A China registrou, nos cinco primeiros meses de 2025, o maior número de empresas estrangeiras atuando no comércio exterior desde 2020. Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (9) pela Administração Geral de Alfândegas e pelo Ministério do Comércio da China, mais de 73 mil empresas com investimento estrangeiro participaram de atividades de importação e exportação — um marco que evidencia a recuperação do apetite internacional por negócios no país.
O volume comercial combinado dessas companhias atingiu cerca de US$ 725,76 bilhões, o que representa um aumento de 2,3% em relação ao mesmo período de 2024. As empresas estrangeiras responderam por 29% do total das trocas comerciais da China, contribuindo com 0,7 ponto percentual para o crescimento geral do comércio externo no período.
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Os números mostram ainda que o investimento estrangeiro direto (IED) em uso real na China somou US$ 23,87 bilhões entre janeiro e maio. O volume total das importações e exportações chinesas, considerando todos os atores econômicos, chegou a aproximadamente US$ 2,5 trilhões, com crescimento de 2,5% em relação ao ano anterior.
O bom desempenho das empresas estrangeiras teve continuidade no mês de maio, com volume de comércio superior a mais de US$ 154,47 bilhões e alta de 4% na comparação anual — marcando o quarto mês consecutivo de crescimento para o setor.
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Governo chinês destaca confiança internacional
Durante coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China realizada nesta terça-feira (10), o porta-voz Lin Jian afirmou que os dados demonstram a confiança contínua das multinacionais no mercado chinês, mesmo diante de um cenário geopolítico global conturbado.
“O fato de mais empresas estrangeiras estarem apostando na China diz muito sobre a estabilidade e a previsibilidade que o desenvolvimento de alta qualidade e a abertura do país oferecem — e sobre o quanto isso é valorizado pelo resto do mundo”, declarou Lin.
Ele também relacionou o avanço à estratégia do governo chinês para fortalecer o ambiente de negócios, especialmente por meio do Plano de Ação 2025 para Estabilização do Investimento Estrangeiro, lançado no início do ano. A iniciativa estabelece 20 medidas em quatro eixos principais: abertura institucional, promoção de investimento, reinvestimento de lucros e ampliação de acesso setorial.
Entre as ações já implementadas, está a revisão e ampliação do Catálogo de Indústrias Incentivadas ao Investimento Estrangeiro, que passou a incluir setores como manufatura avançada, economia digital, inteligência artificial, biotecnologia, veículos elétricos, turismo, educação e cuidados com idosos.
“Esses novos incentivos abrangem áreas de fronteira e refletem o compromisso da China com uma economia cada vez mais moderna, verde e baseada em inovação”, destacou Lin Jian.
Nova força produtiva e papel global da China
O porta-voz também mencionou que a economia chinesa está impulsionando uma nova etapa de crescimento baseada nas chamadas "novas forças produtivas de qualidade", com foco em alta tecnologia, sustentabilidade e reorganização das cadeias produtivas. De acordo com Lin, a China oferece um conjunto único de vantagens competitivas: cadeias industriais integradas, abundância de mão de obra qualificada e um ecossistema de inovação robusto.
“Tudo isso está impulsionando as empresas estrangeiras a investir rapidamente em novas forças produtivas de qualidade e a se integrar ao processo de inovação chinês. Cada vez mais companhias escolhem realizar pesquisa e desenvolvimento no país e lançar seus produtos para o mundo a partir daqui”, afirmou.
Ao final da coletiva, Lin reforçou o compromisso do governo com a criação de um ambiente de negócios transparente, previsível e equitativo.
“Acolhemos mais empresas estrangeiras a virem à China com uma visão global, alcançando resultados de ganha-ganha e ganhos mútuos, à medida que o país busca liberar novas forças produtivas de qualidade”, concluiu.
