvagem", coberto de pelos e folhas. Em Roma, a igreja de Sant'Onofrio, no Monte Janículo, foi erguida em sua homenagem no século XV. Na Sicília, tornou-se padroeiro de tecelões — ironicamente, por não usar roupas — e juristas, devido a uma tradição não confirmada de que teria estudado leis antes de se tornar monge.

Curiosamente, seu nome varia entre culturas: Onofrio (italiano), Onofre (português e espanhol) e até Humphrey (em inglês). Na Sicília, dizem que rezar a ele ajuda a encontrar objetos perdidos, graças a uma oração que invoca seus "cabelos milagrosos". Seus restos mortais são guardados em Sutera, onde uma procissão anual celebra sua vida.

Mas a história mais arrepiante está ligada ao Mosteiro de Santo Onofre em Jerusalém, construído no vale de Geena — o mesmo onde Judas teria se enforcado. Lá, uma escultura mostra o santo curvado diante de um anjo, lembrando aos visitantes que, mesmo na solidão mais extrema, a fé pode sustentar uma vida.

Onofre não foi o único eremita do deserto, mas sua combinação de austeridade e mistério — com direito a anjos e células que desabam — garantiu que sua lenda sobrevivesse por séculos. Hoje, ele é lembrado não apenas como um santo, mas como um símbolo radical da busca pelo divino, mesmo nos lugares mais inóspitos.

Curiosamente, a sua data de veneração é 12 de junho, que coincide com o Dia dos Namorados do Brasil:

Dia dos Namorados é também dos Eremitas, Solitários, Antissociais. Entenda

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