TRAGÉDIA

Barbie, um filme sobre a morte e a ruína da modernidade

Longa-metragem sobre a icônica boneca da Mattel entrega o que promete, mas traz outras questões que merecem atenção

Barbie, um filme sobre a morte e a ruína da modernidade.Créditos: Divulgação/Warner Bros
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Nos cinemas há 15 dias, o filme "Barbie" (2023) tem causado um grande furor por uma série de motivos: gerações de mulheres que viveram sob a sombra da icônica boneca e homens que enxergaram no longa-metragem um "panfleto feminista". Vamos lá!

A ideia de que o filme "Barbie" seja um panfleto feminista só pode residir na mente de homens que vivem em profunda insegurança com sua sexualidade e que acreditam que existe "uma guerra cultural" de feministas e LGBT+ "contra os machos". Nada mais fantasioso, e o filme deixa isso bem claro.

Em sentido contrário, o longa dirigido e escrito por Greta Gerwig (Ladybird) cumpre o que promete ao dissecar o papel identitário que a boneca teve ao criar realidades imaginárias e ao explorar diversos tipos de mulheres possíveis, que podemos enquadrar como um papel profundamente colonial que a Barbie desempenhou.

No entanto, o filme da Barbie e a questão de sexo/gênero já foram exaustivamente discutidos. Mas, o longa traz outros pontos que ainda não foram discutidos e merecem a nossa atenção.


A morte e a ruína da modernidade

De maneira debochada, o filme "Barbie" pode ser interpretado como uma crônica sobre a morte e a ruína da modernidade.

Não podemos esquecer que o ponto de partida para a aventura de Barbie Estereotipada (Margot Robbie), que deixa a Barbielândia e adentra o "mundo real", é uma epifania sobre a morte e a finitude.

Ao ser tomada pela sensação de finitude, Barbie Estereotipada passa a enxergar o mundo de maneira diferente: o seu universo, onde as mulheres governam e os homens não passam de enfeites, é invadido pelo tédio e por uma sensação de que algo está profundamente errado.

Dessa maneira, ela recebe a missão de ir ao mundo real para “se consertar” e se livrar dos pensamentos sobre finitude e morte.

Onde estão as mulheres?

Ao deixar a Barbielândia, Barbie Estereotipada descobre que no "mundo real" quem governa são os homens, e às mulheres cabem os papéis de segunda categoria.

Se pensarmos que os valores da modernidade foram construídos em torno da "igualdade, liberdade e fraternidade", Barbie Estereotipada nos mostra que tais parâmetros pouco saíram do papel.

No entanto, ao ser tomada pela sensação de finitude e morte, Barbie Estereotipada não pode mais permanecer na Barbielândia, onde a vida é infinita e as mulheres governam.

Barbie Estereotipada não pode mais permanecer em Barbielândia, pois foi tomada por uma profunda realidade, e seu senso crítico pode contaminar o “mundo perfeito” das bonecas da Mattel.

Ou seja, os valores que nortearam o mundo moderno só existem dentro da Barbielândia, que aqui pode ser refletida como uma grande alegoria sobre a crise dos valores modernos que o mundo vivencia.

Melancolia

Se Barbie Estereotipada serve para nos mostrar que a modernidade e o modelo social que conhecemos estão com os dias contados ou que só existem na Barbielândia, lá está o Ken (Ryan Gosling) para mostrar que os piores modelos políticos estão prontos para serem resgatados e aplicados.

Há uma cena magistral no filme: ao chegar no mundo real, Barbie Estereotipada precisa assimilar o mundo que a cerca. Ela se senta em uma praça e inicia uma espécie de absorção da realidade. Impactada, descobre que as pessoas amam, são felizes, mas que também sofrem e muitas vezes morrem sozinhas.

Não, Barbie Estereotipada não pode mais retornar à Barbielândia, pois foi tomada por “ideias perigosas” como desigualdade, morte e violência.


 

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