Grécia

Alexandre da Grécia: a história da morte bizarra do monarca grego que nem rei queria ser

Se não fosse trágico seria cômico: como o jovem rei grego morreu passeando em seu palácio

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Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Alexandre da Grécia: a história da morte bizarra do monarca grego que nem rei queria ser
Rei Alexandre I. Alexandre foi rei em um dos momentos mais caóticos da história da Grécia. Wikimedia Communs

Quando pensamos na Grécia, é natural que a mente vá direto à Antiguidade: filósofos, templos, deuses e batalhas lendárias. Raramente lembramos que, entre as ruínas clássicas e as cúpulas das igrejas ortodoxas, a Grécia também teve sua cota de dramas reais — literalmente. Um dos episódios mais peculiares e trágicos aconteceu no início do século XX, envolvendo um jovem monarca que governou contra a própria vontade, casou-se com quem não devia (segundo os padrões da época) e morreu de uma forma, no mínimo, absurda.

Essa é a história de Alexandre I, o rei que a Grécia não queria — e que o destino levou cedo demais.

O rei por acidente

Alexandre I subiu ao trono da Grécia em 1917, em plena Primeira Guerra Mundial, em circunstâncias políticas altamente turbulentas. Seu pai, Constantino I, foi forçado ao exílio pelos Aliados, que não confiavam em sua simpatia pela Alemanha (país de origem de sua esposa, Sofia, irmã do kaiser Guilherme II).

Mas ao invés de abolir a monarquia, os líderes aliados e o primeiro-ministro grego Elefthérios Venizélos decidiram manter a coroa — apenas em uma nova cabeça. Como o irmão mais velho de Alexandre havia renunciado, ele foi escolhido como uma figura neutra e facilmente manipulável. Assim, com apenas 23 anos, Alexandre tornou-se rei. Na prática, porém, era um rei-fantoche, sem poder real.

Amor e escândalo: um casamento proibido

Em meio ao caos político, Alexandre encontrou consolo no amor. Ele se apaixonou por Aspasia Manos, uma mulher comum da sociedade ateniense — o que, à época, representava um escândalo sem precedentes. A tradição exigia que um rei se casasse com alguém de sangue real ou nobreza reconhecida.

Ignorando as convenções, Alexandre casou-se secretamente com Aspasia em 1919. A notícia, quando veio à tona, gerou indignação tanto na corte quanto entre os aliados estrangeiros. O casamento foi inicialmente considerado ilegítimo e só mais tarde Aspasia foi reconhecida como princesa.

Alexandre I com sua esposa Aspasia  Manos
(foto: wikimedia commons)

A morte absurda de um rei

A morte do rei Alexandre I é uma das mais bizarras da história moderna europeia — não apenas pela maneira como ocorreu, mas pelas consequências políticas inesperadas que se seguiram.

Em 2 de outubro de 1920, o jovem rei estava passeando pelos jardins do Palácio de Tatoi, nos arredores de Atenas. Ele estava acompanhado de seu cão de estimação, quando o animal se envolveu em uma briga com um macaco doméstico, que fazia parte de um grupo de animais mantidos soltos nos terrenos do palácio por funcionários do local.

Ao tentar separar a briga, Alexandre foi atacado por dois macacos: um mordeu sua perna e o outro sua mão. Inicialmente, os ferimentos foram considerados leves, e o incidente foi tratado com pouca urgência. Os médicos do palácio fizeram curativos básicos, mas não houve intervenção cirúrgica imediata nem administração de antibióticos — que ainda estavam em desenvolvimento na época (a penicilina só começou a ser usada efetivamente na década de 1940).

Com o passar dos dias, os ferimentos infeccionaram gravemente. O rei começou a apresentar sintomas de septicemia, uma infecção generalizada no sangue, também conhecida como envenenamento do sangue. Em poucos dias, sua condição piorou drasticamente. Alexandre teve febre alta, delírios, e perdeu a consciência em seus momentos finais.

O drama médico foi agravado pelas disputas políticas que impediam decisões claras: o rei estava isolado politicamente, e muitos dentro do governo não sabiam como agir diante de sua deterioração. Alguns relatos sugerem que médicos estrangeiros foram impedidos de vê-lo, enquanto outros dizem que os profissionais que poderiam salvá-lo chegaram tarde demais.

Alexandre morreu em 25 de outubro de 1920, apenas 23 dias após o ataque. Tinha 27 anos.

Sua morte pegou a nação de surpresa e mergulhou a monarquia em crise. O detalhe trágico — e quase absurdo — de um rei europeu morrer por mordidas de macacos causou tanto escárnio quanto consternação na imprensa da época. Jornais da Europa chamaram o episódio de "morte surreal" e "capricho do destino", enquanto humoristas e caricaturistas exploraram o absurdo da situação.

O jovem rei Alexandre I
(foto: wikimedia commons)

Consequências de uma morte inusitada

A morte de Alexandre mergulhou a Grécia em nova instabilidade. Sem herdeiros diretos (sua filha póstuma nasceu depois de sua morte), abriu-se espaço para o retorno de seu pai, Constantino I, que reassumiu o trono em 1920. No entanto, o país continuaria imerso em crises políticas, militares e sociais nas décadas seguintes.

O historiador britânico Arnold Toynbee chegou a escrever que, se Alexandre não tivesse sido mordido por aquele macaco, talvez a Grécia tivesse evitado a guerra greco-turca e outras tragédias políticas da década de 1920.

O rei esquecido

Alexandre I é, até hoje, uma figura marginalizada na história grega. Um rei sem vontade de ser rei, símbolo de uma monarquia enfraquecida, marcado por um romance controverso e uma morte que beira o cômico — embora tenha causado consequências sérias e duradouras.

A história de Alexandre é também um lembrete de como o acaso, a política e o amor podem se entrelaçar de maneira trágica. Um rei jovem, apaixonado, sem real poder — e vítima de um macaco — permanece como um dos capítulos mais bizarros e fascinantes da história moderna da Grécia.

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