As equipes econômicas e comerciais da China e dos Estados Unidos realizaram, entre os dias 9 e 10 de junho, em Londres, a primeira reunião do novo mecanismo de consultas bilaterais sobre comércio e economia. O encontro marcou um avanço nas negociações entre as duas maiores economias do mundo.
Durante entrevista coletiva do Ministério do Comércio da China nesta quinta-feira (12), o porta-voz He Yadong confirmou que as delegações chegaram a um consenso de princípio sobre a implementação dos acordos estabelecidos na conversa telefônica entre os presidentes Xi Jinping e Donald Trump, ocorrida em 5 de junho.
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Segundo He, as partes também definiram um marco de medidas concretas para consolidar os resultados das conversas econômicas realizadas anteriormente em Genebra, avançando na resolução de preocupações comerciais mútuas.
“Na próxima etapa, os dois países vão continuar utilizando o mecanismo de consultas de forma eficaz, mantendo o diálogo contínuo, ampliando consensos, reduzindo mal-entendidos e fortalecendo a cooperação. O objetivo é promover uma relação econômica e comercial estável e duradoura entre China e Estados Unidos”, afirmou o porta-voz.
Exportações de terras raras: China promete responsabilidade
Ao ser questionado sobre a exportação de terras raras, insumos estratégicos para diversas indústrias tecnológicas, He Yadong afirmou que a China age como um país responsável. De acordo com ele, o governo chinês leva em consideração as necessidades legítimas de uso civil desses materiais por outros países e avalia os pedidos com base nas leis e regulamentos em vigor.
Ele confirmou que alguns pedidos já foram aprovados e que o processo de análise continuará com reforço nos critérios de conformidade e transparência.
Tarifas: China reforça posição contra medidas unilaterais
Em relação às tarifas, He reiterou que a posição da China permanece firme contra aumentos unilaterais e apelou para que os Estados Unidos respeitem as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O porta-voz defendeu que a cooperação entre os dois países seja pautada pelos princípios de respeito mútuo, convivência pacífica e benefícios compartilhados, reforçando a importância de preservar a estabilidade das relações comerciais globais.
Trump anuncia acordo pelas redes sociais
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, utilizou sua própria rede social, a Truth Social, para anunciar o fechamento do novo acordo comercial com a China. A postagem, feita na noite de quarta-feira (11), foi escrita em letras maiúsculas e antecedeu qualquer comunicado oficial conjunto.
“NOSSO ACORDO COM A CHINA ESTÁ FECHADO, sujeito à aprovação final entre o presidente XI e eu. Ímãs completos e quaisquer terras raras necessárias serão fornecidos, antecipadamente, pela China. Da mesma forma, forneceremos à China o que foi acordado, incluindo estudantes chineses frequentando nossas faculdades e universidades (o que sempre foi bom para mim!). Estamos obtendo um total de 55% em tarifas; a China está obtendo 10%. O relacionamento é excelente! Obrigado por sua atenção a este assunto!”, escreveu Trump.
Pouco depois, o presidente publicou uma segunda mensagem, reforçando a parceria com Pequim:
“Complementando o comunicado da China, o presidente XI e eu vamos trabalhar juntos de forma próxima para abrir a China ao comércio americano. Isso seria uma grande VITÓRIA para ambos os países!!!”, concluiu.
Apesar da empolgação de Trump, a oficialização dos termos do acordo ainda depende da aprovação formal por parte do governo chinês. O comunicado do Ministério do Comércio da China confirmou que houve avanços nas negociações, mas utilizou linguagem mais cautelosa, destacando apenas um "consenso de princípio" sobre medidas econômicas bilaterais.
Contraste entre anúncios evidencia estilos distintos de China e Trump
As declarações sobre o recente avanço nas relações comerciais entre China e Estados Unidos evidenciaram não apenas divergências no conteúdo revelado, mas sobretudo estilos opostos de comunicação e estratégias políticas distintas.
De um lado, Trump usou a própria rede social para anunciar, em letras maiúsculas e tom triunfalista, que “o acordo com a China está fechado”. De outro, o governo chinês adotou uma abordagem cautelosa e protocolar, frisando que o entendimento é preliminar e que o diálogo bilateral seguirá em curso.
No anúncio de Trump, ele afirmou que “ímãs completos e quaisquer terras raras necessárias serão fornecidos pela China”, e que estudantes chineses continuariam a frequentar universidades americanas — algo que, segundo ele, “sempre foi bom”.
O presidente também destacou um suposto desequilíbrio tarifário vantajoso para os EUA: “Estamos obtendo um total de 55% em tarifas, a China está obtendo 10%”. A mensagem foi apresentada como uma vitória pessoal, típica de sua retórica de campanha.
Já o comunicado oficial do governo chinês informou que os dois países chegaram a um “consenso de princípio” sobre a implementação dos entendimentos firmados entre os presidentes durante uma conversa telefônica em 5 de junho.
O anúncio de Pequim evitou mencionar porcentagens, prazos ou compromissos específicos, preferindo destacar o fortalecimento do mecanismo de consultas econômicas, o respeito às regras da OMC e a disposição para o diálogo construtivo.
A discrepância entre os anúncios reflete abordagens estratégicas distintas. Trump buscou capitalizar politicamente o avanço das negociações, projetando uma imagem de força e controle, com foco na opinião pública interna. Já Pequim preferiu preservar margem de manobra, mantendo uma retórica diplomática, institucional e cautelosa — uma forma de evitar pressões externas e internas até que os termos estejam formalmente consolidados.
O descompasso revela não apenas diferenças de estilo político, mas também expectativas contrastantes sobre como comunicar progressos em negociações internacionais sensíveis. Enquanto Trump aposta na visibilidade imediata e na personalização dos feitos, a China opta por discrição e prudência, reforçando seu compromisso com a estabilidade e o multilateralismo.