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Data centers e crise climática: como a corrida pela IA ameaça recursos naturais no mundo

Especialista alerta para os riscos ambientais de megaestruturas de tecnologia, enquanto mundo mira a Amazônia como novo polo de investimentos

Créditos: CGTN
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O crescimento acelerado dos data centers no Brasil, especialmente com a explosão de soluções baseadas em inteligência artificial (IA), tem levantado preocupações sobre os impactos ambientais e sociais dessas megaestruturas. E não é só o nosso país que levanta o debate acerca do assunto, o mundo todo registra uma crescente expansão desse tipo de estrutura, liderada pelos Estados Unidos e a China.

De acordo com Matheus Moura, CTO e especialista em gestão de portfólio de tecnologia, a relação entre data centers, IA e meio ambiente é mais direta e preocupante do que muita gente imagina. Segundo ele, o maior gargalo e desafio do setor está no resfriamento.

“Os data centers consomem água principalmente para resfriar os servidores, que dissipam muito calor”, explica Moura. Isso pode acontecer de duas formas: com o uso direto de água em sistemas de Liquid Cooling, ou indiretamente, por meio de sistemas de resfriamento a ar alimentados por água, conhecidos como chillers.

O cenário se agrava com a inteligência artificial generativa, que exige milhares de GPUs (do inglês Graphics Processing Unit, ou Unidade de Processamento Gráfico) funcionando simultaneamente durante os treinamentos de modelos. “A IA não consome água diretamente, mas os data centers que a sustentam acabam consumindo indiretamente. E muito”, ressalta o especialista.

Os riscos de levar data centers para a Amazônia

Com os incentivos prometidos pelo governo brasileiro, como a isenção fiscal anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a instalação de data centers na Amazônia virou uma possibilidade real e polêmica.

Segundo Moura, os impactos são duplos. “De um lado, há geração de empregos durante a construção e na fase de operação e manutenção. De outro, o clima quente e úmido da região aumenta drasticamente o custo de resfriamento, além de haver pouca infraestrutura de energia e conectividade”, avalia Moura.

A logística também seria um obstáculo. “Boa parte dos insumos viria do Sudeste, o que eleva ainda mais os custos e o impacto ambiental indireto”, completa.

Saída sustentável

Apesar dos desafios, o especialista acredita que a tecnologia pode fazer parte da solução. “A busca hoje é por energia limpa, reaproveitamento do calor gerado pelos servidores e uso de água reciclada para resfriamento”, aponta.

Ele também destaca o avanço de tecnologias como o resfriamento por imersão líquida, que consome menos recursos e aumenta a eficiência energética. “Os grandes players já buscam certificações ambientais justamente para se diferenciar no mercado, que está cada vez mais competitivo”, diz.

A corrida por infraestrutura digital segue, mas com um alerta: sem planejamento e responsabilidade ambiental, o Brasil pode transformar sua vantagem em tragédia ecológica.

Veja quais são os maiores data centers do mundo:

  • China Telecom – Inner Mongolia Information Park (Hohhot, China);
  • The Citadel Campus – Switch (Reno/Tahoe, Nevada, EUA);
  • China Mobile Data Center (Hohhot, China);
  • Kolos Data Centre (Ballangen, Noruega) – com fontes 100% renováveis;
  • Range International Information Group (Langfang, China);
  • Utah Data Center (NSA, EUA);
  • Google Data Center (Council Bluffs, Iowa, EUA);
  • Yotta NM1 (Panvel, Índia);
  • Project Rainier (Amazon – Virginia): gigante ainda em construção, é o maior investimento da história da Amazon em data centers, com foco Inteligência Artificial e AWS Cloud;
  • Stargate (OpenAI / Oracle / SoftBank – Texas): um dos maiores projetos de IA do mundo, prevê até 20 edifícios. Terá energia solar, baterias e talvez até reatores nucleares pequenos no futuro;
  • Data City (Texas – New Era Helium / Sharon AI): campus ainda em fase inicial, mas com foco em ser um polo de IA no interior do Texas, perto do Permian Basin;
  • xAI / Colossus (Elon Musk – Atlanta / Memphis): projeto da empresa de IA do Elon Musk. Era uma fábrica desativada em Memphis e agora expande para Atlanta.

Entenda como os data centers consomem recursos regionais

Os data centers consomem uma quantidade significativa de recursos naturais para manter seus servidores resfriados e em funcionamento. Dessa forma, consomem muita água para resfriar esses sistemas, especialmente em locais com clima quente – como o Brasil e demais locais próximos aos trópicos, por exemplo.

Essa água é usada para dissipar o calor gerado pelos equipamentos, muitas vezes em volumes que podem chegar a milhões de litros por dia. Isso pressiona o abastecimento local, podendo competir com o consumo da população e de outros setores da economia, além de gerar preocupações ambientais, especialmente em regiões que já enfrentam escassez hídrica.

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