Durante o ato convocado por Jair Bolsonaro e aliados neste domingo (29), na Avenida Paulista, em São Paulo, o pastor Silas Malafaia, um dos articuladores do evento, protagonizou um raro momento de franqueza.
Em seu discurso, questionou por que o Senado não abre um processo de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
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Para Malafaia, isso não acontece porque “grande parte da direita é prostituta e vagabunda, que se vende”. O pastor, então, voltou ao discurso de sempre, afirmando que existe uma “direita séria e verdadeira”, mas que muitos parlamentares se aproveitam do cargo para obter vantagens pessoais. “Por isso, na eleição de 2026, nós não podemos errar o voto nos senadores”, afirmou.
O líder religioso, como de costume, também fez duras críticas a Moraes, a quem chamou de “ditador”. Malafaia atacou decisões recentes do ministro, principalmente prisões decretadas no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado envolvendo aliados do ex-presidente.
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Parte do público, alinhada ao discurso, chamou Moraes de “assassino”. O coro começou durante a fala em que Malafaia relembrou o caso de Cleriston da Cunha, conhecido como Clezão, que morreu em novembro de 2023 enquanto estava preso na Papuda.
“Tô vendo a família do Clezão aqui. Tem sangue nas mãos de Alexandre de Moraes. Ditador, tu vai dar conta a Deus. Clezão era membro da minha igreja. Clezão foi assistir o que estava acontecendo, foi preso no bolo, a procuradoria pediu para liberar ele por problemas cardíacos, e o ditador não liberou, e ele morreu. O sangue desse justo clama diante de Deus. Deus vai fazer Justiça”, discursou Malafaia.
Após a fala, parte do público entoou o grito de “assassino” contra Moraes, relator no STF do inquérito sobre uma suposta tentativa de golpe liderada por Bolsonaro.
Malafaia também acusou Moraes de usar decisões judiciais para “desviar a atenção da sociedade brasileira e da imprensa”. Segundo ele, o ministro deveria cancelar a prisão de Mauro Cid — ex-ajudante de ordens de Bolsonaro — e ouvi-lo novamente em depoimento.
Mauro Cid fechou acordo de colaboração premiada com a Justiça, que sustenta parte das investigações sobre articulações golpistas após a eleição de 2022.
Ato flopado
A “micareta golpista” registrou um novo recorde negativo de adesão. Imagens transmitidas até por sites bolsonaristas mostram que os apoiadores presentes não chegaram a ocupar sequer dois quarteirões da avenida.
De acordo com estimativa do Monitor do Debate Político da USP e da ONG More in Common, o ato “Justiça Já” reuniu aproximadamente 12,4 mil pessoas na Paulista, com base em imagens de drones e análise por inteligência artificial feitas às 15h40. A margem de erro é de cerca de 12% (cerca de 1.500 pessoas).
O número representa uma queda drástica em comparação com o protesto anterior, realizado em 6 de abril, que reuniu cerca de 45 mil pessoas no mesmo local. Até o momento, a Polícia Militar de São Paulo não divulgou estimativa oficial de público.
O carro de som, bancado por Malafaia, foi estacionado na esquina da Paulista com a rua Peixoto Gomide, perto do final do Parque Trianon. Mesmo assim, a aglomeração não chegava nem até a frente do Masp, que fica na mesma quadra. No sentido oposto, em direção à Consolação, os bolsonaristas não avançaram até a Alameda Ministro Rocha Azevedo, no quarteirão seguinte.
Entre os apoiadores, chamavam atenção cartazes em inglês, bandeiras de Israel e figuras caricatas. No alto do trio elétrico, Bolsonaro arriscou uma frase em inglês — “Make Brazil Great Again” — depois de o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) ter falado parte de seu discurso no idioma, numa tentativa de mandar recado a Donald Trump.