Irã

O que é um Aiatolá?

Qual o papel de um Aiatolá? Por que ele é o líder supremo do Irã? Entenda

Escrito em História el
Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
O que é um Aiatolá?
Ruhollah Musavi Khomeini. O primeiro Aiatolá do Irã. wikipédia

Com a escalada das tensões entre Irã e Israel, especialmente em meio a conflitos armados e disputas ideológicas, alguns termos específicos da cultura e política iraniana têm ganhado destaque na mídia brasileira. Um deles é "aiatolá" — palavra que muitos ouvem, mas poucos realmente sabem o que significa.

A seguir, você vai entender o que é um aiatolá, de onde vem esse título e qual é o seu papel no Irã moderno.

O significado de “Aiatolá”

A palavra “aiatolá” vem do árabe "ayatullah", que significa literalmente "sinal de Deus". É um título honorífico usado dentro do islamismo xiita, especialmente no Irã, para designar teólogos e estudiosos de altíssimo nível dentro da hierarquia religiosa.

Esse título indica que a pessoa tem autoridade suficiente para emitir interpretações legais e religiosas (fatwas), ensinar nas escolas religiosas (hawzas) e ser reconhecida como uma referência para a comunidade xiita.

É importante perceber que o título "aiatolá" é utilizado apenas na vertente xiita do islamismo, os sunitas não utilizam desta determinação.

Quem pode se tornar um aiatolá?

Não é qualquer clérigo que recebe esse título. Para ser reconhecido como aiatolá, é preciso:

  • Estudar por décadas a teologia islâmica xiita.
     
  • Demonstrar profundo conhecimento em jurisprudência islâmica (fiqh), filosofia, lógica e o Alcorão.
     
  • Obter reconhecimento público e acadêmico de outros grandes estudiosos.
     
  • Ser mestre em uma hawza (escola religiosa), normalmente localizada em cidades como Qom (Irã) ou Najaf (Iraque).
     

Acima dos aiatolás existe um título ainda mais elevado: o de "aiatolá al-uzma" (grande sinal de Deus), concedido apenas a algumas das maiores autoridades espirituais do mundo xiita, como foi o caso do aiatolá Ruhollah Khomeini, líder da Revolução Islâmica de 1979.

O papel político e espiritual no Irã

Desde a Revolução de 1979, o Irã passou a ser uma República Islâmica, ou seja, uma teocracia onde a lei religiosa (sharia) é a base do sistema jurídico e político. A partir de então, os aiatolás — especialmente os mais influentes — passaram a ter grande poder não apenas espiritual, mas também político.

Ali Khamenei, o atual aiatolá do Irã
(foto: wikipédia)

O Líder Supremo do Irã, posição mais alta do país (acima até do presidente), deve obrigatoriamente ser um aiatolá de alto escalão. Hoje, esse cargo é ocupado pelo aiatolá Ali Khamenei, sucessor de Khomeini.

Ele tem autoridade final sobre:

  • As Forças Armadas
     
  • Política externa
     
  • Indicações para o Judiciário
     
  • Controle sobre a mídia estatal
     
  • E até a validação das eleições

Embora o Irã seja o país onde os aiatolás têm mais influência institucionalizada, existem aiatolás em outros países com comunidades xiitas, como o Iraque, Líbano e Bahrein. Um dos mais conhecidos fora do Irã é o grande aiatolá Ali al-Sistani, que reside em Najaf, no Iraque.

Por que esse título ganha destaque em tempos de conflito?

Em momentos de tensão, como os atuais confrontos entre Irã e Israel, os discursos e decisões dos aiatolás — especialmente o líder supremo — têm impacto direto sobre as ações militares, alianças estratégicas (como com o Hezbollah no Líbano ou milícias no Iraque e Síria) e a resposta diplomática do Irã no cenário internacional.

Portanto, entender quem são os aiatolás e o que representam ajuda a compreender melhor os bastidores políticos e religiosos do Oriente Médio.

 

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