CHINA EM FOCO

Tecnologia cerebral criada na China revoluciona o tratamento do autismo

Com uso de inteligência artificial e interface cérebro-computador, inovação chinesa alcança resultados promissores e reacende a esperança de milhares de famílias no mundo inteiro

Com uso de inteligência artificial e interface cérebro-computador, inovação chinesa alcança resultados promissores e reacende a esperança de milhares de famílias no mundo inteiro
Tecnologia cerebral criada na China revoluciona o tratamento do autismo.Com uso de inteligência artificial e interface cérebro-computador, inovação chinesa alcança resultados promissores e reacende a esperança de milhares de famílias no mundo inteiroCréditos: Xinhua
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Uma nova tecnologia chinesa de interface cérebro-computador (BCI) está transformando o tratamento de crianças com transtorno do espectro autista (TEA) e reacendendo a esperança de milhares de famílias dentro e fora do país. 

Desenvolvido pela empresa Chengdu Xinnao Technology, o sistema alia inteligência artificial, neurociência e engenharia para diagnosticar e tratar o autismo de forma não invasiva e de baixo custo.

Na sede da empresa, na província de Sichuan, no sudoeste da China, um menino de cinco anos gargalha ao ver seu personagem favorito acenar em resposta a sinais emitidos por seu cérebro — uma cena comum para muitos, mas considerada um milagre pela família da criança, que veio da província de Gansu. 

O episódio resume o impacto da inovação desenvolvida por Feng Rui, bioengenheiro de 45 anos que fundou a companhia em 2022 com apoio do governo local.

Diagnóstico rápido, preciso e sem desconforto

Xinhua - Feng Rui

O coração da tecnologia é o Quick-20r, um headset com 19 eletrodos flexíveis que mapeiam ondas cerebrais em tempo real, sem necessidade de gel condutor. Através de algoritmos de aprendizado profundo e técnicas de neuroimagem, o sistema identifica biomarcadores específicos do autismo, atingindo 91,67% de precisão diagnóstica.

O dispositivo foi desenvolvido em parceria com pesquisadores da Universidade de Ciência e Tecnologia Eletrônica da China (UESTC).

Além do diagnóstico, a empresa desenvolveu um aparelho de Estimulação Magnética Transcraniana (TMS) que aplica pulsos magnéticos em áreas específicas do cérebro, corrigindo padrões neurais desregulados. 

“É como fazer reparos de precisão em rodovias neurais congestionadas”, explica Feng. “A tecnologia afina a orquestra cerebral, trazendo equilíbrio à atividade neural.”

Mais de duas mil crianças já passaram pelo tratamento, com resultados promissores: alterações observadas na amígdala cerebral e em redes funcionais ligadas à interação social. A empresa também oferece terapias complementares com foco em linguagem, música e habilidades sociais, formando uma abordagem integrada de cuidado.

Da caridade à inovação industrial

Xinhua

A virada na trajetória de Feng aconteceu em 2021, durante um evento beneficente para o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, quando sua equipe ofereceu tratamento gratuito a 30 crianças. Muitas apresentaram melhora significativa antes mesmo de completar o primeiro mês. Mas a gratidão das famílias veio acompanhada de um apelo:

“E depois? O que será dos nossos filhos se o tratamento acabar?”

O episódio motivou Feng a escalar a tecnologia. Fundada em 2022, a Chengdu Xinnao Technology se beneficiou da combinação única de recursos acadêmicos e clínicos da cidade, incluindo a UESTC e o prestigiado Hospital da China Ocidental, da Universidade de Sichuan.

Hoje, o sistema está presente em mais de 30 hospitais em todo o país e foi reconhecido pela Federação Chinesa de Pessoas com Deficiência como caso de destaque em tecnologia assistiva. A taxa de sucesso nos tratamentos gira em torno de 80%, e a empresa já trabalha em versões voltadas ao tratamento de TDAH e depressão.

A próxima fronteira: dados e impacto global

Além dos tratamentos, a empresa constrói o maior banco de dados de redes cerebrais infantis da China, o que pode colocar o país na vanguarda mundial no campo da neurotecnologia pediátrica. Os dispositivos da empresa já foram apresentados em eventos de inovação ao lado de gigantes da tecnologia, e Feng acredita que as interfaces cérebro-computador terão impacto também em educação e cidades inteligentes.

Por ora, o foco segue nas crianças com autismo — e os resultados já emocionam.

Entre os casos mais marcantes, Feng cita um menino sueco que falou sua primeira palavra ("mamãe") após completar o tratamento, um garoto japonês que deixou de depender de sedativos para dormir e uma menina chinesa, antes considerada “intocável”, que agora faz amigos na escola primária.

“Cada cérebro tem uma arquitetura única. Mas amor e paciência sempre abrem caminhos para conectar mentes”, resume Feng.

Com informações da Xinhua

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