Luísa Mahin: Quem foi a heroína brasileira que simboliza resistência negra no país
A história pouco conhecida da mãe do abolicionismo no Brasil
Muito se fala sobre o abolicionista Luís Gama, uma das maiores figuras na luta contra a escravidão no Brasil. Advogado autodidata, escritor e ativista, ele libertou centenas de pessoas escravizadas por meio da Justiça, desafiando as leis e os poderosos de sua época.
Mas o que pouca gente sabe é que por trás desse grande homem, havia uma mulher igualmente notável: Luísa Mahin, sua mãe.
Quem foi Luísa Mahin?
Luísa Mahim foi uma mulher negra, possivelmente de origem africana, nascida na Costa da Mina (atual Gana), e trazida para o Brasil como escravizada. Após conquistar sua alforria, ela viveu em Salvador, na Bahia, no início do século XIX.
Apesar das lacunas nos registros históricos — comuns quando se trata de mulheres negras — Luísa Mahin é descrita por seu próprio filho como inteligente, corajosa, politicamente ativa e profundamente envolvida nas lutas de resistência negra.
Participação nas revoltas negras
Segundo relatos de Luís Gama, Luísa Mahin esteve envolvida nas Revoltas dos Malês (1835), uma das maiores rebeliões de escravizados e libertos muçulmanos da história do Brasil. Embora não haja registros oficiais que comprovem seu papel de liderança, sua atuação é reconhecida por tradições orais e pelas palavras de seu filho, que a descreve como uma "agitadora de levantes".
Ela teria atuado como mensageira e articuladora de revoltas contra o sistema escravagista, utilizando inclusive sua habilidade com o árabe para se comunicar com outros escravizados muçulmanos.
Mãe de um dos maiores abolicionistas do país

(foto: wikipédia)
Luísa Mahin foi também a mãe de Luís Gama, embora os dois tenham sido brutalmente separados quando ele ainda era criança — vendido como escravizado pelo próprio pai, branco, que o criou sem o consentimento da mãe.
Apesar da separação, a herança de luta e dignidade transmitida por Luísa deixou marcas profundas em Luís Gama, que dedicou sua vida à libertação de pessoas negras e à denúncia da escravidão e do racismo.
Luísa Mahin representa milhares de mulheres negras apagadas da história oficial. Sua invisibilização está ligada ao racismo estrutural, ao machismo e à marginalização das narrativas que não pertencem às elites brancas e masculinas do Brasil colonial e imperial.
Felizmente, nos últimos anos, seu nome tem sido recuperado por historiadoras, movimentos negros e iniciativas educacionais que buscam reconhecer o protagonismo das mulheres negras na construção da história brasileira.
Luísa Mahin é mais do que a mãe de um herói. Ela mesma foi uma heroína. Sua luta, mesmo envolta em silêncios e esquecimentos, ecoa até hoje nas batalhas por justiça social, igualdade racial e valorização da memória negra no Brasil.
Conhecer e divulgar sua história é um ato de resistência e reparação.