A crescente onda de inovação tecnológica na China tem mudado a percepção de investidores estrangeiros sobre o potencial de crescimento do país. Com empresas do setor tecnológico dominando os mercados acionários e acumulando ganhos expressivos, a aposta internacional em ativos chineses ganha novo fôlego.
O banco Goldman Sachs, por exemplo, divulgou neste mês a lista das “10 Proeminentes da China”, em alusão às “Sete Magníficas” do mercado dos EUA. A seleção inclui gigantes como Tencent, Alibaba, Xiaomi, BYD, Meituan e Hengrui. Segundo o banco, essas companhias sintetizam os principais vetores de crescimento da economia chinesa atual: inteligência artificial, autossuficiência tecnológica, expansão global, serviços e novas formas de consumo.
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Analistas apontam que essa guinada ocorre após anos de ceticismo sobre o “auge da China”. Agora, com a emergência de empresas de tecnologia de ponta, observadores de Wall Street estão revisando projeções e reconhecendo o papel central da inovação no novo ciclo de expansão do país.
Reflexo disso é a recente inclusão de cinco ações chinesas — entre elas VeriSilicon, Baili-Pharm e APT Medical — no índice MSCI China, destacando o protagonismo dos setores de tecnologia e biotecnologia. No mesmo movimento, bancos como JP Morgan e o próprio Goldman Sachs elevaram suas estimativas de crescimento para a economia chinesa, citando o avanço da IA liderado por empresas como a DeepSeek.
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O entusiasmo se traduz em números. Até 29 de maio, o índice Hang Seng Tech subiu mais de 40% em relação ao ano anterior, superando os principais benchmarks globais. Das dez ações mais negociadas na bolsa de Hong Kong, sete pertencem ao setor de tecnologia — com destaque para Tencent, Alibaba e Xiaomi.
A força por trás desse desempenho está na consolidação de um ecossistema tecnológico robusto.
“A China está avançando de inovações isoladas para integrações sistêmicas”, afirmou Wu Qing, chefe da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários, durante um fórum em Xangai.
Segundo ele, muitos setores estão vivendo o que chamou de “momento DeepSeek”, com startups surgindo já com alcance global.
Empresas como DeepSeek e Huawei, embora não listadas em bolsa, são apontadas como protagonistas dessa transformação. Fora do radar da bolsa, a China já conta com mais de 400 unicórnios — quase um terço do total mundial.
Dados do Departamento Nacional de Estatísticas corroboram esse cenário. A manufatura de alta tecnologia cresceu 8,6% em maio, superando o ritmo médio da indústria. Segmentos como impressão 3D, robótica industrial e veículos de nova energia registraram aumentos de produção superiores a 30%.
A Morgan Stanley também apontou que a China caminha para se tornar não apenas o maior mercado global, mas o principal polo de inovação do planeta. “O apoio nacional à IA incorporada pode ser maior aqui do que em qualquer outro lugar”, destacou Zhong Sheng, chefe de pesquisa industrial do banco.
A demanda internacional por tecnologia chinesa segue aquecida. Durante promoções em março, a AliExpress reportou aumento de 600% nas vendas de óculos de realidade aumentada (AR/VR), com destaque para marcas como XREAL e Rokid. “Quase 70% da nossa receita em 2024 veio das vendas internacionais”, revelou Zhang Longjie, diretor da XREAL.
Mesmo com as incertezas econômicas globais, as exportações chinesas de produtos de alta tecnologia cresceram 6,1% nos cinco primeiros meses de 2025, segundo a Administração Geral das Alfândegas — confirmando a resiliência e o apelo global do setor de inovação do país.
A lista do Goldman Sachs
Em um movimento que reacende o otimismo sobre o setor privado da China, o Goldman Sachs apresentou no último dia 17 de junho a lista das “10 Proeminentes da China” — um grupo de empresas com potencial para repetir o desempenho das “Sete Magníficas” dos EUA.
O banco aposta que essas gigantes chinesas, atuando nos setores de tecnologia, consumo e inovação, liderarão uma nova fase de valorização do mercado acionário chinês.
Com lucros projetados para crescer 13% ao ano até 2027, apoio estatal renovado e papel estratégico na expansão global da China, o grupo reforça a percepção de que a tecnologia continuará sendo o principal motor do crescimento econômico do país asiático.
As 10 Proeminentes da China
- Tencent (internet e games)
- Alibaba (e-commerce)
- Xiaomi (smartphones)
- BYD (veículos elétricos)
- Meituan (plataforma digital de consumo)
- NetEase (games)
- Midea (eletrodomésticos)
- Hengrui Medicine (farmacêutica)
- Trip.com (agência de viagens online)
- Anta (vestuário esportivo)
Por que se destacam?
- Crescimento em IA e tecnologia: estão na vanguarda do uso e desenvolvimento de inteligência artificial e novas tecnologias.
- Autossuficiência e alcance global: combinam inovação interna com expansão internacional acelerada.
- Foco em serviços e consumo moderno: atuam em setores alinhados com a nova demanda do consumidor chinês.
- Repartição de lucros: oferecem retornos financeiros mais atrativos aos acionistas — um diferencial relevante.
As grandes empresas privadas chinesas ainda representam cerca de 17% do mercado acionário local — um percentual inferior ao dos EUA (33%) e de países como Alemanha e Coreia (acima de 50%). Isso, segundo o Goldman Sachs, indica espaço significativo para valorização.
O banco ressalta que mudanças recentes na regulamentação, como leis de incentivo ao setor privado e flexibilizações em fusões e aquisições, criam um ambiente mais favorável ao crescimento dessas companhias.
Analistas projetam que essas dez empresas podem registrar crescimento anual de 13% nos lucros nos próximos dois anos, operando com múltiplos de lucro ainda inferiores aos de suas contrapartes ocidentais.