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Esta é a receita mais antiga da história

Procurando algo diferente para comer hoje? Que tal uma receita de 4 mil anos de idade?

Escrito em História el
Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Esta é a receita mais antiga da história
Receita para a alta classe mesopotâmia. Reprodução de frame/Canal Cozinha dos Tronos

Quando falamos de culinária ancestral, logo pensamos em pratos tradicionais passados oralmente por gerações. Mas e se te disséssemos que existe um verdadeiro livro de receitas com mais de 4.000 anos?

A cozinha da antiga Mesopotâmia

Inscrições em acadiano
(foto: wikipédia)

No território que hoje corresponde ao Iraque, floresceu uma das civilizações mais antigas da humanidade: a Mesopotâmia. Entre os sumérios, acádios, babilônios e assírios, a escrita cuneiforme era usada em tábuas de argila para registrar desde leis e mitos até... receitas de comida.

Arqueólogos descobriram tábuas de argila datadas de cerca de 2.000 a.C., escritas em acádio, contendo diversas receitas culinárias. Elas foram encontradas em sítios arqueológicos como a antiga cidade de Babilônia e estão hoje preservadas em museus como o Yale Babylonian Collection.

Entre essas receitas, uma se destaca como a mais antiga já registrada da história: o guisado babilônico de borrego (cordeiro).

A receita do guisado babilônico de borrego

As instruções são fragmentadas, muitas vezes sem medidas exatas ou tempos de cozimento (afinal, esperava-se que os cozinheiros já soubessem o básico). Ainda assim, a receita nos dá uma imagem saborosa da culinária palaciana da época.

Ingredientes mencionados:

  • Carne de cordeiro
     
  • Cebola
     
  • Alho
     
  • Alho-poró
     
  • Cebolinha
     
  • Ervas aromáticas (possivelmente coentro, cominho, ou hortelã)
     
  • Caldo (à base de água e gordura animal)
     
  • Pão ou farinha para engrossar
     
  • Leite ou cerveja (em algumas variações)
     
  • Sal e especiarias locais
Ovelhas, o ingrediente principal do guisado
(foto: domínio público)

Modo de preparo (reconstruído por historiadores da culinária):

  1. A carne de cordeiro era cortada em pedaços e refogada com gordura (possivelmente gordura de ovelha).
     
  2. Adicionavam-se cebola, alho, alho-poró e cebolinha picados.
     
  3. Em seguida, a mistura era coberta com água e cozida lentamente até formar um caldo espesso.
     
  4. Ervas aromáticas e temperos locais eram adicionados no final, junto com pão esmigalhado ou farinha, para engrossar o guisado.
     
  5. Em algumas variações, adicionava-se leite ou cerveja para enriquecer o sabor.
     

Um prato da realeza

As tábuas sugerem que essas receitas não eram do dia a dia do povo comum, mas sim da cozinha da elite ou da realeza babilônica. O uso de múltiplos ingredientes aromáticos e o cuidado na preparação indicam um prato sofisticado, preparado por cozinheiros profissionais, talvez em grandes banquetes palacianos.

Além disso, o ato de registrar receitas em escrita cuneiforme mostra que a culinária já era, naquele tempo, considerada um saber digno de ser preservado — não apenas uma necessidade, mas uma arte.

A herança gastronômica da antiguidade

É fascinante pensar que milhares de anos antes dos livros de receitas modernos, food blogs ou programas de culinária, já havia quem se preocupasse em anotar os segredos de uma boa refeição. O guisado babilônico de borrego é mais do que um prato: é um testemunho da sofisticação cultural e sensorial da antiga Mesopotâmia.

Hoje, chefs e historiadores da gastronomia vêm tentando recriar essas receitas com base nas traduções das tábuas. E o mais curioso? Muitos dizem que o sabor é surpreendentemente rico — e ainda muito atual.

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