7 artimanhas mentirosas que aquecem o planeta

Relatório internacional revela como fake news sobre a crise climática minam a ciência, atrasam decisões políticas e colocam em risco as metas globais de redução de emissões

Relatório internacional revela como fake news sobre a crise climática minam a ciência, atrasam decisões políticas e colocam em risco as metas globais de redução de emissões
7 artimanhas mentirosas que aquecem o planeta.Relatório internacional revela como fake news sobre a crise climática minam a ciência, atrasam decisões políticas e colocam em risco as metas globais de redução de emissõesCréditos: Fotomontagem (Canva)
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Enquanto o planeta enfrenta eventos extremos cada vez mais frequentes — de enchentes devastadoras a ondas de calor recordes —, uma outra ameaça, silenciosa e persistente, corrói a base do combate à crise climática: a desinformação.

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Alimentadas por interesses econômicos, políticos de extrema direita, mentiras sobre as causas, consequências e soluções para a emergência ambiental circulam amplamente nas redes sociais, nos discursos de líderes poderosos e até em campanhas publicitárias.

Um relatório do Painel Internacional sobre o Ambiente da Informação (IPIE), divulgado nesta quinta-feira (19), revelou como essas falsidades não apenas confundem a opinião pública, mas sabotam políticas urgentes, atrasam decisões estratégicas e colocam em risco as metas de redução de emissões globais.

Leia aqui o relatório na íntegra (em inglês)

A seguir, desvendamos sete das principais mentiras que estão aquecendo o planeta — e travando a ação climática.

1. Negacionismo clássico da crise climática

Mentira: O aquecimento global não existe ou é um fenômeno natural cíclico, sem relação com a ação humana.

Desde os anos 1970, a ExxonMobil, uma das maiores empresas de petróleo e gás do mundo, tinha conhecimento detalhado — por meio de pesquisas internas — dos impactos que os combustíveis fósseis teriam sobre o clima. Ainda assim, a empresa investiu milhões em campanhas de desinformação para negar publicamente o aquecimento global e desacreditar a ciência climática.

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, repetiu em diversas ocasiões que o aquecimento global seria “uma farsa criada pela China” para enfraquecer a indústria americana — uma alegação infundada que viralizou nas redes sociais e alimentou o negacionismo climático em todo o mundo.

2. Desacreditar soluções climáticas

Mentira: As soluções para a crise climática são ineficazes, perigosas ou custam caro demais.

Após o apagão que atingiu a Espanha em 2021, teorias falsas ganharam força nas redes sociais, culpando a energia eólica pelo blecaute. No entanto, investigações técnicas apontaram que as causas estavam relacionadas a falhas na infraestrutura elétrica, e não ao uso de fontes renováveis.

Campanhas contra veículos elétricos frequentemente alegam que eles poluem mais do que carros a combustão devido à produção de suas baterias. A afirmação distorce evidências científicas: embora a fabricação inicial seja mais intensiva em emissões, estudos demonstram que, ao longo do ciclo de vida, os elétricos emitem significativamente menos gases de efeito estufa.

3. Greenwashing

Mentira: Empresas altamente poluentes são ecologicamente responsáveis.

Empresas como a BP divulgam campanhas publicitárias destacando investimentos em energia renovável, mas mais de 90% de seus recursos continuam destinados à exploração de petróleo e gás — um exemplo clássico de greenwashing.

A Shell veiculou anúncios sugerindo que a salvação do planeta depende da mudança de comportamento dos consumidores — uma estratégia que desloca a responsabilidade para o indivíduo enquanto omite o papel central das grandes corporações na crise climática.

4. Conspirações e teorias absurdas

Mentira: Catástrofes ambientais são parte de planos secretos de governos ou elites.

Vídeos virais em 2023 alegaram falsamente que os incêndios no Havaí teriam sido causados por armas de energia direcionada, em uma suposta conspiração para permitir que bilionários comprassem terras devastadas — uma teoria sem qualquer base factual, amplamente desmentida por autoridades e especialistas.

Teorias da conspiração difundidas no Telegram e no X (antigo Twitter) retratam o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) como uma “organização globalista” dedicada ao controle populacional — uma narrativa infundada que busca desacreditar o consenso científico sobre o aquecimento global.

5. Ataques à ciência e às instituições

Mentira: Cientistas climáticos são alarmistas pagos para mentir; as instituições são corruptas ou ideológicas.

Teorias conspiratórias alegam que a NASA teria manipulado dados de temperatura global para alimentar o alarmismo climático — uma acusação infundada, já desmentida por múltiplas auditorias independentes e revisões científicas.

A Fox News recorrentemente coloca em dúvida os alertas do IPCC, sugerindo que suas projeções são exageradas e que os modelos climáticos seriam imprecisos — uma narrativa que ignora o consenso estabelecido por milhares de cientistas ao redor do mundo.

6. Propagação por robôs e fazendas de trolls

Mentira: Amplificação artificial de conteúdos enganosos para parecerem legítimos e populares.

Segundo o relatório, fazendas de trolls ligadas à inteligência russa operaram perfis falsos no Facebook e no Twitter para disseminar ceticismo climático e confundir a opinião pública às vésperas da COP26, realizada em Glasgow, em 2021.

No X (antigo Twitter), bots automatizados replicaram milhares de vezes declarações de Donald Trump, como a frase “o clima sempre muda, não há com o que se preocupar” — contribuindo para normalizar a negação das evidências científicas.

7. Manipulação de tomadores de decisão

Mentira: Pressão direta sobre parlamentares e reguladores com informações enviesadas e relatórios manipulados.

Think tanks conservadores, como o Heartland Institute, enviaram milhares de panfletos com conteúdo negacionista a professores nos Estados Unidos, numa tentativa deliberada de influenciar os currículos escolares e semear dúvidas sobre a ciência climática nas salas de aula.

Paralelamente, grandes corporações da indústria de combustíveis fósseis financiam estudos com metodologia questionável que afirmam que a redução de emissões comprometeria o crescimento econômico — argumentos amplamente utilizados para barrar legislações ambientais no Congresso dos EUA e no Parlamento Europeu.

Essas mentiras não são meros boatos inofensivos: elas impactam diretamente decisões governamentais, regulatórias e comportamentais, atrasam a transição energética e comprometem as metas do Acordo de Paris. O relatório do IPIE reforça que, sem integridade informacional, a ação climática se torna inviável.

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