AMÉRICA DO SUL

Ex-chanceler da Colômbia tentou apoio de Trump para derrubar Petro

Vazamento de áudios expõe plano de Álvaro Leyva para pressionar a saída de Gustavo Petro e colocar a vice-presidenta Francia Márquez no poder

Vazamento de áudios expõe plano de Álvaro Leyva para pressionar a saída de Gustavo Petro e colocar a vice-presidenta Francia Márquez no poder
Ex-chanceler da Colômbia tentou apoio de Trump para derrubar Petro.Vazamento de áudios expõe plano de Álvaro Leyva para pressionar a saída de Gustavo Petro e colocar a vice-presidenta Francia Márquez no poderCréditos: WEF Davos 2025 (divulgação)
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Um escândalo político sacudiu a Colômbia neste fim de semana: áudios revelados pelo El País mostram que o ex-ministro das Relações Exteriores Álvaro Leyva buscou apoio de aliados de Donald Trump nos Estados Unidos para tirar o presidente colombiano Gustavo Petro do cargo.

Petro rompeu o silêncio neste domingo (30) e em longo texto publicado nas redes, disse ter sido alvo de calúnias e traição e detalhou desentendimentos que teriam levado Leyva a conspirar contra ele.

Segundo Petro, Leyva se revoltou após perder influência na chancelaria e tentou transformar o Ministério das Relações Exteriores em um “negócio de família”, tentando emplacar o próprio filho em cargos-chave. O presidente também afirmou que o processo de licitação de passaportes, interrompido por suspeitas de corrupção, foi o estopim para o rompimento.

Petro acusou a chamada “oligarquia” colombiana de perpetuar práticas como traição e acordos de bastidor, mas reforçou que vai insistir em um pacto nacional pela paz — mesmo diante das conspirações. O caso expõe fissuras internas no governo às vésperas das eleições de 2026.

Segundo a investigação, Leyva se reuniu há dois meses com assessores próximos à administração de Trump e tentou envolver figuras de peso do Partido Republicano, como o secretário de Estado Marco Rubio e o deputado Mario Díaz-Balart.

O objetivo era articular uma “pressão internacional” para forçar Petro a deixar a presidência, usando como argumento supostos problemas de dependência química do mandatário.

Nos áudios, Leyva afirma ter provas de que Petro estaria “inapto” para governar e detalha um plano que incluía a participação de grupos armados e empresários, além de uma “grande aliança nacional” para garantir a saída do presidente. A vice-presidenta Francia Márquez seria empossada no lugar.

Serviço secreto interveio e Petro reagiu

As gravações chegaram ao serviço secreto colombiano, que alertou Petro. O presidente escutou o conteúdo em seu gabinete e, publicamente, acusou Leyva de tentar articular um golpe de Estado. Márquez foi chamada a dar explicações: ela negou qualquer participação, mas desde então os dois não se falam mais.

Desde então, a relação entre os dois — que já era tensa por disputas internas de poder — se deteriorou completamente. Na prática, Francia Márquez segue no cargo, mas não mantém mais contato direto com Petro, que hoje só interage com ela por meio de assessores. A distância política entre presidente e vice é considerada sem precedentes na história recente da Colômbia.

Esse ambiente de desconfiança interna alimenta a crise no governo, num momento em que Petro busca manter sua base unida e resistir a pressões externas e internas que se intensificam na reta para as eleições de 2026.

Após o vazamento, Leyva deixou a Colômbia e se refugiou em Madri, alegando motivos de segurança. O plano não avançou, mas o caso revelou rachaduras internas no governo de esquerda de Petro e abriu uma nova crise política às vésperas das eleições presidenciais de 2026.

Como a direita colombiana se conecta historicamente aos EUA

A direita colombiana mantém há décadas uma relação muito próxima com os Estados Unidos — construída em torno de interesses estratégicos comuns: segurança, combate ao narcotráfico e alinhamento geopolítico.

Desde o período da Guerra Fria, a Colômbia foi vista como um aliado-chave de Washington na América do Sul. Enquanto países vizinhos flertavam com governos de esquerda ou movimentos guerrilheiros, a elite conservadora colombiana reforçou a imagem de “parceiro confiável” dos EUA.

Na virada dos anos 2000, o Plano Colômbia, lançado durante os governos de Andrés Pastrana (direita) e Bill Clinton (EUA), consolidou esse laço. O plano injetou bilhões de dólares em ajuda militar e técnica para combater cartéis de drogas e as guerrilhas das FARC, fortalecendo as Forças Armadas e consolidando o papel dos EUA como parceiro indispensável.

O ex-presidente Álvaro Uribe (2002–2010) simboliza essa fase de maior dependência. Ultra-alinhado a Washington, Uribe foi um dos maiores aliados regionais dos EUA na luta contra o narcotráfico e o terrorismo, recebendo apoio militar, recursos e treinamento para enfraquecer as FARC.

Historicamente, políticos conservadores colombianos — como Uribe, Iván Duque (2018–2022) e figuras ligadas ao Centro Democrático — mantêm pontes diretas com alas do Partido Republicano. Muitos buscam apoio de congressistas hispânicos influentes na Flórida, como Marco Rubio, Mario Díaz-Balart e Carlos Giménez, especialmente em momentos de tensões internas ou embates com governos de esquerda.

Com a vitória de Gustavo Petro — o primeiro presidente claramente de esquerda do país — essas pontes da direita com Washington se tornaram ainda mais importantes para setores que buscam conter mudanças estruturais. O caso recente envolvendo Álvaro Leyva mostra que parte dessa elite conservadora continua tentando usar o lobby nos EUA para pressionar ou isolar governos progressistas na Colômbia.

A direita colombiana segue apostando nos laços com Washington como uma espécie de “seguro estratégico” para manter influência interna, bloquear avanços de agendas de esquerda e garantir recursos financeiros e militares — principalmente via republicanos, que veem a Colômbia como peça central para conter regimes bolivarianos na região.

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