Conheça o ambicioso plano chinês para atrair e manter investimento estrangeiro
Aprovado pelo Conselho de Estado da China no dia 19 de fevereiro deste ano, o Plano de Ação 2025 para Estabilização do Investimento Estrangeiro estabelece um conjunto de 20 medidas-chave, divididas em quatro eixos estratégicos, com implementação prevista até o final do ano. O objetivo é reforçar a confiança internacional na economia chinesa, atrair capital de qualidade e manter a posição do país como destino global competitivo para negócios.
Expansão da abertura institucional
Uma das prioridades do plano é a ampliação de programas-piloto em setores historicamente mais restritivos, como telecomunicações, saúde (incluindo biotecnologia e hospitais 100% estrangeiros) e educação. Esses projetos contarão com equipes especializadas para acompanhamento direto, buscando acelerar aprovações e assegurar um ambiente mais previsível para o investidor externo.
Outra medida estratégica é a revisão da “lista negativa” de investimento estrangeiro, que limita a participação de empresas internacionais em determinados setores. A nova proposta reduz restrições, especialmente na manufatura de alta tecnologia, promovendo igualdade de condições com empresas nacionais.
Fortalecimento da marca “Invest in China”
O plano prevê também a criação de uma estratégia anual de promoção da marca “Invest in China”, com eventos coordenados pelos governos central e locais. A intenção é reforçar a imagem da China como destino confiável, inovador e aberto ao mundo.
Além disso, o país se compromete a simplificar fusões e aquisições (M&A), facilitar operações internacionais com ações e apoiar investimentos estratégicos em empresas listadas em bolsas chinesas, como parte do esforço de aprofundar a integração financeira.
Incentivos para reinvestimento de lucros
Para garantir a permanência e expansão das empresas já instaladas, o plano contempla iniciativas que incentivem o reinvestimento local de lucros obtidos na China. Uma das novidades é a implementação de um programa-piloto de monitoramento, voltado a acompanhar e facilitar a reinjeção desses recursos em projetos produtivos no país.
Ampliação do acesso financeiro e setorial
O governo chinês permitirá que empresas estrangeiras tenham acesso facilitado a empréstimos domésticos, ampliando sua capacidade de operação no mercado interno. Haverá também incentivos ao investimento estrangeiro em setores como agropecuária, saúde, educação, cultura, turismo e serviços modernos, todos com tratamento regulatório equivalente ao de empresas nacionais.
As zonas-piloto de livre comércio, como a da ilha de Hainan, também serão expandidas e fortalecidas como laboratórios de abertura institucional e polos de atração de capital internacional.
Catálogo ampliado de setores incentivados
Como parte complementar do plano, em dezembro de 2024 o Ministério do Comércio (MOFCOM) e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC) publicaram uma nova versão do Catálogo de Indústrias Incentivadas ao Investimento Estrangeiro, com 1.700 itens listados — número 15% superior à versão anterior de 2022.
Principais áreas contempladas:
- Manufatura de alta performance e automação industrial
- Economia digital, com destaque para inteligência artificial avançada e IA generativa
- Novas energias, veículos elétricos e baterias
- Biotecnologia, equipamentos médicos e setor de saúde
- Indústrias emergentes, como turismo cultural, serviços para idosos, cuidados pet e produção de equipamentos especiais
Benefícios oferecidos:
- Isenção tarifária para importação de equipamentos de uso próprio
- Tratamento preferencial em políticas fundiárias e fiscais
- Redução da alíquota do imposto corporativo para 15% em regiões designadas como prioritárias para o investimento estrangeiro
Impacto esperado: confiança e competitividade
O conjunto de medidas lançado por Pequim busca reverter a desaceleração no ingresso de capital internacional registrada após a pandemia e responder à crescente concorrência de outros mercados asiáticos e emergentes, como Vietnã, Índia e Indonésia.
A aposta da China está em sua capacidade industrial robusta, cadeias produtivas completas, infraestrutura moderna e ambiente regulatório em transformação.
O plano também reforça a intenção do governo de reposicionar o país como líder em setores estratégicos, como tecnologia, sustentabilidade, manufatura inteligente e serviços de alto valor agregado.