Rebeca Andrade - do hebraico "aquela que ata, que une" -, Bia Souza, Ana Patrícia e Duda, Isaquias Queiroz, Alison dos Santos, Rayssa Leal, todos esses (as) atletas têm em comum, além das medalhas olímpicas conquistadas, o fato de que, para chegar ao pódio, tiveram que superar, além dos adversários esportivos, as barreiras sociais e o racismo estrutural tão presentes, e nefastos, em nossa sociedade.
Essas medalhas têm também o sabor da conquista de cidadania. Em suas trajetórias, esses (as) esportistas tiveram que superar obstáculos talvez mais difíceis do que os enfrentados nos ginásios, tatames, lagoas, pistas e quadras de areia. Não é fácil conseguir romper as amarras da desigualdade brutal, tão presente no dia a dia de nosso país. Isso torna os seus feitos ainda mais relevantes.
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Em toda Olimpíada, de quatro em quatro anos, surgem novos fenômenos e promessas nas várias modalidades esportivas. São sinais de que o Brasil pode ser uma potência esportiva pujante. Não somos mais, apenas, o país do futebol masculino, que, diga-se de passagem, sequer esteve em campo em Paris, ao contrário das meninas, que disputarão o ouro e já garantiram a prata (escrevo antes do jogo).
É preciso ter em mente, no entanto, que não basta apenas o talento inerente desses (as) atletas maravilhosos (as) para que o país galgue degraus no quadro de medalhas olímpicas. Se não houver oportunidades, educação e projetos que estimulem a prática massiva de esportes, assegurando direitos aos atletas e suas famílias, o que no nosso país ainda é exceção para a maioria dos pobres, continuaremos sendo apenas uma bela promessa.
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Daí serem tão fundamentais políticas públicas que garantam a cidadania. Um exemplo que ilustra o quanto ainda temos que caminhar: quase 50% das nossas escolas públicas não têm espaços para práticas esportivas e culturais.
Há exemplos promissores. O Programa "Pé de Meia", do governo federal, que estimula a permanência de jovens no Ensino Médio - onde há enorme evasão – é ótima iniciativa.
Quando há vontade política, a coisa anda! E muitas Rebecas, Bias, Anas, Dudas, Isaquias, Alisson, Rayssas surgirão no esporte, e Marias, Teresas e Joões, na arte, e Josés e Cristinas em todos os campos da vida social.
É possível!
*Chico Alencar é escritor, professor de História e deputado federal eleito pelo PSOL-RJ