Análise

Lágrimas de urubu? Não tenho pena, não! Por Paulo Vinícius da Silva

É preciso ampliar a unidade no campo popular para assegurar a Frente Ampla. Sem a luta do povo, os obstáculos são intransponíveis para qualquer governo

Escrito em Opinião el
Diretor de Política Sindical dos bancários de Brasília Sociólogo
Lágrimas de urubu? Não tenho pena, não! Por Paulo Vinícius da Silva
Fachada do Banco Central. Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A 270ª reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) ocorre nos dias 6 e 7 de maio de 2025 e definirá a taxa de juros Selic, acreditem, no patamar de 14,25%, com viés de alta! 

“O Comitê segue avaliando que o cenário-base prospectivo envolve uma desaceleração da atividade econômica, a qual é parte do processo de transmissão de política monetária e elemento necessário para a convergência da inflação à meta”. (Ata da 269° Reunião do Copom.)

Observe: “o cenário-base prospectivo envolve uma desaceleração da atividade econômica, a qual é parte do processo de transmissão de política monetária e elemento necessário para a convergência da inflação à meta”.

Ou seja: o cenário permite ver a desaceleração da atividade econômica, que desacelera graças aos juros da política monetária. E explica: reduzir a atividade econômica é elemento necessário para a inflação entrar na meta.

Então, é assim:

- O Copom atende ao mercado, em defesa do desemprego, por um crescimento menor e contra os salários. Isso não é “Independência”, isso é sabotagem descarada.

- O Congresso pega o dinheiro do governo Lula e não permite que ele execute, sendo o Poder Executivo;

- As estatais seguem sob a cartilha neoliberal, sob as mais diversas pressões, de acionistas privados, de interesses privados, sob duro escrutínio para não cumprirem seu papel fundamental de impulsionar o desenvolvimento e a industrialização do Brasil;

- A imprensa é o primeiro nível de fake news contra o governo. Os grandes veículos de imprensa, no geral, são parte de conglomerados econômicos no Brasil e no exterior, primeiros interessados nos JUROS ALTOS, pois a mesma taxa Selic que remunera o investimento dos mais ricos é a taxa que impactará nos juros cobrados, o custo do crédito, que onera os mais pobres. Por isso, o grande êxito do Real e do capitalismo financeiro, rentista parasitário brasileiro é esse: eles lucram com renda, e nós, trabalhamos.

Estamos sob guerra híbrida, que no campo comunicacional funciona à la gabinete do ódio. As plataformas digitais ocidentais são dos 1% mais ricos, então eles leem o que quiserem sobre nós. Funcionamos dentro da rede "deles". Nenhum estado pode ser soberano hoje sem ter sua própria soberania digital. Não definimos as curtidas, eles definem. E ainda há um terceiro nível, que é o das milícias digitais, sempre associadas a interesses estrangeiros, a exemplo dos Bolsonaro.

- O "mercado" empareda o governo explicitamente para que não distribua renda, não gere empregos, não diminua a desigualdade, não dê os direitos aos trabalhadores, não se reduza a jornada. E o mercado é pouca gente, mesmo. E tá "dominado, tá tudo dominado", de tal modo, que esses possíveis consultáveis do Boletim Focus, tornam isso "ortodoxia", "responsabilidade fiscal". E até o Galípolo aplica. O consenso econômico é de extrema direita antes do seu despontar, em junho de 2013. O fascismo é função do imperialismo e da concentração de capital, da desigualdade. Eles não precisam mais da democracia, eles querem o Coringa na Presidência. É grana. É por isso que o Copom tem a pachorra de dizer que seu papel na luta contra a inflação é jogar água fria na economia, diminuir o surgimento de empregos, não crescer o salário, e assim eles soam como a música de Baiano e os Novos Caetanos (Chico Anísio e Arnaud Rodrigues):

"Urubu tá com raiva do boi

E eu já sei que ele tem razão

É que o urubu tá querendo comer

Mas o boi não quer morrer

Não tem alimentação

O mosquito é engolido pelo sapo

O sapo a cobra lhe devora

Mas o urubu não pode devorar o boi

Todo dia chora, todo dia chora".

Claro que essa elite financeira odeia o Lula. Odeia-nos a todos que trabalhamos, produzimos, fazemos o Brasil. Eles parasitam a economia real e têm lucros imorais que vêm do trabalho e do endividamento do povo. Não podia jamais o Copom virar um ente que, em plena luz do dia, pudesse dizer impunemente que a saída é tirar dos pobres, dar mais aos ricos, essa agenda de horror e morte que eles querem eterna. Precisamos nos insurgir contra esse novo regime colonial de escravização do povo brasileiro. A agenda do Primeiro de Maio ilumina o caminho a seguir: 

- Redução da jornada, sem redução salarial;

- Fim da carestia;

- Isenção do IR até R$ 5 mil;

- Menos juros, mais empregos;

- Igualdade salarial entre homens e mulheres (lei 14.111).

É preciso ampliar a unidade no campo popular para assegurar a Frente Ampla. Sem a luta do povo, os obstáculos são intransponíveis para qualquer governo. O neoliberalismo é a própria forma do capitalismo nessa época. Precisamos de ambas: a unidade ampla de todas as forças sociais que apoiam o governo - sem ilusões - e a mobilização das forças populares em defesa de uma agenda econômica de desenvolvimento, soberania, democracia e emprego, salário, uma vida melhor para todos. 

Lágrimas de urubus não devem nos comover. Muito bem ensina “A Internacional”: 

"Abomináveis na grandeza/ 

Os reis da mina e da fornalha / 

edificaram a riqueza / sobre o suor de quem trabalha. // 

Todo o produto de quem sua/ 

a corja rica o recolheu / 

querendo que ela o restitua/ quer só o que é seu". 

Menos Juros, Mais Empregos! Classe Trabalhadora, vamos nos unir!

 

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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