Santo Onofre: a biografia curiosa do santo ermitão com uma história de arrepiar
Ele foi um dos mais misteriosos e enigmáticos santos do catolicismo; conheça sua história
No deserto do Alto Egito, no século IV ou V, um homem coberto apenas por seus próprios cabelos e uma tanga de folhas vivia entre pedras e animais selvagens.
Seu nome era Onuphrius — ou Santo Onofre, como ficou conhecido no Ocidente —, e sua vida de eremita radical, repleta de visões e milagres, tornou-se uma das histórias mais fascinantes do cristianismo primitivo.
Tudo o que se sabe sobre ele vem do relato de Pafnúcio, um monge que, em peregrinação pelo deserto, deparou-se com uma figura assustadora: um homem selvagem, de barba e cabelos longos, que gritou: "Desça até mim, homem de Deus, pois eu também sou um homem, que vive no deserto por amor a Deus". Era Onofre, que revelou ter vivido 70 anos na solidão, sustentado apenas por pão e água trazidos por um anjo.
Segundo a lenda, Onofre havia sido um monge no mosteiro de Tebas antes de se isolar no deserto. Lá, enfrentou sede, fome e perigos — de escorpiões a ladrões —, mas afirmava que um anjo o visitava toda semana para lhe dar a Eucaristia. Quando Pafnúcio o encontrou, o eremita estava à beira da morte. Antes de morrer, pediu que seu corpo fosse deixado em uma fenda de rochas, pois a terra era tão dura que não poderia ser cavada. Assim que expirou, sua cabana desmoronou, como um sinal de que ninguém mais deveria habitar ali.
A devoção a Onofre espalhou-se rapidamente. No Oriente, ele é venerado como um modelo de ascetismo; no Ocidente, ganhou igrejas e representações artísticas que o mostram como um "homem selvagem", coberto de pelos e folhas. Em Roma, a igreja de Sant'Onofrio, no Monte Janículo, foi erguida em sua homenagem no século XV. Na Sicília, tornou-se padroeiro de tecelões — ironicamente, por não usar roupas — e juristas, devido a uma tradição não confirmada de que teria estudado leis antes de se tornar monge.
Curiosamente, seu nome varia entre culturas: Onofrio (italiano), Onofre (português e espanhol) e até Humphrey (em inglês). Na Sicília, dizem que rezar a ele ajuda a encontrar objetos perdidos, graças a uma oração que invoca seus "cabelos milagrosos". Seus restos mortais são guardados em Sutera, onde uma procissão anual celebra sua vida.
Mas a história mais arrepiante está ligada ao Mosteiro de Santo Onofre em Jerusalém, construído no vale de Geena — o mesmo onde Judas teria se enforcado. Lá, uma escultura mostra o santo curvado diante de um anjo, lembrando aos visitantes que, mesmo na solidão mais extrema, a fé pode sustentar uma vida.
Onofre não foi o único eremita do deserto, mas sua combinação de austeridade e mistério — com direito a anjos e células que desabam — garantiu que sua lenda sobrevivesse por séculos. Hoje, ele é lembrado não apenas como um santo, mas como um símbolo radical da busca pelo divino, mesmo nos lugares mais inóspitos.
Curiosamente, a sua data de veneração é 12 de junho, que coincide com o Dia dos Namorados do Brasil:
- Dia dos Namorados é também dos Eremitas, Solitários, Antissociais. Entenda