CHINA EM FOCO

Israel x Irã: China se posiciona sobre a tensão no Oriente Médio

Pequim acompanha de perto o agravamento da situação e pondera que não serve aos interesses de ninguém; entenda as relações sino-iranianas

Pequim acompanha de perto o agravamento da situação e pondera que não serve aos interesses de ninguém
Israel x Irã: China se posiciona sobre a tensão no Oriente Médio.Pequim acompanha de perto o agravamento da situação e pondera que não serve aos interesses de ninguémCréditos: Fotomontagem (Canva)
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Israel lançou ataques aéreos contra o Irã na madrugada desta sexta-feira (13), como parte da chamada Operação Leão em Ascensão. Segundo autoridades iranianas, ao menos 78 pessoas morreram e 329 ficaram feridas, incluindo civis, altos comandantes militares e cientistas ligados ao programa nuclear do país.

Durante entrevista coletiva do Ministério das Relações Exteriores da China, realizada nesta sexta-feira, o porta-voz Lin Jian afirmou que Pequim acompanha com profunda preocupação os ataques israelenses e advertiu sobre os possíveis desdobramentos graves da operação.

Lin reforçou que a China se opõe a quaisquer ações que violem a soberania, a segurança ou a integridade territorial do Irã, bem como a medidas que ampliem os conflitos ou agravem as tensões na região.

“O repentino agravamento da situação não atende aos interesses de ninguém. A China conclama todas as partes a adotarem medidas que favoreçam a paz e a estabilidade regionais e a evitarem uma nova escalada. Estamos dispostos a desempenhar um papel construtivo para ajudar a aliviar a situação”, declarou.

Questionado sobre uma possível retaliação iraniana por meio do bloqueio do Estreito de Ormuz, Lin limitou-se a responder: “Não respondo a perguntas hipotéticas.”

Logo após a ofensiva, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou a ação como uma medida preventiva, alegando que os bombardeios foram necessários para impedir o avanço do Irã rumo à obtenção de armas nucleares e para garantir a segurança de Israel.

Em resposta, o líder supremo iraniano, Aiatolá Seyyed Ali Khamenei, declarou que o regime sionista deve esperar um castigo severo. Horas depois, o Irã lançou mais de 100 drones Shahed contra o território israelense, dando início a uma escalada militar sem precedentes entre os dois países.

Relações comerciais entre China e Irã

Xinhua - Delegações da China e do Irã em Kazan, na Rússia, em outubro de 2024.

Apesar das sanções internacionais e da crescente instabilidade no Oriente Médio, o comércio entre China e Irã segue em franca expansão. A China é hoje o principal parceiro comercial do Irã, com destaque para a crescente importação de petróleo e o fortalecimento do intercâmbio não petrolífero.

Em 2023, o volume de comércio bilateral foi de aproximadamente US$ 32 bilhões, embora isso representasse apenas 0,3% das exportações totais chinesas. Em 2024, segundo dados oficiais da China Customs, o comércio bilateral no primeiro trimestre já somava US$ 4,2 bilhões, com US$ 2,7 bilhões em exportações chinesas para o Irã e US$ 1,2 bilhão em importações — alta de 10% em relação ao mesmo período do ano anterior.

No ano fiscal iraniano encerrado em março de 2025, o comércio não petrolífero entre os dois países atingiu US$ 34,1 bilhões, dos quais US$ 19,3 bilhões foram exportações chinesas e US$ 14,8 bilhões exportações iranianas.

A maior parte desse intercâmbio é composta pela importação de petróleo iraniano, que atingiu níveis recordes em 2024. Estima-se que a China importou, ao longo do ano, cerca de 1,6 milhão de barris por dia, o que representou aproximadamente 91% de todas as exportações de petróleo do Irã.

Em março deste ano, o petróleo iraniano correspondeu a 13% das importações totais de petróleo bruto da China, consolidando o país como fornecedor estratégico de energia para Pequim. O Irã também exporta gás natural para a China, enquanto importa aproximadamente US$ 10 bilhões em bens manufaturados, como veículos, maquinário e eletrônicos.

Cooperação Estratégica

Em março de 2021, China e Irã firmaram um Programa de Cooperação Estratégica de 25 anos, que prevê grandes investimentos chineses — estimados em até US$ 400 bilhões — nos setores de infraestrutura, energia, transporte e indústria. O acordo também inclui projetos associados à Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative) e ao desenvolvimento de portos estratégicos iranianos.

No plano militar, as relações se mantêm cautelosas, mas ativas: desde os anos 1980, a China transferiu armamentos e tecnologias militares para o Irã, incluindo mísseis, tanques e sistemas de defesa. O acordo de 2021 prevê cooperação militar limitada, com destaque para exercícios navais conjuntos no Golfo de Omã, realizados em parceria com a Rússia.

As relações diplomáticas formais entre os dois países remontam a 1937, mas os laços históricos são muito mais antigos, datando da antiga Rota da Seda. O fortalecimento moderno da relação sino-iraniana ganhou fôlego após a Revolução Iraniana (1979) e a Guerra Irã-Iraque (1980–1988), com aprofundamento político e cultural a partir dos anos 1990.

Para a China, a aliança com Teerã funciona como contrapeso à influência dos Estados Unidos no Oriente Médio, além de garantir acesso seguro e estratégico a fontes de energia e rotas comerciais. Para o Irã, a parceria com Pequim é um canal fundamental para driblar as sanções ocidentais, utilizando mecanismos financeiros alternativos, refinarias independentes ("teapots") e até uma “frota fantasma” para escoar petróleo de forma discreta.

Essa aproximação geoestratégica tem gerado preocupações no Ocidente, resultando em sanções direcionadas a empresas e indivíduos chineses envolvidos com o comércio e transporte de petróleo iraniano. Ainda assim, os números demonstram que a cooperação entre os dois países continua firme — e em crescimento.

Xi Jinping e Pezeshkian: alinhamento no BRICS e defesa da ordem multipolar

Xinhua - Xi Jinping e Masoud Pezeshkian na Rússia em outubro de 2024.

No dia 23 de outubro de 2024, o presidente chinês, Xi Jinping, se reuniu com o então recém-eleito presidente iraniano Masoud Pezeshkian, à margem da 16ª Cúpula do BRICS, realizada em Kazan, na Rússia.

Durante o encontro, Xi reafirmou que a China manterá, de forma inabalável, a cooperação amistosa com o Irã, independentemente das transformações internacionais e regionais. Segundo ele, o Irã é um país com significativa influência regional e internacional, e um parceiro estratégico e confiável de Pequim.

Xi declarou que a China apoia o Irã na defesa de sua soberania, segurança e dignidade nacional, bem como no desenvolvimento econômico e social interno, e nas relações diplomáticas com países vizinhos. Também expressou interesse em ampliar a parceria estratégica abrangente em áreas como infraestrutura, energia e tecnologia.

Além disso, Xi deu as boas-vindas à participação plena do Irã no BRICS, afirmando que a China pretende ampliar a voz do Sul Global em fóruns internacionais e trabalhar por uma ordem mundial mais justa e multipolar.

Pezeshkian, por sua vez, classificou a China como o parceiro mais importante do Irã e declarou interesse em implementar o plano de cooperação bilateral, com foco em energia limpa, conectividade e investimentos em infraestrutura. Também agradeceu o apoio chinês à entrada do Irã no BRICS e reiterou o compromisso de resistir, junto à China, contra a hegemonia e o bullying internacional.

Na ocasião, os dois líderes também discutiram a instabilidade no Oriente Médio. Xi expressou profunda preocupação com o conflito em Gaza, defendendo um cessar-fogo imediato e a implementação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU para conter a escalada regional.

 

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